Jornal Socialista, Democrático e Independente dirigido por Dieter Dellinger, Diogo Sotto Maior e outros colaboradores.
Quarta-feira, 23 de Junho de 2004
A TRAGÉDIA QUE SE AVIZINHA
No próximo dia 1 de Janeiro, 143 nações do Mundo vão poder exportar livremente para a Europa comunitária.
Nessas 143 nações labutam mais de cinco mil milhões de pessoas, contando-se, entre outras, os gigantes da Ásia como a China, a India, o Paquistão, a Indonésia, as Filipinas, a Malásia, o Vietname, a Coreia do Sul, etc., etc.
Principalmente a China que fabrica tudo como uma mão-de-obra paga com salários inferiores a 100 euros mensais.
Neste momento, os chineses fabricam os sapatos iguais aos portugueses a preços de 4 a 5 euros o par.
Assim sendo, a China, altamente industrializada, está hoje em vias de ultrapassar o Japão em exportações e tornar-se no primeiro exportador mundial.
Que resta a Portugal fazer? E à maior parte da Europa?
Deixar fechar todas as suas fábricas? Acabar com grande parte da agricultura, já que os chineses são também grandes produtores e nos campos a mão-de-obra é ainda mais barata?
As grandes empresas multinacionais e até as pequenas sentem que não têm outra alternativa senão deslocalizarem os seus centros de produção para a China. Assim, vão ensinando ainda mais os chineses e cavam as suas sepulturas.
É certo que a liberalização do Comércio Internacional foi negociada nos tratados assinados no âmbito da OMC (Organização Mundial do Comércio), nomeadamente no "Uruguai Round" e isto há alguns anos atrás.
Foi tudo muito combatido por muitos esquerdistas que diziam que a liberalização conduziria o Terceiro Mundo à ruina. Na verdade, o que sucede é que o Primeiro Mundo, nomeadamente a Europa, vão soçobrar completamente perante a ofensiva do Travalho "Escravo" da China, Vietname, India, Paquistão, Bangla-Desh, etc.
Mais importante que discutir uma pseudo-Constituição europeia e rererendá-la, seria saber o que fazer para DEFENDER O TRABALHO NACIONAL.
O Governo não tem estado a alertar os portugueses para a tragédia económica que aí vem e anda a enganar toda a gente com a ideia da retoma e de que esta será uma realidade quando países como a Alemanha, França, etc. saírem da crise.
Nada mais ERRADO. Depois de 1 de Janeiro de 2005 não haverá mais RETOMA. Portugal não tem espaço de manobra para produzir com a mão-de-obra mais barata da Europa, já que diferença para a da China é brutal e aterradora.
As exportações chinesas estão a abalar as fábricas de países de mão-de-obra ainda mais barata que a portuguesa como o Marrocos e o Brasil também já não é competitivo.
Que fazer pois?
A União Europeia deverá sair do "Uruguai Round" e dos acordos da OMC, impondo barreiras aduaneiras a uma nível que equilibre os custos de mão-de-obra entre os exportadores e a média comunitária europeia, se os países exportadores não alterarem profundamente a relação cambial das suasmoedas, valorizando-as para equilibrar em termos de "Paridade de Poder de Compra".
Enquanto isso não é feito, os portugueses devem COMPRAR PRODUTOS NACIONAIS o mais que possível. É certo que isso não resolve o problema das exportações e para o sector exportador, o mercado português é apenas uma pequena parte dos seus mercados.
Também uma pequena redução nos custos do Estado com eventual implicação na redução de alguns impostos não resolve nada, dado que o custo da mão-de-obra chinesa é cerca de um décimo do português, ou menos ainda?
Terça-feira, 22 de Junho de 2004
Casa Pia com Surpresas
Afinal há outros arguidos do caso Casa Pia que o público desconhece.
Segundo a TVI, um adulto de 29 anos terá estado em contacto com uma criança de 14 anos da Casa Pia que terá fugido de um local de férias.
Nada se diz sobre a identidade do homem que é arguido do caso Casa Pia e, pela idade, é óbvio que não se tratava de nenhuma das pessoas conhecidas e implicadas, todas de mais idade.
Afinal, qual o motivo para manter no segredo absoluto aquele arguido e, provavelmente, outros quando há vários cujos nomes foram amplamente divulgados?
