Há 33 anos, numa madrugada inesperada, a liberdade surgiu de um cano de G-3 com uma cravo vermelho implantado. Muitos julgaram que se tratava de um pequeno intervalo entre duas ditaduras e escreviam nas paredes “pedimos desculpa por esta interrupção, a ditadura segue dentro de momentos”.
Afinal, muitos estavam enganados, a Liberdade com L grande veio para ficar e Portugal é outro, mais desenvolvido com um nível de vida bem superior e até com este fenómeno novo: em vez de emigrarem mais de dois milhões de portugueses como na década de sessenta, retornaram 700 mil portugueses das colónias e mais de meio milhão de cidadãos das mais diversas proveniências vieram trabalhar para Portugal. A integração dos retornados foi feita pacificamente como pacífica é a presença de tantos estrangeiros.
Portugal tem hoje uma maioria parlamentar e um presidente eleitos pelos portugueses na mais completa das liberdades e sujeitos a todas as críticas livres. Recordemos que Salazar nunca consentiu em eleições livres e criminalizou-se face às suas próprias leis ao organizar eleições sempre fraudulentas.
Portugal é mais desenvolvido e está bem inserido numa Europa próspera, pacífica e democrática, mas vive num mundo que não pára em que tudo está em permanente mutação a carecer de um esforço tremendo para se adaptar a tanta coisa nova que surgiu nestes últimos trinta e três anos. Nenhuma construção humana é definitiva e nenhum de nós está aqui para sempre.
Os portugueses criaram, sem dúvida, uma sociedade democrática que proporciona a escola para todos, os cuidados de saúde para todos e uma razoável segurança social, além de terem muitos mais empregos que antes, mas ninguém é perfeito; os alunos são melhores ou piores como os profissionais de qualquer sector, pelo que as instituições e empresas vão tendo o seu ciclo existencial e muitas não conseguem acompanhar os progressos e transformações vindas de fora. Cada um é como é e só muito lentamente é que se vão fazendo adaptações a realidades que surgem repentinamente.
Portugal não tem ainda uma economia tão próspera como a que todos gostariam de ter, mas no essencial nada falta e as estatísticas estão aí para o provar e os olhos para ver. Recorde-se que o grande objectivo do Governo Putin da poderosa Federação Russa era atingir o rendimento per capita dos portugueses e ainda não conseguiu apesar da valorização das suas imensas riquezas em petróleo, gás natural e minérios. Portugal não foi bafejado pela natureza com qualquer riqueza em especial.
Para 2,8 milhões de famílias há 5,6 milhões de habitações, mais de 2 mil quilómetros de auto-estradas, o que significa o máximo europeu em termos proporcionais à superfície do País. Com Alqueva, Portugal ficou com a maior área líquida artificial do Mundo relativamente também aos seus parcos 92 mil quilómetros quadrados de superfície. Em termos de camas hospitalares, médicos por habitantes, alunos por professor, automóveis por habitantes, telemóveis, computadores, aparelhagem electrodoméstica em casa, consumos de bens alimentares e de vestuários, etc., Portugal está perfeitamente a par dos países com melhor nível de vida europeu.
Enfim, com um PIB que será, se o é, de 75% da média europeia fizeram-se milagres e conseguiu-se mesmo estar, segundo a Organização Mundial de Saúde, entre os países com os melhores indicadores de saúde do Globo.
A 25 de Abril de 1974, quase um milhão de portugueses vivia em barracas imundas. E aí estão por todo o País, milhares de bairros sociais que substituíram centenas de milhares de barracas. Foi no bem mais caro e mais difícil de obter, a casa, que se concentrou o esforço público, essencialmente na habitação social e no apoio ao crédito jovem para aquisição de casa própria.
Enfim, o País não é um Paraíso, o desenvolvimento democrático é uma construção permanente porque a lei da vida está sempre presente, uns dão lugares a outros e muito do que serviu até agora já não serve, carece de substituição, reorganização ou modernização. E resolvido um problema, este passou ao esquecimento, surgindo situações novas e sempre problemáticas.
Mas, enfim, valeu a pena a Revolução dos Cravos e valeram a pena estes 33 anos de democracia.
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