O Banco Central Europeu publicou um estudo em que pretende demonstrar que as famílias alemãs são as mais pobres da Europa porque possuem menos bens que as do Sul da Europa. Em termos de mediana, na Alemanha há tantas famílias com mais de 51.400 euros como famílias com menos que isso, o que não quer dizer muito, mas as médias também não. Em Portugal, esse valor será de 75.200 euros, na Espanha de 182.700, na Itália de 173.500, na Grécia de 101.900 e no Chipre de 265.900. Apenas as famílias do Luxemburgo é que possuem mais, isto é, 397.800 de mediana.
O Estudo saiu sem que o vice-governador do BCE, o dr.Vitor Constância, explicasse em público as diferenças e o significado.
A revista alemão “Der Spiegel” publicou o trabalho num artigo em que deu algumas explicações, mas tirou a mesma conclusão que a fortuna dos lares alemães é menor que as dos países endividados do Sul da Europa, Portugal, Espanha, Itália, Grécia e Chipre. O efeito do artigo é devastador no momento em que o governo da Merkel anuncia que as suas contas públicas apresentaram um défice de 0%, sendo equilibradas.
Quanto à fortuna dos lares, o que mais conta é a propriedade da casa; o BCE utilizou valores de 2008 a 2010 e não considerou matematicamente a diferença entre valores pagos pelas casas e em dívida, nem as pequenas heranças que muita gente recebeu no Sul da Europa, nomeadamente em Portugal. Na revista alemã é dito que um terço dos lares espanhóis vivem em casas a pagar prestação e nada é dito sobre Portugal que tem cerca de 1,5 milhões de famílias a pagarem as suas casas em prazos que vão de 20 a 30 anos, o mesmo se pode dizer dos automóveis e até do mobiliário, eletrodomésticos.
Ao contrário disso, as famílias alemãs vivem predominantemente em casas alugadas e só agora é que começam a comprar porque admitem que o euro possa perder valor no futuro.
A realidade é que os alemães ganham duas a cinco vezes mais que os trabalhadores do Sul da Europa e fazem férias no estrangeiro em média mais de uma vez por ano e frequentemente três vezes. Os portugueses só começaram a viajar um pouco mais com o Euro; antes viviam para pagar as já referidas prestações.
Os alemães gastam muito mais em carros de grande potência e pagam rendas elevadas e possuem em geral um seguro de renda de casa associado à reforma. Ambos tendem a diminuir, daí a inveja alemã relativamente aos “ricos” proprietários de pequenos e modestos apartamentos ou de casinhas na aldeia deixadas pelos pais e avós. Além disso, portugueses, espanhóis e gregos possuem em maior quantidade segundas casas quando finlandeses, suecos e noruegueses possuem umas barracas de madeira junto a lagos quase sempre gelados.
Salientemos que milhões de portugueses foram trabalhar em França, Alemanha, etc., onde fizeram uma vida poupada ao máximo e amealharam uns dinheiros para construírem a moradia revestidas de azulejos na aldeia.
Por outro lado, os portugueses, por exemplo, não fizeram tantas asneiras ao meterem-se em guerras que deram cabo dos bens dos avós. As cidades alemãs destruídas, a introdução do marco alemão em substituição do antigo em 1948, eliminando todas as poupanças monetárias. Todos os cidadãos receberam uma mesma quantia e já em 1922/23, a gigantesca inflação resultante das dívidas da I. Guerra Mundial deu cabo das poupanças de todos os alemães, incluindo pequenos pacotes de ações e alguns bens imobiliários.
Enfim, o BCE com a divulgação dada pela revista “Der Spiegel” fez uma autêntica declaração de guerra ao Sul da Europa e criou uma espécie de início de holocausto anti-sul, mas financeiro.
Os alemães não querem ver o BCE emitir moeda e o novo partido nazi, o “Partido para a Alemanha” já não defende a saída dos alemães do euro, mas sim a expulsão de Portugal, Espanha, Itália, Grécia e Chipre.
Ao ler a revista “Der Spiegel” fiquei convencido que esta guerra é mesmo a sério e que não solução que não seja igualmente brutal como querem os alemães. Juntar-se o Sul da Europa e suspender todos os pagamentos de dívida ao exterior. Os prejuízos seriam demasiado elevados para que o BCE não venha a ter juízo.
No próximo dia 19, o PS comemora o seu quadragésimo aniversário com um jantar em Coimbra.
