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A Escola para Todos é inaceitável para as Falsas Elites
As verdadeiras elites surgem a partir de qualquer escola e de qualquer classe
I Parte
O jornal “Público” trás hoje uns excelentes artigos sobre a quebra de consumo dos portugueses e a sua nova “frugalidade alimentar” acompanhada por um notável e dois longos artigos no respetivo caderno sobre as classes médias em Portugal e no resto do Mundo, particularmente na Europa.
O jornal pertence ao Belmiro e são os supermercados Continente/Sonae a falarem através das escritas dos jornalistas. O capital começa a sentir o tapete a fugir-lhe dos pés, o mercado a encolher. Sem mercado não há capital, sem clientes não há negócios. Sobre isto nada temos ouvido da parte dos banqueiros e bancários-administradores, apesar do imenso tempo de antena que as televisões lhes oferecem. Estão na choça como os seus colegas europeus, mas não sabem o que lhe serve. Não sabem os banqueiros como não sabem os restantes detentores de capital, todos fingem que estão muito bem e que continuam a ser ricos. É verdade, mas muito menos ricos que há um, dois ou três anos atrás.
O Estado também finge que vai pôr as contas em ordem, mas a Unidade Técnica de Apoio Orçamental da AR é clara e incisiva: apesar do enorme aumento do IVA, as suas receitas desceram abruptamente, tendo no primeiro semestre deste ano sido inferiores às do primeiro semestre de 2008, o que é uma enormidade fiscal e um falhanço absoluto do Gaspar que não previu o encolhimento do consumo. Também as receitas da segurança social e de muitos impostos estão em queda livre, enquanto as despesas nalguns casos aumentam e noutros permanecem estáticas.
O governo necessita de um aumento de 2.125 milhões de euros no segundo semestre para chegar aos valores previstos no orçamento retificativo quando tudo indica que o encolhimento do consumo está a acelerar a olhos vistos. Até em sectores aparentemente menos vulneráveis como nos transportes coletivos se verifica uma quebra de consumo.
As classes médias estão a ser esmagadas com impostos, tanto a nível de pequenos empresários como de quadros e pessoal qualificado e o desemprego aumentou para 850 mil pessoas, criando um grau de insegurança tremenda. Apenas cerca de um terço dos desempregados recebem subsídios miseráveis de desemprego, os outros vivem dos familiares, seja de um cônjuge a trabalhar, seja dos pais ou até dos avós. Os quase 50% de jovens sem emprego vivem em casa dos pais e por lá permanece cada vez mais além dos trinta anos de idade. Daí que possamos dizer que o desemprego aflige seguramente mais de 2,5 a 3 milhões de pessoas. Com o novo Código de Trabalho os empregados de longa duração temem virem a ser desempregados definitivos. O próprio Estado quer livrar-se dos professores do décimo escalão, bem como de outro pessoal que trabalha há bastante, mas ainda está longe da idade da reforma.
Ao proletariado, cada vez mais mal pago, junta-se o precariado, ou seja, os trabalhadores precários e mal pagos que trabalham umas vezes e outras não. Há disposições para financiar o trabalho parcial dos desempregados, mas é tudo ao nível do ordenado mínimo. Legislou-se quase para pagar para trabalhar.
O grande objetivo deste governo, seguindo as pisadas impostas pela Alemanha a toda a Europa, parece que é abater o que resta do longo período de “guerra fria”, ou seja desmantelar as classes médias a golpe de picareta como foi feito com o Muro de Berlim. Estas classes são caras e o grande capital ainda não percebeu que precisa delas, mesmo que seja para vender produtos baratos feitos na China. Os Estados querem-se livrar dos professores, médicos, funcionários, técnicos, etc. caros. Querem-nos baratos para quê? Não se sabe, pois pagarão sempre menos impostos.
As revoluções foram sempre feitas pelas classes médias, mesmo as ditas proletárias. Ou Lenine, Trotzki e muitos outros não pertenciam às burguesias médias. Mesmo o republicanismo em Portugal e antes o progressivismo outubrista e constitucional como a regeneração tinham como base as classes médias e uma parte da aristocracia.
