Jornal Socialista, Democrático e Independente dirigido por Dieter Dellinger, Diogo Sotto Maior e outros colaboradores.
Quinta-feira, 1 de Março de 2012
A Merkel perdeu a Guerra
A Merkel perdeu a “guerra”, ou seja, o controle que detinha no BCE através do Trichet. Draghi resolveu fazer o que era preciso, emitiu em poucos dias mais de um bilião de euros para emprestar por dois a três anos à banca a 1%. Injetou a tão indispensável liquidez no mercado, cuja falta levou Portugal a vender ativos essencias e estratégicos a uma potência comunista, deixando estatizar uma parte da pátria lusa. O próprio Durão com o van Rompuy foram pedir dinheiro à China quando havia no BCE uma plataforma informática dupla, o Target2, que permite emitir moeda e equilibrar os saldos entre países e nos países entre bancos. Merkel queria que o programa não permitisse saldos negativos como foi o português em Dezembro da ordem dos 60 mil milhões de euros, compensado automaticamente pelo saldo excessivo da Alemanha de 500 mil milhões de euros.
A Target2 não tem a ver com a palavra objetivo, mas é o acrónimo de “Trans-European Automated Real-Time Gross Settlement Express Transfer System”, funcionando um pouco como a Câmara de Compensação dos cheques. O 2 significa que são duas plataformas iguais e que fazem as mesmas operações para evitar que em caso de avaria de uma não se percam dados importantes, ou mesmo, moeda.
O BP tem o Target2 para as transações interbancárias MMI e o BCE para as transações entre países do Euro, operado também com as reservas
depositadas pelos bancos no BCE e com as reservas em divisas obtidas pelos diversos países, fazendo igualmente o tratamento das operações dos bancos com o BCE que podem utilizar a injeção de capital para comprarem dívida pública a juro mais elevado e depositar os respetivos títulos no BCE e obter mais moeda. Qualquer pagamento português ao estrangeiro vai ao Target2 do BP e deste ao seu homólogo do BCE. A criação de moeda produz duplos excedentes que permitem aos PIGS não irem à falência por cessação de pagamentos.
Draghi teve o apoio do Banco de França e de todos os outros com excepção do alemão que parece não ter votado e demitiu-se em sinal
de protesto. Só a Finlândia e a Holanda é que acompanharam a Alemanha.
O presidente do BCE foi influenciado pelo grande economista que Monti, o atual PM italiano, e autor da carta que passou por ser da autoria de Cameron.
Monti mandou a carta a Cameron para obter o seu apoio e algumas correções e resolveram que passaria a ser o britânico a apresentar-se como autor. Doze países assinaram, mas o Coelho teve medo e refugiou-se na toca. Agora, percebendo as vantagens que advêm para Portugal de grande parte da Europa se ter libertado da Merkel foi a correr à Itália manifestar o seu apoio a Monti e pedir desculpa de não ter assinado a carta. Muita gente criticou Draghi e Monti por terem trabalhado em grandes instituições e bancos internacionais, mas foram os primeiros que fizeram frente à poderosa Alemanha e são dos melhores economistas que a Europa tem. No fundo é como criticar um bom mecânico que trabalhou para a Ferrari só
porque a clientela é milionária.
Terça-feira, 8 de Junho de 2010
Dieter Dellinger: A Loucura Alemã
Ouvi hoje pela Radio Deutsche Welle a Sra. Merkel a apresentar o seu plano de austeridade para a Alemanha. Se não soubesse que a senhora não fala uma palavra de português e que, provavelmente deve confundir Portugal com a Espanha como fez um tal comissário europeu para a economia, julgaria que o discurso dela teria sido escrito pelo Medina Carreira.
A tontinha da Merkel gritava bem alto, não sei se no Parlamento ou numa conferência de imprensa, que os alemães teriam vivido nas últimas décadas acima das suas possibilidades e daí a necessidade de um pacote de poupança governamental da ordem dos 80 mil milhões de euros.
Fiquei espantado e incrédulo, a Alemanha registou em 2009 uma queda do seu Pib de 5,9%, o que é a maior deflação desde os anos vinte do século passado, o que recomendaria um crescimento do consumo interno. Simultaneamente a Alemanha exportou mais de 1,6 biliões (milhões de milhões) de euros e importou cerca de 1,2 biliões, registando um dos maiores saldos positivos de qualquer país do Mundo, o que significa que a economia viveu muito mais da exportação do que do consumo interno e no ano passado, a Alemanha investiu no exterior cerca um bilião de euros, sendo actualmente a nação que regista o maior volume de investimentos externos do Mundo, o que lhe proporciona um PNB ou RN (rendimento nacional) muito superior ao PIB que é duas vezes superior ao português.
