Na Revista de Marinha de Abril/Maio fizemos uma descrição da marinha iraniana e referimos a existência de mísseis anti-navio FK “Nour” que seriam uma cópia dos congéneres chineses FK C-802 com um alcance de 200 km que poderiam ser lançado por um helicóptero ou por uma vedeta iraniana da classe “Hudong”. Mal sabíamos, que meses depois esse tipo de míssil, obviamente fornecido pelo Irão, poderia ter servido para atacar um dos mais modernos navio de guerra israelita, a corveta (SAAR 5) Ahi-Hanit que operava no bloqueio ao porto de Beirute na sequência da guerra iniciada por um partido político bem armado, o Hezbollah ou Partido de Deus(?).
O comando do Corpo Naval Israelita começou por anunciar que o navio foi atingido por um avião sem piloto carregado de explosivos e depois, perante os estragos, anunciou que se tratou do míssil FK C-802, o que me parece inverosímil, dado que o C-802 carece de uma importante infra-estrutura de lançamento e trata-se de uma arma para destruir navios de 10 mil toneladas a grandes distâncias. Se tivesse atingido a corveta israelita, esta teria sido desfeita. E não parece que Hezbollah disponha de meios para lançar o C-802. O míssil que atingiu a Ahi-Nahit deverá ter sido antes o C-701 iraniano, uma versão melhorada do C-701 chinês denominada “Kosar” que utiliza um radar autónomo de ondas milimétricas em vez do sistema electro-óptico chinês. O “Kosar” destina-se mesmo a ser lançado a partir de pequenos camiões em grupos de dois ou mais contra objectivos que estejam à vista. Para além disso, os responsáveis israelitas disseram que o sistema anti-míssil da corveta estava desligado. Não esperavam um ataque tão sofisticado como não esperavam muito do que já sofreram.
A corveta de desenho furtivo (anti-radar) com 1200t de deslocamento máximo e uma guarnição de 71 homens foi atingida no dia 17 de Julho pelas 20.15 quando lançava sobre o aeroporto de Beirute granadas de 76 mm das suas duas peças automáticas Oto Melara. Os militares do Hezbollah dispararam de terra, provavelmente dois mísseis C-701. O primeiro dos foi guiado para um voo em altura para atingir a corveta a meia-nau de cima, mas falhou o alvo e explodiu no mar, devendo ter provocado estragos num navio mercante egípcio que estava por perto. O segundo foi dirigido numa trajectória rente à água como um míssil de cruzeiro e atingiu a plataforma do helicóptero à ré do Ahi-Nahit. A explosão do míssil deflagrou um incêndio e provocou um rombo que começou a provocar o afundamento do navio.
Aparentemente perdida com o fogo já nos depósitos de combustível do helicóptero e do navio, a corveta foi salva pela acção heróica da guarnição que se lançou com uma incrível energia sobre as chamas para as apagar, o que conseguiram em pouco tempo, antes de haver uma explosão com a destruição do navio que foi salvo com a perda das preciosas vidas de quatro membros da sua guarnição, dados inicialmente como desaparecidos, mas um dos corpos foi encontrado no navio e os outros três no mar.
O ataque à corveta Ahi-Hanit foi a terceira surpresa desagradável registada por Israel em cinco dias apenas. A primeira foi o ataque por parte de guerrilheiros do Hezbollah que penetraram cerca de 200 metros para o interior de Israel em Zarit e atacaram com lança-granadas RPG-29 e bombas de estrada duas viaturas de patrulha militar Hummer que vigiavam a fronteira com o Sul do Líbano de onde as forças israelitas retiraram há seis anos unilateralmente sem que lhes fossem dadas garantias de segurança e Paz na zona. Os hezbollahs assassinaram oito soldados do exército e raptaram dois. Na sequência desse ataque, os israelitas enviaram um tanque Merkava em perseguição dos raptores, mas estava tudo muito nem preparado, pelo que o tanque foi de encontro a uma bomba de 300 quilos que o desfez inteiramente, matando a guarnição de quatro homens e mais um outro militar. O exército israelita ficou deveras surpreendido com o poder das bombas lançadas ao longo da sua fronteira e lamentou o desleixo militar com que manteve aquela zona ao longo dos últimos anos, nomeadamente a falta de uma rede de informações. Até agora ainda não foi dada qualquer explicação sobre o tipo de lançador das referidas bombas que denominaram em inglês de “roadside bombs”.
