No próximo dia 19, o PS comemora o seu quadragésimo aniversário com um jantar em Coimbra.
A pergunta que muita gente me faz e que considero endereçada ao PS na totalidade é se foram realizados os objetivos do PS.
Eu respondo que sim e com o fundamento de ter estado também na fundação em 1969 do clube de pensamento que originou o PS, a Cooperativa de Estudos e Documentação, que servia de capa à ASP-Ação Socialista Portuguesa. A ASP foi criada antes a partir da Ação Republicana e Ação Republicana Social até ser Socialista, mas, o grande número de aderentes vieram através da CEUD – Comissão Eleitoral de Unidade Democrática, permitida pelo fascismo de Marcelo Caetano para concorrer às pseudo eleições democráticas de 1969.
Na Cooperativa de Estudos e Documentação é que pensámos o futuro da sociedade portuguesa e do Mundo e elaborámos os princípios do PS. Queríamos em primeiro lugar uma sociedade democrática europeia e progressista com eleições livres, parlamento, autarquias eleitas, liberdade de expressão e de organização sindical e desejámos para essa sociedade o fim do analfabetismo e um sistema escolar para todos que desse a oportunidade a qualquer aluno para tirar um curso superior e não foi por acaso que o então ministro da educação Veiga Simão era membro da cooperativa e muito amigo de alguns dos seus dirigentes, tendo sido mesmo a personalidade que evitou que a polícia de antes do 25 de Abril tivesse fechado a CED.
Queríamos também um sistema de saúde para todos e uma segurança social também generalizada, além das indispensáveis infraestruturas rodoviárias e telefónicas que permitissem a instalação de empresas em todo o País. Defendíamos o fim dos condicionamentos industrial, dos transportes, da atividade bancária, do comércio externo e de muita coisa mais. Queríamos um Estado forte com atividade económica dentro de uma economia livre de mercado. Liberdade para trabalhar também foi o nosso lema.
O mais curioso é que pensámos muito na crise do Século XXII, se bem que não aos modos atuais.
Por volta de 1973 a 74, o Clube de Roma, então o maior clube de pensamento do Mundo, previa o fim do petróleo no dealbar do século seguinte. Isso levou-nos a pensar muito no que seria o Mundo sem petróleo e nas consequências no desemprego com o fim do automóvel. Havia quem acreditasse que ainda existia muito petróleo, o que se veio a verificar e tudo indica que as reservas mundiais de petróleo deverão estar perto da extinção daqui a pouco mais de um século porque muitos países se libertaram do petróleo na produção de eletricidade, principalmente na Europa e descobriram-se novas reservas de petróleo no Mar do Norte, Alasca, Angola, Nigéria, Brasil, Argentina, etc.
Enfim, o PS não surge para se aproveitar do 25 de Abril que aparece menos de um ano após a sua fundação sem estar previsto por nós, mas sim do pensamento de um vasto grupo de pessoas capazes com ideais e sem medo do fascismo podre que nos governava. Saliento aqui homens como o Mário Soares, António Macedo, Magalhães Godinho e o seu irmão historiador, Salgado Zenha, José Ribeiro dos Santos, Catanho de Meneses, Godinho de Matos, Maia Cadete, Mário Mesquita, Jaime Gama, Arons de Carvalho, António Arnaut, Fernando Vale, Raúl Rego, Gustavo Soromenho e tantos outros que por não serem lisboetas não mantive um contacto tão intenso. Claro, muitos fundadores e militantes estavam no estrangeiro como Tito de Morais, José Neves e muitos mais. De acordo com o ficheiro que eu dispunha na qualidade de tesoureiro da Cooperativa de Estudos e Documentação, foram 110 os militantes que fundaram o PS de entre os quase 200 associados da Cooperativa. Havia pessoas inscritas na CED que nunca chegaram a ser do PS e nem souberam que aquilo escondia um partido político. O Luís de Freitas Branco fez a uma dada altura uma série de sessões dedicadas à ópera com audição de discos e explicações. Por isso, várias pessoas se inscreveram na Cooperativa com a ideia de que aquilo era mesmo uma Cooperativa cultural. Para mim, as quotas dessas pessoas, principalmente senhoras idosas e alguns homens, eram muito bem-vindas.
Recordo ainda que o governo fascista quis fechar as cooperativas de índole ideológica como designava e exigiu o envio dos estatutos à autoridade competente sem especificar bem qual a autoridade. O nosso camarada José Ribeiro dos Santos, então diretor para a ciência da Gulbenkian, pediu ao Veiga Simão para aprovar os estatutos, o que foi prontamente feito. Até éramos uma cooperativa de estudos.
Passado algum tempo apareceu um capitão da polícia com vários guardas para fechar a cooperativa. Mostrámos-lhe o despacho do Ministro da Educação e o homem ficou parvo a olhar para aquilo. Depois recebemos um ofício do Ministro do Interior a pedir o envio do Estatutos com um selo fiscal de 300 escudos, o que significava que iriam aprovar os estatutos, o que foi feito.
Nessa altura tivemos a primeira birra com o PCP que nos tinha imitado, criando cooperativas, mas que se recusaram a enviar os estatutos às autoridades fascistas e queriam que também o fizéssemos. Eu era então o amigo de ligação entre socialistas e comunistas e participei em muitas conversas secretas em público em diversos cafés e restaurantes e fiz depois parte da direção do MDP-CDE quando o pessoal da CEUD se integrou no MDP, mas sem que os comunistas soubessem que éramos o embrião do partido socialista. Quando contei ao meu contacto comunista que tínhamos fundado um partido socialista, o homem ficou branco, parecia que ia desmaiar. Ficaram fulos pois queriam ser os únicos donos do socialismo e desejavam a fundação de um partido democrata-cristão para abalar por dentro o regime fascista com os princípios da Igreja Católica.
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