A pergunta que muita gente me faz e que considero endereçada ao PS na totalidade é se foram realizados os objetivos do PS.
Eu respondo que sim e com o fundamento de ter estado também na fundação em 1969 do clube de pensamento que originou o PS, a Cooperativa de Estudos e Documentação, que servia de capa à ASP-Ação Socialista Portuguesa. A ASP foi criada antes a partir da Ação Republicana e Ação Republicana Social até ser Socialista, mas, o grande número de aderentes vieram através da CEUD – Comissão Eleitoral de Unidade Democrática, permitida pelo fascismo de Marcelo Caetano para concorrer às pseudo eleições democráticas de 1969.
Na Cooperativa de Estudos e Documentação é que pensámos o futuro da sociedade portuguesa e do Mundo e elaborámos os princípios do PS. Queríamos em primeiro lugar uma sociedade democrática europeia e progressista com eleições livres, parlamento, autarquias eleitas, liberdade de expressão e de organização sindical e desejámos para essa sociedade o fim do analfabetismo e um sistema escolar para todos que desse a oportunidade a qualquer aluno para tirar um curso superior e não foi por acaso que o então ministro da educação Veiga Simão era membro da cooperativa e muito amigo de alguns dos seus dirigentes, tendo sido mesmo a personalidade que evitou que a polícia de antes do 25 de Abril tivesse fechado a CED.
Queríamos também um sistema de saúde para todos e uma segurança social também generalizada, além das indispensáveis infraestruturas rodoviárias e telefónicas que permitissem a instalação de empresas em todo o País. Defendíamos o fim dos condicionamentos industrial, dos transportes, da atividade bancária, do comércio externo e de muita coisa mais. Queríamos um Estado forte com atividade económica dentro de uma economia livre de mercado. Liberdade para trabalhar também foi o nosso lema.
O mais curioso é que pensámos muito na crise do Século XXII, se bem que não aos modos atuais.
Por volta de 1973 a 74, o Clube de Roma, então o maior clube de pensamento do Mundo, previa o fim do petróleo no dealbar do século seguinte. Isso levou-nos a pensar muito no que seria o Mundo sem petróleo e nas consequências no desemprego com o fim do automóvel. Havia quem acreditasse que ainda existia muito petróleo, o que se veio a verificar e tudo indica que as reservas mundiais de petróleo deverão estar perto da extinção daqui a pouco mais de um século porque muitos países se libertaram do petróleo na produção de eletricidade, principalmente na Europa e descobriram-se novas reservas de petróleo no Mar do Norte, Alasca, Angola, Nigéria, Brasil, Argentina, etc.
Enfim, o PS não surge para se aproveitar do 25 de Abril que aparece menos de um ano após a sua fundação sem estar previsto por nós, mas sim do pensamento de um vasto grupo de pessoas capazes com ideais e sem medo do fascismo podre que nos governava. Saliento aqui homens como o Mário Soares, António Macedo, Magalhães Godinho e o seu irmão historiador, Salgado Zenha, José Ribeiro dos Santos, Catanho de Meneses, Godinho de Matos, Maia Cadete, Mário Mesquita, Jaime Gama, Arons de Carvalho, António Arnaut, Fernando Vale, Raúl Rego, Gustavo Soromenho e tantos outros que por não serem lisboetas não mantive um contacto tão intenso. Claro, muitos fundadores e militantes estavam no estrangeiro como Tito de Morais, José Neves e muitos mais. De acordo com o ficheiro que eu dispunha na qualidade de tesoureiro da Cooperativa de Estudos e Documentação, foram 110 os militantes que fundaram o PS de entre os quase 200 associados da Cooperativa. Havia pessoas inscritas na CED que nunca chegaram a ser do PS e nem souberam que aquilo escondia um partido político. O Luís de Freitas Branco fez a uma dada altura uma série de sessões dedicadas à ópera com audição de discos e explicações. Por isso, várias pessoas se inscreveram na Cooperativa com a ideia de que aquilo era mesmo uma Cooperativa cultural. Para mim, as quotas dessas pessoas, principalmente senhoras idosas e alguns homens, eram muito bem-vindas.
Recordo ainda que o governo fascista quis fechar as cooperativas de índole ideológica como designava e exigiu o envio dos estatutos à autoridade competente sem especificar bem qual a autoridade. O nosso camarada José Ribeiro dos Santos, então diretor para a ciência da Gulbenkian, pediu ao Veiga Simão para aprovar os estatutos, o que foi prontamente feito. Até éramos uma cooperativa de estudos.