O princípio básico da JUSTIÇA e ÉTICA é a igualdade dos cidadão perante a lei e perante o comportamento de polícias, procuradores e juízes. E não interessa se a pessoa é conhecida ou desconhecida. Ou divulgam-se todos os nomes ou nenhum. Os agentes da justiça não podem ter comportamente diferenciados em função das pessoas.
É evidente que faz falta uma cadeira de JUSTIÇA nos cursos de direito, onde se aprende muito sobre leis, mas nada sobre JUSTIÇA.
Quanto ao Paulo Pedroso foi há tempos anunciado que os autores do recurso contra o não pronunciamento de Paulo Pedroso teriam cassetes de intervenções televisivas feitas na data em que PP teria cometido crimes de pedofilia, Dezembro de 1999, em que se poderia ver que não utilizava o aparelho nos dentes.
Afinal, as tais gravações dessa data com PP sem o aparelho nos dentes não existem e a TVI mostrou hoje uma em que PP ao rir-se mostra os dentes e o aparelho, dizendo que quando falava normalmente não se veria o aparelho. É um facto na televisão com a câmara muito de frente, mas não será em situações completamente diferentes, a não ser que o juiz de intervenção tivesse pedido para PP colocar de novo o aparelho e verificasse que podia estar com ele muito tempo sem ver o aparelho, o que não fez, já que o Teixeira e o Guerra não fizeram investigação a fundo.
E ninguém pode provar que se possa ter relações sexuais sem sorrir ou abrir a boca e que nestas uma pessoa tenha uma postura igual à que teve em entrevistas formais dadas a uma estação de televisão..
Enfim, a TVI veio PROVAR que o elemento de prova inicial da procuradoria não existe afinal, filmes com PP sem o aparelho nos dentes de Dezembro de 1999. E a desculpa pelo FALHANÇO não cabe na cabeça de ninguém.
Domingo, 6 de Junho de 2004
Guerra: Colapso da Ética
Normandia Há 60 Anos
Comemora-se hoje o sexagésimo aniversário do desembarque na Normandia, uma das mais sangrentas batalhas desse imenso colapso ético que foi a II. Guerra Mundial e que só pode ser vista como isso, um colapso da ética ou moral política e militar, dado terem sido cometidos nessa guerra os maiores crimes que a Humanidade alguma vez conheceu e, a meu ver, só devem ter lugar na História como exemplos de um colapso total da ética a todos os níveis.
A própria condução da guerra foi conduzida sem ética e, como tal, altamente prejudicial a todos os lados. Se do lado nazi é mais que evidente o processo de interrupção de todos os valores éticos desde a sua fase política até ao final da guerra; do lado aliado assistiu-se a uma condução anti-ética da guerra porque orientada para a destruição dos civis e, como tal, com graves prejuízos para a causa aliada, dado o efeito na resistência alemã. Assim, é quase inacreditável que com uma supremacia total dos aliados em tropas e, principalmente meios aéreos, mais vinte mil aviões contra quase zero alemães, a guerra só tenha terminado quase um ano depois, em Maio de 1945, tendo os alemães sido batidos por mais de dois milhões de soldados na frente leste e outros tantos na frente oeste e depois da destruição total de 350 cidades e vilas importantes, incluindo quase todas as suas indústrias de armamentos e combustíveis.
A destruição total de Hamburgo e Colónia e o bombardeamento vezes sem conta das próprias ruínas deu aos alemães a impressão que estava em causa o massacre total do povo alemão, o que pareceu confirmar-se com a destruição de Dresden já no fim da guerra e o massacre das populações da Prússia Oriental, bem como a destruição por via aérea das pequenas localidades bálticas de veraneio, cujos hotéis estavam cheios de feridos de guerra que não representavam qualquer ameaça. Em Stalsund foram assassinados quase dez mil feridos dois dias antes da guerra terminar, estando então quase toda a Alemanha ocupada.
Antes disso, os massacres perpetrados pelos alemães na União Soviética, os bombardeamentos de cidades inglesas e muitas outras barbaridades cortaram qualquer caminho para uma Paz negociada e, naturalmente, incrementaram a vontade de resistir ao inimigo nazi.
