Jornal Socialista, Democrático e Independente dirigido por Dieter Dellinger, Diogo Sotto Maior e outros colaboradores.
Segunda-feira, 5 de Dezembro de 2016
Trabalhador Precário - Patrão Precário
No Expresso de Economia de 26 de Novembro é feita a descrição de um grande investimento alemão no alargamento de uma fábrica de pás para eólicas em Aveiro.
O responsável pela fábrica disse ao Expresso que ali em Aveiro não é difícil arranjar pessoal, mas sucede que após poucos anos de trabalho e já especializados os trabalhadores saltam para fora, mesmo para o estrangeiro. Naturalmente que vão ganhar muito mais.
Tenho ouvido queixas do género a todos os nívelis mesmo da dona de um café situado nas minhas vizinhanças que tem muita aparelhagem porque compram tudo congelado e em diveros fornos elétricos fazem pão e outras coisas. Há dias, a mulher do dono queixava-se que uma empregada muito eficiente e expedita resolveu ir-se embora de um dia para o outro sem aviso prévio. Deveria estar a trabalhar a recibos verdes ou a contrato muito curto. A rapariga vive longe de Lisboa e já ouvi queixar-se que gastava mais de duas horas por dia nesse "trabalho" improdutivo e extenuante que são as deslocações. Arranjou emprego a cinco minutos de casa com mais dez euros que o ordenado mínimo e comida.
O engenheiro de um estaleiro naval contou-me que a sua empresa emprega pessoal subcontratado e que os bons mecânicos de motores diesel navais estavam a faltar, só havia pessoal para limpar, lubrificar e apertar algumas portas e parafusos. Um dia tiveram lá um navio com uma avaria no motor e foram obrighados a pedir ao fabricante escandinavo para mandar dois mecânicos para fazerem a reparação e orientar o pessoal que têm. Estavam preparados para ter um intérprete de inglês e qual não foi o espanto deles, os dois mecânicos que vieram da Escandinávia eram portugueses.
A Auto-Europa resolve o problema do pessoal qualificado mandando-os trabalhar na Alemanha quando em Portugal não tem trabalho para toda a gente porque sabe que um bom montador de carros define a qualidade do mesmo. Há anos comprei um VW Golf em que o bujão da caixa de velocidades estava mal metido e o carro vertia óleo logo no primeiro dia. Fiquei sem o carro durante um mês para substituirem a caixa de velocidades.
Por toda a parte a qualidade do trabalhador é determinante e não são os ordenados mínimos ou quase que proporcionam essa qualidade. São aceites por jovens que querem treino e conhecimentos e depois saltam para fora. Nem é preciso ser cientista ou engenheiro programador de informática. Qualquer bom especialista arranja trabalho em muitos países da Europa e até nos EUA, Canadá, Austrália, etc.
Por isso não pensem os responsáveis pelas Associações Patronais que a Lei do Trabalho determina tudo. Na verdade, não determina absolutamente NADA.