Passado algum tempo apareceu um capitão da polícia com vários guardas para fechar a cooperativa. Mostrámos-lhe o despacho do Ministro da Educação e o homem ficou parvo a olhar para aquilo. Depois recebemos um ofício do Ministro do Interior a pedir o envio do Estatutos com um selo fiscal de 300 escudos, o que significava que iriam aprovar os estatutos, o que foi feito.
Nessa altura tivemos a primeira birra com o PCP que nos tinha imitado, criando cooperativas, mas que se recusaram a enviar os estatutos às autoridades fascistas e queriam que também o fizéssemos. Eu era então o amigo de ligação entre socialistas e comunistas e participei em muitas conversas secretas em público em diversos cafés e restaurantes e fiz depois parte da direção do MDP-CDE quando o pessoal da CEUD se integrou no MDP, mas sem que os comunistas soubessem que éramos o embrião do partido socialista. Quando contei ao meu contacto comunista que tínhamos fundado um partido socialista, o homem ficou branco, parecia que ia desmaiar. Ficaram fulos pois queriam ser os únicos donos do socialismo e desejavam a fundação de um partido democrata-cristão para abalar por dentro o regime fascista com os princípios da Igreja Católica.
Fundadores do PS
A ministra Assunção Cristas deixou morrer o bacalhau. Não conseguiu evitar que a Europa não deixasse os noruegueses e irlandeses colocarem tripolifosfato de sódio no bacalhau para que a seca elétrica permita dar mais consistência a um peixe que quase só é consumido pelos portugueses e um pouco pelos galegos.
Os noruegueses querem pescar, secar e embalar o bacalhau com os referidos fosfatos muito utilizados nos detergentes. Só o excesso de sal é que vai tirar o gosto a fosfato daquele falso bacalhau encorpado com um produto químico que até pode ser cancerígeno.~
Os noruegueses nunca deixaram os portugueses pecar nas suas imensas águas e também não querem que os portugueses comprem o bacalhau salgado e sem as vísceras à boa maneira antiga para depois secarem-no sob o bom sol português.
O meu tio-avô tinha bacalhoeiros e uma grande seca do bacalhau que visitei algumas vezes e vi como quilo era bem feito e dava um bacalhau de grande sabor. Assim, com detergente no interior e secado sob lâmpadas elétricas deve sair uma porcaria e o seu consumo cair a pique.
A Ministra do CDS apenas conseguiu que seja rotulado com a indicação dos fosfatos lá introduzidos, pelo que só a preços muito baixos é que poderá ser vendido.
A visita a Portugal do Sr. Jyrki Katainen, PM da Finlândia, não foi para turismo e menos ainda para tratar de algum assunto relevante entre os dois países.
Nas recentes reuniões do Eurogrupo e Ecofin, a Finlândia, aliada à Alemanha do Schäuble/Merkel, foi dos países que maior dureza manifestaram contra Portugal Foi mesmo um inimigo de Portugal, pelo que nenhum português deverá comprar algum telefone Nokia, apesar de ser fabricado na índia, mas por conta dos finlandeses.
O Katainen veio como que pedir desculpa, dourar a pílula por temer as futuras votações nos Conselhos dos 17 Ministros das Finanças da Zona Euro (Eurogrupo) e dos 27 países da União (Ecofin), tanto mais que o seu país só tem 5,5 milhões de habitantes, nada valendo no conjunto da União. Efetivamente, a partir do próximo dia 1 de Janeiro de 2014, as decisões tomadas pelos conselhos da União Europeia passam a ser tomadas por maiorias qualificadas de países e habitantes, ou seja, dupla maioria de 55% dos países e 65% dos habitantes, havendo, contudo, em muitas decisões a possibilidade de funcionarem minorias de bloqueio de 4 países, o que pode envenenar extremamente as relações na União, pois Malta, Chipre, Grécia e Portugal poderão originar uma minoria de bloqueio.
