O Jornal Público está a virar um bocado à esquerda e compreende-se.
Sendo o jornal a “voz do dono”, este não está satisfeito com a situação atual. As classes médias estão a fazer uma espécie de greve ao consumo, uns por imperiosa necessidade e muitos outros por receios quanto ao futuro e por ouvirem diariamente que os portugueses viviam acima das suas necessidades.
De alguma forma, pode dizer-se que as classes médias passaram de 37,2% da população em 1988 para 51,8% em 2008, isto nos homens. Nas mulheres consideradas individualmente não foi tanto assim, mas o número de mulheres casadas a trabalharem aumentou bastante, pelo que os seus salários vieram acrescer ao dos maridos, permitindo às famílias um melhor nível de vida, salientando-se que a queda da natalidade que potenciou a capitação familiar.
No mesmo período de tempo, o operariado industrial e agrícola passou de 62,8% da população masculina para 47,7% e nem todo o operariado pode ser considerado pobre ou proletário., pelo que podemos cifrar os vários estratos populacionais tidos como médios em 60 a 65%.
Hoje, assiste-se a um empobrecimento acelerado das classes médias, principalmente a elevada percentagem daqueles que caíram no desemprego, já mais de 15% da população ativa, acrescentando-se os reformados médios que perderam mais de 25% de poder de compra em 2011 e 2012. Os mais pobres ficaram ainda mais pobre por via dos aumentos do IVA e da retirada de apoios como o RSI e o Complemento Social de Idosos.
Tudo isto traduz-se nas vendas dos supermercados e, principalmente, nas margens de lucro; Pingo Doce, Continente, Hipermarchais, etc. tiveram que entrar no esquema do desconto duro com margens mínimas nas lojas e nos produtores.
Acrescente-se ainda que uma das características da civilização do bem-estar residia no excesso de consumo alimentar, nomeadamente de produtos açucarados. Hoje, sabe-se que o açúcar é uma droga, suscetível de criar dependência e obesidade com uma vida mais curta. A venda de gelados do Santos caíram imenso também; aquilo é veneno, principalmente para as crianças.
A vida está feia para o Belmiro, Alexandre Santos como para os franceses dos Hipermarchais e os alemães dos Lidl, etc. Isto para não falar em outros bens como automóveis, combustíveis e até, curiosamente, passageiros nos transportes públicos. Por exemplo, a venda de telemóveis caiu 21% no segundo trimestre em Portugal, relativamente ao período homólogo do ano anterior. Foram vendidos 96 mil aparelhos a menos por mês. A venda de Smartphones não compensou a quebra brutal nos telemóveis. Os automóveis estão ter quebras da ordem dos 45% quando já no ano anterior tinham caído as respetivas vendas.
A publicidade histérica da Worten e outras lojas de materiais supérfluos com o apelar ás crianças para obrigarem os pais a comprarem mochilas bonitas, cadernos, material de escrita, etc. mostram que essas empresas estão desesperadas como está o setor dos automóveis.
Os portugueses são pacíficos. Não reagiram à austeridade com cocktails Molotov ou pedradas na polícia, preferiram a greve quase geral ao consumo e fazem muito bem se, com isso, conseguirem reduzir peso a mais e não gastar em futilidades fabricadas na China por empresas coreanas e alemãs.
Claro, desta greve surgiu a queda nas receitas do Estado e com o aumento já anunciado por Passos Coelho dos impostos em 2013, a greve será ainda mais acentuada.
É curioso que a venda de automóveis em toda a Europa está a cair a uma média de mais de 7% ao mês e os alemães começam a ficar preocupados e espantados com a quebra enorme nos seus modelos de luxo.
Repare-se que na China, várias altas individualidades do Partido Comunista perderam as suas posições privilegiadas por possuírem viaturas de grande potência, nomeadamente Ferraris. Segundo alguns blogues, essa gente, tanto políticos como milionários e oligarcas, estão a esconder as suas bombas ou a desfazerem-se delas, passando a circular em viaturas mais modestas.
No Dubai, vimos Ferraris de um milhão de euros abandonados no parque do aeroporto, porque os milionários estão a fugir do país e deixam as viaturas de luxo com a chave de ignição colocada e, provavelmente, com muitas prestações por pagar.
A crise começou há mais de cinco anos, mas parece que a procissão ainda vai no adro. A hora da Alemanha e de outros países que se julgavam blindados contra todas as crises está a chegar paulatinamente.
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