Não percebo a razão porque os detentores do capital têm uma tão reduzida aptidão para pensarem. O João Salgueiro, dirigente da Associação dos Banqueiros, apesar de nunca ter sido banqueiro, mas apenas bancário administrador, é pessoa que, aparentemente, não pensa, ou não o faz em público. Os bancos precisam de clientes e de economias a funcionar em crescimento e não em depressão. A última coisa que a banca necessita é a rarefação da moeda por falta de emissão. Se homens como Passos Coelho e Vitor Gaspar não têm coragem para falar, que sejam os detentores do capital e principalmente os homens da banca. Os ricos não são mercado por serem poucos, as classes médias e os mais pobres a subirem de classe é que consomem em quantidade. Sem eles, Portugal e a Europa ficarão reduzidos a nada.
II Parte
Completando o raciocínio sobre as classes médias não posso deixar de salientar a contradição entre a existência de uma civilização industrial, robótica, massificante em todos os domínios, da produção de bens e serviços ao ensino e à saúde com uma esperança de vida cada vez mais longa e a de proletarizar essa mesma classe média, mesmo com prejuízo dos seus interesses. Passos Coelho diz: que se lixem as eleições, o que significa, que se lixe o empobrecimento dos portugueses. Provavelmente, o Fernando Ulrich, o Salgado Espírito Santo, o Alexandre Santos, o Amorim, etc., etc. são capazes de dizer que se lixem os clientes.
Para quê lixar o povo? Para quê lixar a Europa? Sim não se trata da Europa do Sul, mas toda a Europa, já que a crise começa a bater na porta da Alemanha e quer entrar.
Respostas que não tenho, a não ser que reside tudo na imensa estupidez de umas pretensas elites que nunca o foram, mas que se guindaram a altos lugares por golpes baixos, heranças, mentiras e não têm a qualidade necessária para ver um palmo à frente dos seus olhos.
Como tenho dito e já começa a ser referido nalguns jornais, o problema europeu está no bloqueio à emissão de moeda associado à abertura do mercado europeu aos produtos asiáticos e à instalação na China, Índia e outros países de mão de obra barata de toda a tecnologia europeia e americana nascida com a revolução industrial.
Para ganhar uns cobres mais, o capitalismo fez de uma nação comunista a maior potência mundial. Tinha área e tinha gente habilidosa, faltava-lhe o conhecimento e a prática industrial. A Intel foi lá instalar uma universidade informática e numerosas fábricas. Deu de mão beijada toda a tecnologia informática ao gigante chinês. E não foi só a Intel foram mais de uma centena de milhares de empresas industriais do Ocidente.
Não devemos ser a favor da inimizade entre povos e nações, mas também não tão ingénuos para oferecer à maior nação do Mundo em população tudo o que tanto custou a ser criado nos países ocidentais.
Há anos li o livro de C. Wright Mills “White Collar, The American Middle Classes” e convenci-me que no capitalismo com um Estado social seria possível alargar as classes médias de modo a abranger quase todo o antigo proletariado e os pobres seriam uma exceção suscetível de serem apoiados pela sociedade.
Erro meu, esse alargamento só tinha o objetivo de combater o comunismo soviético e, uma vez este derrotado, não se aceitaria mais o custo das classes médias e havia que recriar o proletariado. Primeiro, no exterior por não ser possível reduzir de imediato as classes que ascenderam. Segundo, no interior dos EUA e da União Europeia, aqui depois de lançar para o desemprego mais de 25 milhões de trabalhadores e em Portugal 850 mil a caminho do milhão, foram criadas as condições para uma baixa significativa dos salários, aproximando-os dos chineses. Para quê? Para serem consumidores das porcarias baratas das lojas chinesas?
Será que é isto que serve ao capital e resolve os problemas das receitas do Estado a descerem continuamente apesar do aumento de todos os impostos?
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