A União Europeia está hoje dividida em dois grupos, o do Euro Forte e o do Euro Fraco, havendo ainda um terceiro grupo, o dos países do euro quase fraco ou quase forte. Nestes dois últimos casos, o contágio resultante das decisões tomadas pode ser muito forte e a crise latente em muitos países parece indiciar que o grupo Euro Forte parece estar a declinar acentuadamente. Basta analisar a lista dos países do Euro para constatar que só três países estão verdadeiramente no grupo do Euro Forte e são a Finlândia, a Alemanha e a Áustria, não formando uma minoria de bloqueio. Todos os outros estão no grupo do Euro Fraco ou quase fraco.
17 Estados-Membros da União Europeia utilizam o euro como a sua moeda:
Moção Setorial de Dieter Dellinger
Militante Nr. 33 do PS
O PARTIDO SOCIALISTA E AS CLASSES MÉDIAS
Para o Partido Socialista, as classes médias não podem deixar de estar no centro da sua política presente e futura, no que respeita às suas relações com o essencial de Portugal, os portugueses. Isto por duas razões fundamentais.
Primeiro porque o objetivo de um Partido Socialista é a elevação dos padrões de vida das classes mais pobres de modo a atingirem o nível das atuais ainda existentes classes médias, tanto do ponto de vista puramente material como educacional, sanitário e de segurança social. Com isso, os mais pobres terão as portas abertas a uma progressão em termos de status sempre difícil de alcançar quando se é pobre ou tem uma origem desprovida de meios suficientes. O aumento do salário mínimo e dos salários em geral com o crescimento económico, o aprofundamento os programas de novas oportunidades e o melhoramento do sistema escolar para todos é determinante para o alargamento das classes médias assalariadas de modo a englobar aqueles maior parte dos quase 20% dos muito pobres existentes em Portugal e dos novos pobres.
Segundo porque no momento atual torna-se indispensável evitar a queda na pobreza de uma parte dos estratos das classes médias, dado que o fenómeno não apanhou só os grupos mais próximos das pobrezas, mas mesmo outros que antes pareciam que tinham uma vida consolidada com trabalho bem remunerado. No milhão de desempregados portugueses estão representadas tanto as classes médias como as mais pobres e até alguns que foram proprietários médios a ricos de empresas falidas, sendo indispensável uma política de crescimento económico.
Proletarização das Classes Médias
Quando um socialista fala de classes médias significa que luta pela existência de uma sociedade sem classes em que todos tenham um modo de vida equivalente às atuais classes médias; isto porque na essência do pensamento socialista está a igualdade de todos os humanos dado que as desigualdades são sempre artificiais e circunstanciais que nada têm a ver com a Humanidade na sua plena realidade.
Hierarquias, poder político ou económico, estatuto intelectual, etc. são artificialismos que não correspondem a diferenças reais.
O segundo ponto é primordial porque o País está em espiral recessiva com uma queda brutal de todos os indicadores com exceção do desemprego que avança rapidamente para os 19% com um milhão de pessoas desprovidas da essência da vida que é o trabalho.
Sabendo-se que cada trabalhador ativo gera em média 34.000 euros-ano, o desemprego significa desperdiçar 34 mil milhões de euros ou quase um quinto do PIB. Claro, nunca se chega a um desemprego zero, mas o desemprego dito natural seria da ordem dos 3 a 5%.
Por isso e por outras razões aumentou a percentagem de pessoas em situação de pobreza e em risco de aí caírem.
A taxa de risco de pobreza em Portugal caiu entre 2004 e 2009, ano em que se situava nos 17,9%, valor que se manteve até 2010. Em 2011, o número de pessoas com rendimentos abaixo dos 414 euros subiu para 18%, o que representa mais de 1,9 milhões de pessoas e em fins de 2011 a 2012 terá passado os 2,693 milhões, ou seja, 24,5% da população total em risco de pobreza e de exclusão total.
Claro que, medida em termos de percentagem de 60% do Pib per capita, com a queda deste seria natural que pobreza relativa diminuísse, mas é a própria recessão a provocar mais pobreza.
Ao mesmo tempo, a taxa de pobreza em Portugal para as pessoas que trabalham, mas que ainda não ganham o suficiente para estar acima do limiar da pobreza, era de 10,3% em 2011, situando-se acima da média europeia (8,4% em 2010), segundos os dados de 2012 do Eurostat, citados pela Cáritas. Este ano, 11% dos trabalhadores auferem o salário mínimo ou menos com tendência para se chegar aos 15 a 16% este ano de 2013.
Na população das pessoas com 65 ou mais anos, o risco era de 19%, em 2010, e os dados mais recentes sugerem uma taxa de 20%, em 2011, semelhante à taxa de 2009 e superior à média da UE27 (16% em 2010).