Como exportador, a Alemanha ficou ligeiramente abaixo da China, mas por capita as suas exportações são quase 15 vezes superiores às dos chineses, sendo igualmente superiores às americanas, japonesas, etc. e continuam a subir, mas sem que os empresários queiram fazer algum esforço. Um cliente meu esperou seis meses por um Mercedes e outro que teve um acidente num VW Sharon da Auto-Europa quis comprar outra viatura igual e disseram que teria de esperar cinco meses, pelo que foi adquirir outra marca.
A dívida pública alemã atingiu um valor moderado de uns 63% do Pib e o seu défice público foi da ordem dos 5,5%, um número relativamente baixo.
Mesmo assim, a Sra. Merkel lançou um pacote que retira benefícios a todos os reformados e trabalhadores em geral e que pretende reduzir despesas em todos os sectores públicos, o que não se compreende porque o défice público resultou do apoio à banca que incluiu a compra do tal papel que nada valia e que não se deverá repetir este ano.
Os alemães estão na sua tradição de ser um povo exagerado em tudo, tanto na asneira como em aspectos mais positivos. No caso da Merkel, é na asneira, pois o seu pacote económico leva à redução do consumo interno.
Ao longo dos sessenta e dois anos de vida da República Federal da Alemanha, os governantes alemães viveram e continuam a viver com a obsessão da inflação. É certo que a Alemanha viveu uma terrível inflação há um pouco menos de noventa atrás, mas tanta coisa mudou desde então que é impossível a repetição daqueles anos em que o pão custava milhões de marcos e o senhor dos bigodes subiria ao poder. Qualquer político alemão deve saber o suficiente de história para nem pensar nos anos vinte do Século XX.
Devido a essa obsessão, os alemães defenderam e defendem a moeda forte sem pensar que a queda do euro em 15% desde Janeiro é favorável às exportações europeias e dificulta as importações oriundas da China e outros países para a zona euro. Para além disso, a Merkel não se preocupa com os seus parceiros europeus, quer um euro forte para que os seus trabalhadores utilizem bens de consumo baratos vindos da China e produzam bens muito caros e altamente especializados, esquecendo-se que 70% das exportações alemãs ficam na Europa.
Os alemães sob a batuta de uma senhora licenciada em física desconhecedora do verdadeiro significado das economias e suas relações globais querem impor a toda a Europa os seus pontos de vista, agravando a situação alemã e europeia em geral.
Aparentemente, a Sra. Merkel acredita nas mentiras que envia para o exterior quanto ao desemprego de 8,7%, pois mais de 4% dos seus trabalhadores trabalham a meio tempo com 40% do seu ordenado pago pelo Fundo de Desemprego. Na verdade, o verdadeiro desemprego alemão é da ordem dos 10,7%, o que é excessivo para um grande país exportador que possui imensas reservas monetárias.
O objectivo da Merkel é o típico das ligações entre a direita democrata cristã e os liberais, ou seja, reduzir custos do trabalho e sociais para tornar os ricos ainda mais ricos.
No seu pacote económico, a física Merkel incluiu algo de muito perigoso e um engano para a população. Assim, autorizou a continuação do funcionamento das velhas centrais nucleares a troco de um imposto especial sobre as respectivas empresas. Os contribuintes julgam que recebem mais, mas não podem contabilizar o perigo acrescido de acidentes em centrais com muitas décadas de existência.
Os desempregados a partir de um certo espaço de tempo deixam de receber do Estado um subsídio de reforma destinado a fazer com que o período de desemprego não prejudique a pensão futura que na Alemanha passa a ser recebida só a partir de 67 anos, excepto em algumas profissões muito desgastantes. Também o tradicional e muito antigo apoio ao pagamento de rendas de casa e aquecimento a pessoas com baixos rendimentos foi cortado tal como o apoio à natalidade e o abono de família e apenas reduzido para pessoas de baixos rendimentos.
Enfim, a pressão anti-social que se apoderou de toda a Europa e leva a Comissão em Bruxelas a forçar a nota e todos os governos europeus a serem mais injustos, pode conduzir a Europa a um desastre e nada fará para debelar a crise global que vivemos, antes pelo contrário, vai acentuá-la.
Os alemães e muitos europeus vão ter, sem dúvida, ocasião para se arrependerem num futuro próximo.