Jornal Socialista, Democrático e Independente dirigido por Dieter Dellinger, Diogo Sotto Maior e outros colaboradores.
Sábado, 23 de Janeiro de 2010
Der Spiegel - Portugal e a Alemanha

 

A edição online da revista alemã “Der Spiegel” faz uma descrição devastadora da economia portuguesa, comparando-a à Grécia e revela que estes dois países já terão feito cair o Euro para 1,40 dólares.

 

Só que a situação alemã está longe de ser melhor que a portuguesa com uma queda brutal de 5,3% do PIB em 2009 em resultado de decréscimos nas exportações da ordem dos 30% no sectores mais importantes como o das máquinas-ferramentos e equipamentos industriais. O défice das contas públicas alemãs atingiu o valor recorde de 77,2 mil milhões de euros e está prevista que o mesmo seja de 86 mil milhões em 2010, o que é quase dez vezes o défice português. Por isso, a influência negativa do défice alemão no valor do Euro é muito superior à que resulta do défice português.

 

Não foi pois, por causa dos défices português e grego que o Euro desceu para 1.40 dólares: foi sim o défice alemão a juntar aos gigantescos défices da França, Itália, Espanha, Irlanda, etc.

 

No último dia do ano passado, a Alemanha apresentava oficialmente 3,3 milhões de desempregados em resultado de um aumento de 7,8% relativamente ao ano anterior. Mas, trata-se aqui de um número aldrabado, pois quase todas as indústrias adoptaram o modelo de horário reduzido em que o trabalhador trabalha metade do seu horário normal, recebe 40% do fundo de desemprego e perde 10%. O número de trabalhadores nestas circunstâncias não pára de crescer e deverá estar em vias de corresponder quase ao número de desempregados a “tempo inteiro”, apesar de não terem sido dadas a conhecer estatísticas muito fiáveis. Em Setembro de 2009, já trabalhavam em horário reduzido cerca de 1,1 milhões de trabalhadores, isto de acordo com estatísticas oficiais publicadas pelo “Der Spiegel”.is.  

 

Mas, as principais indústrias estão com os seus trabalhadores em horário reduzido. O presidente da VW, Martin Winterkorn, já declarou que a situação é dramática e que neste ano o número de trabalhadores com horário reduzido deverá subir para o dobro na sua empresa. O próprio director da Agência Federal para o Emprego, Frank-Jürgen Weise, já previu uma a destruição radical de milhões de postos de trabalho e a passagem ao horário reduzido de quase todos os trabalhadores alemães, acrescentando que isso se deve à enorme dependência alemã das exportações e que estas estão a entrar em colapso total de dia para dia. Há indústrias que registaram quedas de 70% no registo de encomendas. Até a Airbus de Hamburgo está a começar a colocar os operários e engenheiros em horário reduzido, pois não os pode despedir dado serem especialistas que não existem no mercado.

 

Acrescente-se aqui que alguns técnicos da Airbus recentemente despedidos têm ido para a Embraer no Brasil, o terceiro maior construtor de aviões do Mundo e que paga salários inferiores a 10% do que paga a Airbus e a Boeing, excepto a alguns especialistas imprescindíveis, e parece ter conseguido acabar com o boicote a que estava sujeita pelos três fabricantes de motores de avião do Mundo que não forneciam motores a partir de uma certa potência por imposição da Airbus e da Boeing que querem para si o mercado mundial dos aviões com mais de 100 lugares.

 

Para evitar um aumento do défice das contas públicas, o governo alemão de direita está a aumentar as contribuições para a segurança social dos trabalhadores, os quais já só se podem reformar os 67 anos de idade e vai aumentar o IVA, devendo a Sra. Merkel ceder ao seu parceiro liberal uma descida das taxas mais elevadas dos impostos de rendimento pessoal dos mais ricos, caso contrário, será pouco provável que a actual coligação consiga completar o ano de 2010.

