O fecho da antiga fábrica portuguesa INDELMA adquirida há três anos pelo grupo multinacional Alcoa permite especular sobre o eventual fecho da Auto-Europa.
Efectivamente, a Alcoa tinha como único cliente a multinacional Volkswagen que produz também na Hungria para onde foram deslocalizadas as produções da Alcoa e de onde será, por enquanto, abastecida a Auto-Europa com os componentes produzidos pela ex-Indelma.
A especulação tem a ver com o facto de os salários na Hungria não serem muito mais baixos que os praticados em Portugal e as despesas sociais e impostos serem até superiores, além de que a moeda húngara está proibida de se desvalorizar por via da sua presença na União Europeia e que se admite, como possível, que no prazo de três anos, os húngaros venham também a substituir a sua moeda pela Euro, o que terá um efeito ainda mais gravoso nos respectivos custos salariais.
Estando a economia húngara em crescimento acentuado, não custa acreditar que no prazo dos referidos três anos, os salários daquele país sejam superiores aos portugueses.
Actualmente os salários húngaros são da seguinte ordem:
Salário mínimo anual: Eu 4.350,00 = Eu 370,00/mês em 14 meses.
Salário médio anual do trabalhador não especializado: Eu 7.300,00 = Eu 527,00/mês (14x)
Salário médio anual de trabalhador com alguma especialização: Eu 10.100,00 = Eu 727,42/mês (14x)
Salário médio anual de engenheiro, gerente, quadro em geral: Eu 42.700 = Eu 3.050,00/mês.
Os descontos para a segurança social completa, saúde e reforma, são de 48%, sendo 38% a pagar pela empresa e 10% pelo trabalhador.
A Hungria luta com grandes dificuldades no que respeita a trabalhadores especializados e técnicos. A literacia é elevada, mas a especialização profissional reduzida e uma parte importante da população ainda trabalha na agricultura.
Estes números traduzem uma evidência. A deslocalização da Alcoa só tem sentido se for do conhecimento dos seus administradores que a Auto-Europa venha a fechar, pois o ganho em salários é quase nulo na Hungria e poderá ser eliminado pelos elevados custos de transporte da Hungria para Portugal e num futuro muito breve deverão ser bem superiores. Acrescente-se ainda que a indemnização de dois meses por ano de trabalho aos trabalhadores portugueses mais um prémio de mil euros significa uma média de mais de vinte e cinco salários. Quer dizer que a Alcoa terá nos próximos três anos custos superiores aos que teria se ficasse em Portugal e depois é natural que venham a ser sempre superiores.
Ou os administradores e donos da Alcoa não sabem fazer contas ou a Auto- Europa da VW vai mesmo fechar.
A VW produz qualidade, mas os seus carros são excessivamente caros quando comparados com o material que está a vir do Oriente. Um Chevrolet Kallos fabricado na Coreia do Sul custa ca. de 10.000 Euros quando um Pólo não fica por menos que uns 14.000,00 Euros ou mais.
Além disso, as viaturas de grandes dimensões como as que a Auto-Europa produz não têm grande futuro devido às emissões de CO2 e ao elevado preço da gasolina, a não ser que venham a funcionar com biodiesel mais barato.
O eixo da indústria automóvel está orientado para Leste, onde as respectivas populações não possuem viaturas em quantidade equivalente à dos portugueses com um parque de carros ligeiros superior a cinco milhões.
Além disso, o fabrico em países de mão-de-obra muito mais barata está cada vez mais na moda. A VW importa do Brasil o seu pequeno Fox; a Citroen e a Peugeot vendem o C1 e o 107 fabricados na fábrica da Toyota na China, onde também é produzido um modelo semelhante da referida marca.
O eventual fecho da Auto-Europa vai provocar um importante prejuízo à economia portuguesa e só tenho esperança de estar errado na minha especulação. Mas, o facto vem corroborar a minha opinião de que as multinacionais não são um bem para países pequenos. E a Auto-Europa está já a prejudicar a economia nacional, pois a Alcoa é uma das várias fábricas que fecharam e que se destinavam a produzir componentes para as viaturas Sharon e Alhambra.
Repare-se que há um número importante de grandes empresas com um volume de negócios superior ao Produto Interno bruto português. Entre outras conta-se a Wal Mart, a Daimler-Chrysler, a Siemens, a GE, a GM, a Ford, a Toyota e muitas outras.
Portugal tem feito um péssimo negócio com as multinacionais, pois a sua excentricidade geográfica e reduzido mercado leva a um imediato desinteresse das multinacionais logo que haja um pequeno problema de competitividade.
Muitas empresas vendidas a estrangeiras fecharam e foram deslocalizadas.
Enfim, deixámos todos de estar protegidos pelo comunismo arcaico que governava metade do mundo à maneira colonial, isto é, sem exportações, consumos e fabricos em série.
Hoje, a China Comunista oferece um proletariado a 40 Euros mensais com dias de trabalho normais de 12 ou mais horas e os antigos países comunistas como a Hungria, Roménia, Rússia, Ucrânia lutam entre si para oferecer custos laborais cada vez mais baixos, se bem que os países mais pequeno como a Hungria, a República Checa, a Eslováquia e as Repúblicas Bálticas acabem por ver os seus salários subirem conforme os investimentos vão sendo feitos e vêm as ajudas comunitárias.
Enfim, Portugal não pode e não deve contar com o capital estrangeiro e o futuro imposto automóvel terá de ter em consideração que os carros são importados e que a economia não está em condições de manter a actual taxa de cobertura de 64% no comércio externo, isto é, as exportações nacionais pagam apenas 64% das importações e os trabalhadores estrangeiros enviam parte dos seus salários para fora, estando a balança turística ligeiramente equilibrada a favor de Portugal, mas não o suficiente para compensar a importação de bens e serviços.
A ideia peregrina de aplicar uma taxa extra às viaturas mais antigas é um crime contra os interesses dos portugueses, pois são carros detidos pela população de menores recursos e alimentam uma vasta indústria oficinal de reparações que emprega dezenas de milhares de trabalhadores.
NOTA ADICIONAL. De acordo com o noticiário veiculado ontem, a Auto-Europa vai investir 500 milhões de Euros, o que permite deduzir que vai haver um sucessor para o Sharon/Alhambra e que a AE continuará como fornecedora de partes de carroçarias para outras fábricas do grupo VW. Estou contente por por estar enganado, apesar de não compreender certas deslocalizações feitas por empresas fornecedoras. Talvez venham outras a substitui-las.
Dieter Dellinger
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