Os escalões do IRS de 2011 mostram que 2 milhões de portugueses vivem com menos de 500 euros mensais, representando umas 700 mil famílias com rendimentos médios de 800 a 1.000 euros sempre que os dois cônjuges trabalhem e metade disso se for um apenas e tenham nenhum, um ou mais filhos. A explosão do desemprego veio aumentar muito o número de pobres e uns 20 mil casais estão no desemprego com tendência para aumentar.
As classes médias têm de ser vistas em duas ópticas: a de, eventualmente objetiva) e a de dentro, por vezes mais subjectiva.
Assim, antes da crise atual, um estudo feito pelo ISSP revelou que em zonas de indústria de calçado e outras de mão-de-obra intensa, 37% do chamado proletariado considerava-se de classe média precisamente por o casal trabalhar e até por juntarem algo mais como casa própria herdada ou não e alguns bens que, a seu ver, caracterizam a classe média como a posse de uma viatura automóvel e até um nível de instrução bem superior ao dos pais e avós. Hoje, a autoestima tende a diminuir e todos sentem o perigo do despedimento com o desemprego e maior precariedade de trabalho. Talvez, esses estratos de classe operária com vida organizada tenham sido os mais afetados pela crise capitalista que vivemos.
Quanto às identificações subjectivas com a “classe média”, o mencionado
Estudo revelou que, em Portugal, mais de 40% da população se auto-identificam como membros da “classe média” (agregando as subcategorias média-baixa, média e média-alta) e o mesmo acontece com 52% dos patrões (Estanque, 2003: 100). É justamente esse efeito atrativo que coloca a noção de classe média como um importante referencial nas representações dos portugueses.
A necessidade de autoestima era verificável nas fichas de inscrição no PS que se recebia logo após o 25 de Abril e durante décadas em que o termo operário nunca aparecia, mas sim técnico de uma atividade específica, o que não deixava de corresponder à verdade, já que o trabalho operativo é essencialmente técnico.
O regime democrático fez muito para criar aquilo a que denomino de classe média ou elite subjetiva, aumentando o status nominal de muitas profissões. Assim, o agente técnico passou a engenheiro técnico, o curso de enfermagem passou mais recentemente a licenciatura, o empregado de escritório a administrativo e a maior parte das profissões do Estado e até do privado passaram a ser precedidas da designação de técnico.
Curiosamente, já vi à porta de uma exposição um jovem com um letreiro ao peito a dizer “gestor de entradas”. Isto não deixa também de ser uma consequência do imenso avanço técnico, tanto no trabalho manual, mas cada vez mais no de operador de máquinas como nos serviços em que mais de metade dos funcionários trabalham frente a um monitor de computador. A anterior distância entre os “colarinhos azuis” e os “colarinhos brancos” tende a encurtar com o uso da máquina e na Europa com a deslocalização do trabalho mais manual nas linhas de produção para a China em que um Partido Comunista conseguiu produzir o proletariado mais explorado de sempre que agora é imitado por quase todos os países asiáticos e que parece que a Alemanha de Merkel quer importar para o Sul da Europa com o apoio dos governos dos respetivos países.
Ao mesmo tempo que se aumentou o referido status nominal diminuiu-se a realidade objetiva e material da situação de classe média com o fim da garantia de trabalho estável substituído pela precariedade mal paga e até com a tentativa cada vez mais bem sucedida de redução salarial de profissões tidas antes como quase elitárias tais como o professorado, a medicina, a engenharia e a arquitetura, entre outras.
Ao crescimento do status social proporcionado principalmente pela escola para todos e pela enorme expansão do ensino universitário, agora mais favorecido pelas licenciaturas de três anos e multiplicidade de cursos, não se registou uma redução da pobreza que neste momento está mesmo a aumentar. O ensino superior com mestrado ou sem ele não é uma garantia de emprego estável e relativamente bem remunerado para os jovens e, aparentemente, não o será mais tarde quando estes atingirem uma idade mais adulta, apesar de que o conhecimento será sempre uma porta possível de entrada nos estratos menos inferiores das classes médias.