 

A Alemanha foi em 2008 o maior exportador mundial, mas 70% das suas exportações foram para a União Europeia e todo o continente asiático com China, Índia, Indonésia, etc. importou da Alemanha apenas 9% e continuam os alemães a apostar no mercado chinês que não lhes compra mais de 4,5% das suas exportações.

 

Muitos dos problemas dos países do sul da Europa com o Euro devem-se à embirração alemã em manter as fronteiras abertas aos mercados dos países esclavagistas como a China e a Índia que pagam salários da ordem dos 50 cêntimos horários. Saliente-se aqui que o actual nível de salários à hora desceu na Alemanha, segundo o “Der Spiegel”, para 3,25 Euros, ou seja, metade daquilo que se paga em Portugal. Isto pelo facto de os polacos virem trabalhar na Alemanha por qualquer preço.

 

Enfim, o peso da crise alemã é tremendo e não augura nada de bom para o conjunto dos países do Euro, pois os outros podem desvalorizar as suas moedas e continuarem a exportar qualquer coisa e protegerem-se internamente da concorrência estrangeira, mas, claro, só até a um certo ponto, porque a energia torna-se demasiado cara e, bem assim, os produtos importados de que carecem para as suas próprias indústrias.

 

Saliente-se aqui que os Mercedes da classe C vão passar a ser fabricados na China ou já o são, tendo daí resultado o despedimento de alguns milhares de trabalhadores alemães especializados e até agora estes carros não estão mais baratos.

 

Estamos a atravessar uma época de desglobalização da produção. Esta vai para os países de mão-de-obra paga a preço de escravatura a troco de desemprego em massa para castigar os trabalhadores europeus que querem mais salários.

 

Na Alemanha, primeiro fecharam as fábricas de brinquedos, depois as confecções, o calçado, a cutelaria, as ferramentas simples, as máquinas fotográficas, os rádios, os televisores, os electrodomésticos, os fogões, os esquentadores, a indústria química pesada, as minas de carvão, as máquinas fotográficas, os automóveis pequenos e chegou agora a vez dos Mercedes C e já se fabricam BMWs na África do Sul, na China e na Rússia, VWs nos mais diversos países, etc. e ninguém protestou. Tal como naquela peça de Brecht acerca das pessoas levadas para prisões, agora é a das que vão para o desemprego sem que haja sindicatos ou governos que os protejam. Por último chegará a vez dos funcionários públicos para reduzir as despesas do Estado com o desemprego.

 

Para quando direitos aduaneiros de 150% na União Europeia para financiar o desemprego?

 



publicado por DD às 22:57
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Quinta-feira, 21 de Janeiro de 2010
Denegrir o Progresso do Ensino em Portugal

 

 

 

Para denegrir o imenso progresso escolar realizado nos país de todos os portugueses em um pouco mais de 30 anos, alguns pseudo-intelectuais vieram dizer que no ensino: “Portugal está no mesmo ponto de partida de há 50 anos”.

 

A frequência completa do ensino secundário passou de 1,3% há meio século para mais de 60% hoje e o mesmo aconteceu com o primário, nomeadamente o segundo ciclo em que a subida ainda é maior pois mais de 99% dos jovens completam o nono ano da escolaridade.

 

Para quem andou no liceu Camões há mais de 50 anos, recorda que então só havia dois outros liceus de estado para rapazes a norte do Saldanha, o liceu de Santarém e o de Leiria. Eu lembro-me de ter colegas que se levantavam às 5.30 da madrugada para estarem às 8.15 no liceu pois vinham de Torres Vedras e outras localidades ainda mais distantes nos tempos em que as estradas eram miseráveis.

 

Quando fiz o exame da quarta classe na escola primária de São Sebastião da Pedreira só fui encontrar no liceu dois colegas do conjunto de turmas que tinham feito aquele exame ao mesmo tempo que eu.

 

Enfim, há 50 anos não havia propriamente ensino para os portugueses em geral, apenas algumas escolas e liceus para uma percentagem ridícula da ordem de 1,3% do número de jovens em idade escolar.

