Faz agora um século que o engenheiro americano Taylor publicou a sua obra sobre a organização “científica” do trabalho. “Científica” porque estudou o trabalho fabril em todos os seus aspetos com relevância para a divisão do trabalho parcelarmente organizado com o pessoal devidamente treinado e cronometrado para proporcionar o máximo rendimento. O taylorismo inspirou a produção em série nas fábricas que teve depois a designação de fordismo. Ambos os métodos são que um único e aplicam-se cada vez mais a todas as atividades humanas, não só nas fábricas como nos mais diversos serviços, sendo hoje já não a organização do trabalho numa empresa, mas a divisão do trabalho em unidades empresariais cada vez mais especializadas como os modernos “call centers” que respondem pela PT, EDP ou qualquer outra empresa, dando ao cliente a impressão que está a falar com a empresa, mas na verdade dialogo com um especialista num pequeno setor que pode ser faturação a empresas ou a particulares, etc.
O engraçado e curioso é a existência junto à Auto Europa de uma empresa com mais de 600 trabalhadores que se dedica simplesmente a desembrulhar ou desencaixotar as muitas peças que chegam à Auto Europa dos diversos fabricantes e levá-las a locais previamente determinados da linha de montagem. Essa empresa, para além de desencaixotar monta algumas partes das peças vindas em embalagens diferentes. Assim, os faróis vêm de um fabricante em caixas de cartão e esferovite, mas geralmente sem lâmpadas, já que estas são fabricadas por outras empresas. Aí, em Palmela, o pessoal dessa empresa, que tem entre outros nomes o de Logística, coloca a lâmpada na chamada ótica do farol. O mesmo acontece com milhares de outras peças que entram numa viatura e esta empresa ou outra encarrega-se junto dos fabricantes respetivos de embalar as peças e componentes saídas das linhas de fabrico.
O cúmulo do fordismo é colocar os clientes a montarem aquilo que compram e irem mesmo ao armazém da empresa buscar as caixas com os diversos componentes como sucede nas lojas da IKEA.
Enfim, deste a criação da organização profunda do trabalho, rejeito o termo científico, há um século, a indústria e os serviços progrediram de uma maneira fantástica até chegarem à pujança industrial dos nossos dias com o acréscimo do robotismo ao taylorismo e fordismo e, não contentes com isso, juntou-se ainda a deslocalização para os paraísos de mão-de-obra barata como a China, Cambodja, Bangla Desh, Paquistão, Índia, etc. e depois os lucros chorudos vão para outros paraísos, os fiscais. Muitas tarefas nas linhas de fabrico são feitas por robots. Por exemplo, um computador portátil ou um telemóvel é montado de uma forma completamente automática que recebe as diversas peças que entram em orifícios determinados para serem soldadas automaticamente às placas. A mão-de-obra ocupou-se em desembrulhar as peças e antes em fabricar a UCP – Unidade Central de Processamento – também automaticamente. Depois, os trabalhadores chineses realizam algum trabalho final e de verificação de qualidade através de testes específicos, sendo que alguns já feitos automaticamente.
Enfim, com isso o capitalismo conseguiu fornecer grande número de objetos a preços acessíveis, até porque toda a organização altamente parcelar e especializada e robotizada do trabalho pressupõe o fabrico em séries muito grandes. Mas o capitalismo nunca se contentou com os lucros obtidos e deslocalizou-se de país em país para realizar lucros cada vez mais elevados até ver esses lucros encadearem-se uns nos outros para formar longas cadeias em que o próprio capitalismo se enforca a si mesmo numa crise que ninguém quer estudar..
O que é hoje insuportável para as direitas capitalistas é a existência de trabalho altamente profissionalizado e de formação muito cara como os magistrados, médicos, professores, gestores públicos, economistas, juristas, etc. A atual crise é na verdade a continuação da revolução taylorista e fordista ao chamado funcionalismo público, portanto, aos tais médicos, magistrados, etc. Há uma evidente desproporção em Portugal entre o custo de um/a operário/a de fábrica a 500 ou 600 euros mensais e uma tratamento cancerígeno ou uma operação a qualquer parte do corpo com um cirurgião, ajudante, anestesista e pessoal de enfermagem altamente especializado. Para um homem como o Dr. Macedo, um economista racional, gastar milhares de euros para salvar um trabalhador a 500 euros mensais é irracional. E não é só para um ministro português, mas também para uma Angela Merkel, um Berlusconi, etc.
Os chineses maoístas tinham resolvido o problema com os chamados “médicos de pé descalço” que praticavam uma medicina chinesa própria para o proletariado a 50 cêntimos à hora. Para eles, o “material humano” nada vale e daí termos visto num vídeo uma menina de poucos anos atropelada numa rua sem que 18 chineses que passaram por ela dedicasse a mínima atenção. A China Capitalista-Comunista, revolucionou o Mundo moderno ao conseguir fazer retroceder as sociedades humanas ao Mundo do Século XIX em que o capital humano pouco ou nenhum valor tinha. Este capitalismo é a causa do que designo por “Falência da Modernidade” e que carece de um estudo filosófico e de economia política mais aprofundado, baseado nas modernas filosofias do desconstrutivismo.
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