Impossibilitados de atravessarem calmamente a fronteira, os israelitas iniciaram ataques aéreas contra alvos do Hezbollah quase em simultâneo com o disparo por parte dos muçulmanos xiitas de milhares de roquetes Katyushas com um alcance de 25 a 35 km e mísseis Fajr-3 que atingem 45 km, Fajr-5 de 75 km e Zelzal-2 e -3 de 100 a 200 km . Os Katyushas das forças do Hezbollah são na verdade os roquetes mais modernos BM-21 Grad do tipo dos anteriores, mas mais precisos e com uma maior capacidade de transporte de explosivos e mais pequenos com menos de dois metros de comprimento, pelo que podem ser facilmente escondidos em garagens, armazéns e até casas particulares. Contudo, não são auto-dirigidos, pelo que a sua utilização pressupõe apenas o uso em fogo de barragem para a concretização de autênticos tapetes de destruição. Os Zelzal-2 e-3 serão os mais perigosos, pois para além do raio de acção levam uma carga de 600 kgs, mas as suas dimensões são superiores, pelo que podem ser detectados com mais facilidade pelos helicópteros Apaches de Israel.
O Hezbollah tem atacado com grande quantidade de mísseis cidades como Haifa e localidades bem mais para o sul, pelo que utilizou em larga escala os Fajr-3 e Fajr-4 fornecidos pelo Irão.
Saliente-se que a reacção relativamente rápida da aviação israelita tem impedido a utilização de milhares de roquetes de uma só vez e, menos ainda, dos mísseis de grande porte como o Zelzal-2 e -3 de origem iraniana, mas provavelmente fabricado pela Coreia comunista
A televisão do Hezbollah mostrou em voo um pequeno avião sem piloto carregado de explosivos que teria atingido a corveta Ahi-Hanit, o que não foi o caso; tratava-se de despistar a opinião pública e desviar as atenções dos israelitas da Síria para o Irão, pois, enquanto o primeiro desses países é facilmente bombardeável; um ataque a zonas sensíveis do segundo como terminais de carga de petróleo, depósitos ou refinarias teria consequências fatais na subida do preço do barril de petróleo, além de que a distância de Israel ao Irão não permite aos F-16 o transporte de mais que uma bomba de 2.000 libras, o resto de três ou quatro toneladas disponíveis para armamentos terá de ser preenchido com depósitos extras de combustível.
A marinha israelita, denominada de Corpo Naval e comandada por um tenente-general, tem a sua força de retaliação máxima nos três submarinos da classe “Dolphin” de que fizemos um artigo separado.
Trata-se pois de uma marinha de corvetas e lanchas rápidas de ataque, próprias para defenderem as costas israelitas com os mísseis Gabriel e agora também Harpoon. Anteriormente possuíam todas sistemas anti-míssil Barak de concepção israelita, mas que tem sido substituído pela peça de sete canos americana Vulcan Phalanx MK 15 de defesa curta.
As principais unidades de superfície são as 5 corvetas da classe Eilat (SAAR 5) a que pertencia a corveta Ahi-Hanit armada com duas peças de 76 mm Oto Melara , 6 peças de 30 mm AA Hispano-Suiza e lançadores do míssil israelita Gabriel. Podem levar dois helicópteros SA-366G Dauphin ou Kaman SH-2F, se bem que no hangar só há espaço para um meio aéreo.
Para além dos radares de procura e de controle de fogo, têm um Sonar Tipo 796 para o disparo de seis torpedos anti-submarinos Mk 32 e uma arma anti-submarina Bofors RL.
A maior parte dos restantes navios da marinha israelita são relativamente antigos e pequenos, apesar de muitos deles serem notáveis construções como a classe Reshef (Saar 4) de 450t equipados com 6 mísseis Gabriel, uma peça de 76 mm e um Vulcan-Phalanx. Algumas das onze unidades desta classe têm mais de 30 anos de serviço, pelo que estão em vias de atingirem o seu tempo máximo de serviço.
A classe Hetz ou SAAR 4,5 são igualmente notáveis lanchas rápidas de lançamento de mísseis com cerca de 500t de deslocamento máximo. São navios com 26 a 15 anos de existência com alguma história de combates.
Do equipamento naval israelita fazem parte muitas pequenas lanchas rápidas como as Super Dvora de 54t, as Shimrit de 105t e as Dabur de 35-39t. Todas de excelente construção pelo que muitas foram exportadas para os mais diversos países sul-americanos, africanos, etc.
Enfim, Israel apostou pouco numa guerra a sério e prolongada, pelo que não se equipou muito. Até uma parte importante dos seus caças-bombardeiros F-16 e F-15 são relativamente antigos, apesar de numerosos. Israel não pretendia atacar o Líbano ou qualquer outro país e estava disponível para encontrar uma solução pacífica com os palestinianos, ao contrário do que dizem os fanáticos do Hezbollah e os ayatolas do Irão.
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