 

Ninguém pode dizer que Portugal está muito atrasado no ensino só porque alguns, muito poucos países, têm percentagens superiores e o país caminha para a generalização do ensino secundário (12º ano) daqui a dois ou três anos. Claro, com o ensino profissional que muita falta faz e que pode permitir a um aluno não muito interessado em seguir uma carreira académica aprender a ser um bom cozinheiro, um bom pedreiro, mecânico, administrativo, informático, treinador de futebol, etc., etc.

 

O que se pode dizer é que o nível de conhecimentos dos alunos com o nono ano da escolaridade é hoje inferior aos que então tinham completado o chamado quinto ano dos liceus e que não chegavam a 1,5% da população jovem.

 

O ensino fascista era selectivo; chumbava-se na quarta classe, no segundo ano dos liceus, no quinto e no sétimo para não falar noutros anos. Daí que se tivesse havido então um estudo PISA sobre o nível dos alunos com o nono ano, esse revelaria valores muito superiores aos actuais como acontece com os países mais atrasados no ensino generalizado, nomeadamente Brasil, México, Peru, Mali, etc. que estão à frente da Alemanha, Luxemburgo, França, EUA, etc. Nos países em que o ensino é para todos e não para 1,5% dos jovens, é natural que o nível de conhecimento obtidos em nove anos seja mais baixo. Mas, o importante não é ter uma elite de 1 a 2% e o resto analfabeto ou apenas com a quarta classe. É sempre possível haver uma selecção natural dos melhores a partir da totalidade de uma população do que a partir de uma percentagem diminuta de filhos das classes médias e altas. De resto, Portugal está muito bem no ensino universitário em termos de percentagens de jovens a frequentar e aí temos cursos bons e menos bons e alunos que completam e outros que desistem. O país não necessita de ter 100% de licenciados, a não ser que as licenciaturas de Bolonha sejam também de profissões mais simples, as quais tendem a complicar-se e a exigir mais saber quanto melhor se queira ser nessas profissões.

 

O professor Santana Castilho diz, estupidamente, que a qualidade não acompanhou a massificação como se fosse possível vestir as populações do Mundo com seda natural, algodão puro e lã natural. Não fossem as fibras sintéticas e as pessoas pobres andavam descalças e rotas como recordo bem de há 50 anos atrás. E se há algodão em certa quantidade é porque 40% dos pesticidas fabricados no Mundo são consumidos na protecção dos respectivos cultivos, ou julgam os ecologistas que as suas camisas caem do céu. Isto para mostrar qualquer massificação do fornecimento de serviços ou produtos implica uma profunda alteração na forma como são servidos a toda a população. O ideal socialista é o da oportunidade para todos, escola para todos e não se é suficientemente estúpido que a escola tenha de fabricar 100% de génios.

 

O ensino pré-escolar para todos será um importante passo em frente para a melhoria da qualidade do ensino, pois oiço muitos professores queixarem-se que as criancinhas chegam à escola sem nada saberem. Na verdade, entram analfabetas no primeiro ano da escolaridade e, coitadas, saem das barricas maternas sem saber falar. Foi um professora universitária, Fátima qualquer coisa, que se queixou na televisão que os alunos chegam às escolas e universidades sem saberem o suficiente, como se a escola e os professores servissem para outra coisa que não ensinar aquilo que os alunos obviamente não sabem. Se soubessem não necessitávamos de professores.

 

Também foi preciso denegrir o facto de Portugal ter 1 professor para menos de 10 alunos. Claro, há professores a exercer outras tarefas como o Nogueira que não dá aulas há vinte anos e continua a ganhar o salário pagos pelos contribuintes., mas representam um pequena percentagem dos 140 mil professores, pelo que os que dão aulas e os conselhos directivos tinham a obrigação de distribuir melhor o seu trabalho e obter melhores resultados.

 

 



publicado por DD às 20:48
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