O próprio nazismo significou desde a sua nascença o colapso total da ética política, dado que toda a sua ideologia nacional-socialista vinha embrulhada nas roupagens do ódio rácico e político contra todos os opositores. As esquerdas foram erigidas pelo nazismo em culpadas da derrota de 1918, tal como no Portugal de hoje, se culpa o PS e o PC de serem os culpados da derrota colonial, sem cuidar dos antecedentes.
Mas, o aparecimento do nazismo deve muito à intolerância das democracias ocidentais que tornaram a vida impossível à nação mais populosa da Europa Central e Ocidental, a Alemanha. Sujeita a pesadas reparações e impossibilitada de exportar e comprar no imenso mundo de nações escravizadas pelo colonialismo das hipócritas democracias que submetia grande parte do Mundo ao pior dos regimes políticos, as ditaduras colonialistas ou esclavagistas com o trabalho obrigatório e escravo das populações indígenas para pagarem os impostos de palhota. Antigas e orgulhosas civilizações como a indiana, a indonésia, malaia, árabe muçulmana, etc. não passavam de populações agrilhoadas pelas ditaduras coloniais.
O Império Britânico abrangia 27% da superfície do Planeta e com os restantes Impérios eram mais de 80% da terra, pois temos de considerar que o segundo maior império colonial era o moscovita ou a União Soviética que só há pouco mais de dez anos se libertou daquilo que Lenine denominou a prisão dos povos que não conseguiu libertar porque já não teve saúde e forças para se opor ao Comissário das Nacionalidades, José Estaline.
Antes da chegada dos nazis ao poder, a Alemanha conheceu uma taxa de desemprego de quase 50% e uma inflação inimaginável.
Ninguém percebia o sentido profundo da ética, o egoísmo racional. Não faço aos outros o que não quero que me façam a mim. O chanceler alemão Stresemann tentou nos anos vinte uma reconciliação total com a França e a Inglaterra e a criação de uma Europa unida ou, pelo menos, reconciliada. Não teve sucesso, a ocupação da Renânia pelos franceses continuou, as reparações quando não eram pagas resultavam na expropriação das minas de carvão do Ruhr. Os franceses não viram que os custos da não reconciliação com políticos socialistas democráticos no poder alemão seriam imensos. Mesmos os vitoriosos da II. Guerra Mundial pagaram o preço do sangue de milhões dos seus jovens e não fosse a condução anti-ética da guerra pelo nazismo nunca teriam chegado à vitória.
Efectivamente, antes da invasão da URSS, a Alemanha era imbatível e junto às suas fronteiras nunca as forças russas seriam capazes de derrotar os alemães. Só depois de batalhas desgastantes e da derrota de Stalingrad a milhares de quilómetros das suas bases e depois da batalha de Kursk é que a Alemanha pôde ser derrotada.
Sem o desgaste da frente Leste, nunca os Aliados poderiam ter desembarcado na Normandia.
Se a Alemanha não tivesse invadido a URSS e tivesse mantido o programa já adiantado em 1942, mas suspenso a seguir, de construção de aviões a jacto, os Aliados Ocidentais não teriam outra alternativa que não fosse a negociação.
Mas é evidente, o nazismo da extrema-direita alemã significava o tudo ou nada, a guerra total, pelo que, contrariando os conselhos dos militares alemães, o ditador Hitler ordenou a invasão da URSS, perdendo os restos de ética que tinha do seu lado, pois foi a Inglaterra e a França que declararam guerra a Alemanha na sequência da invasão da Polónia pelos alemães e pelos soviéticos. Curiosamente, pelas mesmas razões não declararam guerra à URSS. As duas potências ocidentais tinham um tratado de aliança e auxílio em caso de invasão com a Polónia, não especificando qual o invasor.
Por sua vez, depois do tratado de não agressão firmado em 1939 entre a Alemanha e a URSS, a questão que os alemães tinham com a Polónia, resultante da entrega de territórios alemães aos polacos depois da I. Guerra Mundial, podia ter sido resolvida pacificamente pela via diplomática. O governo polaco tinha dado a entender que estava disposto a negociar, mas o nazismo queria sangue e teve-o
A extrema-direita nazi alemã encontrou uma Alemanha com 30 milhões de desempregados e deixou-a com mais de 30 milhões de mortos, feridos e deslocados. O problema do desemprego capitalista fora resolvido por meio século. Só espero que a nova vaga de desemprego capitalista não venha a ter uma solução semelhante.
Dieter Dellinger