Passos Coelho, Portas e Gaspar cometem um grave erro em limitarem os seus verdadeiros contactos com o exterior à troika na questão da crise. A reunião do Conselho de Estado não deveria ter tido lugar na passada sexta-feira, pois nesse dia os governantes portugueses deveriam estar a negociar em Roma com a Itália, Espanha, Irlanda e Grécia.
O governo português deveria conhecer a evolução do PIB alemão e reparar que a intolerância da Merkel vai variando com a evolução do PIB alemão.
Assim, desde o terceiro trimestre de 2011, o PIB alemão vem diminuindo de três em três meses, descendo de 663,12 mil milhões trimestrais para 648,50 mil milhões no fim do segundo trimestre deste ano. Foram três trimestres de queda que define recessão técnica com perda de quase 14 mil milhões trimestrais ou cerca 40 mil milhões no período de nove meses. Isto depois de ter tido um aumento notável entre o primeiro trimestre de 2011 e o terceiro do mesmo ano. Nesse período, Merkel caracterizou-se pela sua arrogância extrema e está a mudar porque o PIB alemão deverá passar dos 2.570 mil milhões para os 2.520 milhões, o que equivale a cerca de 15 vezes o Pib português. Mas, o futuro não é risonho, pois o índice alemão IFO de perspetiva de negócios desceu de 109,9 em Abril passado para 102,3 em Agosto, havendo indícios de que continua a descer. A Alemanha de Merkel começa a sentir como é estúpida a vontade de castigar os países do sul da Europa e agarrar-se à ideia de redução das despesas estatais como se fosse a salvação desses países e da própria Alemanha quando é o contrário que se verifica.
O excelente livro de Paul Krugman “End this Depression Now!” dá-nos uma visão muito correta do que se passa e do caráter artificial da crise europeia, comparando-a com os EUA, Canadá, Japão e faz mesmo uma curiosa comparação entre a Finlândia com o euro e a Suécia e a Dinamarca sem a moeda comum.
Krugman acusa o BCE de ser o verdadeiro autor da crise europeia que se está a espalhar como verdadeiras metástases pelos mais diversos países, incluindo pelo Reino Unido que não tendo o Euro, tem um governo que faz a mesma política da direita como fará o candidato republicano se chegar à Casa Branca.
Krugman defende a emissão de moeda como solução desde que os indicadores de inflação não atinjam valores acima de um limite máximo de 5% em vez de uma taxa de desemprego gigantesca no conjunto dos países do Euro.
Com a possível adesão da França e Luxemburgo às pretensões da Espanha, Itália, Grécia, Irlanda, Islândia e, eventualmente, Portugal, tem uma conjunto de países com um importante peso na Zona Euro com mais de 200 milhões de habitantes, ou seja, mais de metade da população que utiliza o Euro.
Um Banco Central Europeu com mais pretensões que a simples estabilidade da moeda e com alguma sensibilidade macroeconómica e social deveria realizar as seguintes tarefas:
1) Emitir moeda para comprar ativos menos convencionais como dívida pública e privada a baixo juro e a longo prazo, mesmo de 30 ou mais anos.
2) Utilizar moeda emitida para reduzir impostos que castiguem o trabalho e os bens transacionáveis.
3) Comprar títulos de tesouro a 10 anos com um juro de 2,5% e a 3 ou 5 anos a 1,75 ou 2%.
4) Comprar dólares e outras divisas para desvalorizar um pouco o Euro para tornar as exportações da Zona Euro mais competitivas.
5) Estabelecer objetivos de inflação de valor mais elevado como 3 a 4% nos próximos 5 a 10 anos.
6) Com estas políticas financeiras permitir renegociar os memorandos da troika e afastar o Fundo Monetário Internacional. A Europa é suficientemente poderosa e grande para prescindir do FMI que foi criado mais para ajudar os países mais pobres do Terceiro Mundo do que as birras da Merkel.
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