Jornal Socialista, Democrático e Independente dirigido por Dieter Dellinger, Diogo Sotto Maior e outros colaboradores.
Sábado, 23 de Julho de 2005
O Negócio do Futuro

Para os grandes grupos económicos, incluindo os bancos portugueses, tal como para investidores médios e até, relativamente pequenos, a energia eólica é o negócio do futuro.

Vento haverá sempre e não se tornará mais caro, nem é importado e a técnica das pás evoluiu de tal modo nos últimos anos que a produção de energia eléctrica tornou-se altamente rentável e atingiu proporções inimagináveis há pouco tempo atrás. Além disso, tudo indica que os combustíveis fósseis tendem a tornar-se cada vez mais caros, mesmo que a substituição das centrais térmicas pelas eólicas e hídricas e a redução do consumo no automóvel possam vir ainda a provocar uma queda no preço.

 

Na Alemanha, entrou recentemente em funcionamento uma turbina eólica capaz de dar 5 megawatts de potência, ou seja, o suficiente para alimentar de electricidade 5 mil lares normais. Sustentada por uma torre de 120 metros de altura, o seu diâmetro tem 124 metros; só possível pela utilização de materiais plásticos reforçados e compostos de baixo peso. Um parque de 3 hélices desta dimensão dá para uma cidade de 15 mil habitantes.

A evolução dos moinhos geradores de energia eléctrica passou de um máximo de 50 kW por hélice em 1980 para 500 kW em 1990, 2000 kW em 2000 e 5.000 kW em 2005. Actualmente o investimento cifra-se em 1,1 milhões de euros por megawatt ou por mil lares médios; 1.100 euros por lar. O Expresso Economia dá o número errado de 1.100 euros por megawatt.

O governo vai abrir um concurso para três parques eólicos a totalizar 1.700 megawatts em que poderá concorrer capital estrangeiro, excepto num dos parques destinado exclusivamente a pequenos investidores nacionais. Daria para um milhão e setecentos mil lares, mas Portugal terá ainda de chegar aos 4.100 megawatts para cumprir o Protocolo de Quioto, o que não parece difícil, apesar de passarmos a ver a paisagem salpicada de hélices brancas como vemos já ao longo da A8. Antigamente, aquela paisagem estava salpicada pelas velas dos moinhos de vento dos cereais.

 

Para além da evolução no desenho e no material das pás inspirado na aeronáutica verifica-se ainda uma evolução no sistema de ligação aos alternadores.

Como é sabido, um gerador tem de funcionar a mil rotações por minuto quando uma pá grande nunca chega a isso e daí estar ligada a uma caixa de velocidades automática. Geralmente, um vento médio permite obter 40 rotações por minuto na hélice, mas nos sistemas mais modernos, a engenharia alemã consegue produzir alternadores que produzem uma corrente trifásica a baixas rotações, aumentando o número de pólos electroímanes de 4 para 50 ou mais. Assim, deixa de ser necessária a caixa de velocidades e, como tal prescinde-se de um mecanismo sujeito a manutenção, lubrificação e avarias.

 

Ao longo da costa portuguesa, o regime de ventos é tal que permite ter a hélice em rotação durante mais de 4 mil horas anuais, o que dá um factor de carga superior a 45%. Com a instalação crescente dos parques, o sistema de ventos será mais conhecido e, como tal, mais rentável.

 

Um método simples para verificar o regime de ventos a longo prazo numa cordilheira ou zona costeira é observar o crescimento das árvores. Estas crescem tanto mais e mais depressa quanto menor for o vento na zona. Nas montanhas muito batidas pelo vento só encontramos vegetação rasteira e é aí o local ideal para instalar os parques eólicos.

 

Acrescente-se ainda que o ruído tão perturbador das hélices antigas desapareceu quase completamente por via de uns pequenos truques como a forma redonda da extremidade das pás, o que reduz o turbilhão aéreo associado a vibrações ruidosas. Também o isolamento da célula do gerador elimina o seu ruído, pelo que uma hélice grande já produz apenas 22 decibéis de som a 250 metros de distância, tanto como uma sala de restaurante.

Enfim, não se compreende que a EDP tenha estado a investir no estrangeiro quando tem em Portugal uma verdadeira "mina de ouro"  para explorar e pode vir a ser, ela mesmo, o motor de uma indústria nacional de torres, alternadores e pás. De resto, as pás requerem muita mão-de-obra no acabamento, nomeadamente no polimento final, sendo a construção grosseira automática. Uma indústria portuguesa pode importar as pás sem acabamento da Alemanha e poli-las em Portugal, o que as tornará mais baratas e dá emprego a portugueses, além de que uma empresa como a Efacec pode vir a ser um grande fabricante de alternadores e já se fabricam as torres em Portugal. Seria pois aconselhável que o LNET, o IST e outras Universidades e Institutos Técnicos formassem departamentos eólicos para o estudo das técnicas e dos regimes de ventos e que se fizesse com o Instituto de Meteorologia uma Carta Nacional de Ventos.

 

Os parques eólicos são, sem dúvida, um negócio local que podem ser explorados, mas tudo depende do preço a que a EDP paga a electricidade ou da possibilidade de instalar redes locais que terão de ser abastecidas pela EDP nos dias em que não há vento suficiente.

A partir dos 0,08 euros por kWh acho que o investimento é rentável. Por exemplo, um moinho gigante para 1,5 MWh de média anual numa zona de vento médio anual de 6 m/segundo pode custar 1,8 milhões de euros e produzir durante 3.000 horas asseguradas anualmente, o que dará 360.000 euros, ou seja, um astronómico lucro anual de 20% menos o custo de manutenção que não é muito elevado.

 

O investidor faz um contrato de manutenção com o fornecedor da aparelhagem e não tem se preocupar com mais nada; nem marketing, vendas, modelos, marcas, clientes, etc.

A EDP debita a electricidade a 0,12 euros o kWh, (incluindo as aldrabices chamadas taxas de potência contratada e taxa de exploração, mas sem IVA) o que significa que vai ganhar 0,04 euros por kWh, portanto, 30%.

O negócio é bom para todos e acredito que vai haver muito investidor (e já há) nacional e estrangeiro.



publicado por DD às 23:34
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