A realidade atual é que os portugueses estão cada vez mais pobres, mesmo sem que se sintam verdadeiramente proletarizados. A pertença à classe média tem neste aspeto algo a ver com as ligações e apoios familiares e num certo futuro com pequenas heranças. Muitos dos verdadeiros pobres ainda não adquiriram uma consciência de classe proletária que associada à cultura obtida proporcione a indispensável ação revolucionária para alterar a situação da sua “nova classe proletária”. A consciência de queda na pobreza ou apenas redução da condição material é dificilmente aceite, sendo quanto muito tida como provisória e o mais possível disfarçada. Poucos são os que confessam a sua nova condição de pobreza imposta aos portugueses pelo todo-poderoso Banco Central Europeu, muito dominado pelo neo-nazismo financeiro da senhora Merkel.
A pobreza ou a mediania são fundamentalmente definidas por haver apenas um cônjuge a trabalhar no casal e alguns filhos ou dois cônjuges a trabalhar sem filhos ou com apenas um. Daí a enorme queda da natalidade em Portugal. Os casais jovens não sabem se podem garantir aos filhos as suas necessidades essenciais e proporcionar uma educação de qualidade. Por isso, um filho ou nenhum é quase uma regra.
Fundamentalmente, refiro-me à classe média no sentido weberiano do termo, isto é, enunciado pelo sociólogo e filósofo alemão Max Weber que estudou a classe média assalariada à qual outro alemão, Karl Marx, não ligou muito dada a diferença de épocas em que estudaram as classes sociais.
Para Marx, a classe média era a pequena burguesia proprietária e uns poucos membros das classes de serviço ou capatazes dos detentores do capital, admitindo que a tendência seria no futuro a divisão da sociedade entre uma pequeníssima classe muito rica e um enorme proletariado pobre com a meio uma numericamente insignificante classe média.
O aparecimento da classe média assalariada pareceu tirar qualquer razão a Marx, mas atualmente ninguém poderá dizer se teve razão ou em que medida é que terá mais razão no futuro, considerando que a globalização alterou o posicionamento das classes mais exploradas nuns países mais que noutros.
Marx previa o desaparecimento da pequena burguesia proprietária por via da conquista de toda a atividade económica pelos grandes grupos económicos. Numa certa fase da história económica recente parece que não tinha razão. Multiplicaram-se as pequenas empresas e os muitos serviços, continuando grande parte da agricultura de muitas nações mais e menos desenvolvidas nas mãos de pequenos agricultores. Numa fase posterior que abrange os dias de hoje a pequena burguesia tende a desaparecer ou passar a ser “afranchisada”, serva de grandes grupos e marcas mundiais. A agricultura tende a organizar-se em termos capitalistas de grande produção, o comércio tradicional fina-se para dar lugar às grandes superfícies comerciais. Karl Marx parece ter cada vez mais razão, mas o sofrimento que provoca o empobrecimento é muito maior que o de nascer e ter sido sempre pobre.
Em Portugal, podemos até dizer que o grande capital que se desenvolveu foi o de substituição da pequena burguesia comercial. Em breve, parece que só as lojas chinesas vão restar numa complicada teia de relações opacas que ninguém consegue descortinar.
Se numa primeira fase assistimos pois ao aparecimento das novas classes pobres que se disfarçam e não acreditam na permanência da sua nova situação. Numa segunda sem grandes melhorias, podemos entrar numa época revolucionária para a esquerda ou para a direita sem esquecer que todas as revoluções, incluindo as liberais, republicanas, comunistas e fascistas tiveram a sua génese em líderes oriundos das classes médias capazes de mobilizar partes do proletariado.
A propósito do confisco de Chipre, o jornal “Negócios” revelou que apenas 1,2% dos depositantes têm contas superiores a 100.000 euros num total de 41% do valor de todos os depósitos somando cerca de 65 mil milhões de euros. São pouco mais de 190 mil pessoas.
Estou convencido que a relação entre os poucos depositantes e o muito que possuem agrava-se no que respeita à posse do capital empresarial e outros bens móveis e imóveis. Teremos pois uns 200 mil ricos nos 10,5 milhões de residentes em Portugal mais 2,6 milhões de pobres e excluídos (miseráveis) e uns 7,9 milhões de membros das classes médias, sendo que mais de metade pertence aos estratos mais baixos das mesmas, mesmo que em termos de autoestima não se considerem ainda como quase pobres. De qualquer modo, nestes estratos está o grande potencial eleitoral do País e são estes 7,9 milhões de residentes os mais afetados pelo confisco global em termos fiscais.
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