Jornal Socialista, Democrático e Independente dirigido por Dieter Dellinger, Diogo Sotto Maior e outros colaboradores.
Sábado, 27 de Novembro de 2010
Dieter Dellinger: Dívida Soberana Portuguesa

 

   Muita gente, mesmo dirigentes políticos, tem muita dificuldade em lidar com grandes números e desconhece em absoluto o que se passa no exterior. Há mesmo quem acredite que só Portugal tem uma grande dívida soberana.

            Na verdade as principais dívidas soberanas da Europa são as seguintes para 2010:

 

 

 

País

% do PIB

Milhões de Euros

Alemanha

78,8

1.898.370

França

83,6

1.594.373

Itália

118,2

1.797.668

Bélgica

99,0

333.911

Portugal

85,8

143.820

Espanha

64,9

1.051.151

Grécia

124,9

296.630

Irlanda

77,3

126.418

Reino Unido

79,1

1.239.292

TOTAL

 

8.491.633

 

 

 

 

 

Como se vê, a Alemanha detém o recorde da dívida soberana, apesar da sua gigantesca economia, enquanto os outros países possuem dívidas quase sempre muito superiores à portuguesa. A dívida alemã é 13 vezes a portuguesa, tendo apenas 8 vezes mais habitantes.

A dívida soberana destes 8 países da zona euro mais o Reino Unido é de 8.491.633 milhões de euros, ou seja, SESSENTA VEZES a dívida soberana portuguesa com muito menos que 60 vezes o número de habitantes. Toda UE tem 501 milões de habitantes; 27 países da UE têm apenas 50 vezes os habitantes de Portugal. Chamem o FMI para toda a Europa.

 

A dívida soberana per capita alemã é de 22.330 euros; a dívida portuguesa é de 13.570 euros; a espanhola é de 23.359 euros, enfim, quase todas as dívidas soberanas são superiores à portuguesa por habitante. Neste momento, os juros começaram a subir desmesuradamente para a Bélgica e a Itália, depois de terem subido para a Espanha. Dentro de dias ou semanas, também os juros da dívida soberana alemã vão subir. O problema está na falta de oferta de moeda por parte do BCE.

 

Dizem uns críticos que o BCE empresta a 1% aos bancos que compram a dívida portuguesa a 6% e a irlandesa quase a 10%. A realidade é que o BCE empresta a 1%, mas a três meses, enquanto os títulos portugueses são colocados a 10 anos. Raramente o mercado primário, os bancos que compram os títulos de dívida portuguesa, ficam com eles mais do que uns meses. O que fazem é vender ao mercado secundário e é esse que determina pela lei da oferta e procura o valor dos juros. Os títulos portugueses e de outros países são vendidos no retalho a investidores particulares ou a fundos especiais de bancos e seguradoras que depois vendem as suas participações. Mas, Portugal não é obrigado a manter os títulos durante 10 anos; pode resgatá-los quando quiser e, se a situação melhorar, pode pedir emprestado a juros baixos e resgatar os títulos a juros altos. Foi o que fez Sousa Franco no Governo Guterres quando Portugal entrou na serpente monetária e no euro com os juros a passarem dos 18% para 2 a 3%.

 

Muitos dos títulos portugueses acabam por ser adquiridos por fundos portugueses que assim adquirem um elevado rendimento.

 

O BCE vai ter de injetar liquidez no mercado europeu, pois a situação tende a ser igual para todos.

 

Na questão da estabilidade do Euro, não interessam os pontos porcentuais, mas sim a massa monetária em dívida, pois é esta que desestabiliza uma moeda. Claro, para os estúpidos não, pois para esses só existe a dívida portuguesa.

A Irlanda tem ou tinha a dívida soberana mais pequena e mesmo em percentagem não é excessiva, mas o Estado está a intervir numa banca quase falida porque originou uma bolha especulativa que rebentou e que levou a que uma elevada percentagem de depositantes levantassem os seus dinheiros dos bancos. O Estado teve de nacionalizá-los e tem agora que entrar com dinheiro para garantir os depósitos que não puderam ser levantados por falta de liquidez.

 

Portugal, tal como os outros países europeus, está numa situação crítica e tem de pedir emprestado em 2011 cerca de 47 a 49 mil milhões de euros, sendo que 27,5 mil milhões se destinam a pagar dívidas a vencer no próximo ano, 8 mil milhões para o défice público e o resto para pagamento de juros. Esses milhões superam as receitas fiscais. Por isso não há greve que nos vale. Claro que os países com dívidas superiores como a Alemanha têm o mesmo problema, mas com juros mais baixos, por enquanto.

 

Só um ignorante é que pode pensar que há a possibilidade de fazer outra política. Também, ao contrário de Portugal, a Alemanha controla com a França o Banco Central Europeu e consegue assim essa aldrabice de pagar menos juros, quando numa única zona monetária, os juros deveriam ser iguais para todos. A Europa tem uma moeda única, mas não tem política monetária e, menos ainda, política financeira comum e solidária. Portugal com 1,6% da dívida soberana dos oito principais países da zona euro mais o referido Reino Unido não tem peso na desestabilização do euro como diz a Angela Merkel e como pretendem os chamados mercados que, mais não são, que um grupo de bancos alemães e franceses e espanhóis como o Santander e o BBV que estão a ROUBAR um dos elos mais fracos e pequenos da cadeia monetária europeia.

 

Nem Portugal, nem a Alemanha, nem os outros países europeus têm margem de manobra para fazer políticas expansivas. Apenas as empresas podem, por sua conta, expandir-se o mais possível. As empresas alemãs estão a fazê-lo, mas muito na base do investimento externo.

Em Portugal, por exemplo, as grandes indústrias de papel podem duplicar em 2011 as suas exportações porque foram equipadas com as duas maiores máquinas de fabrico de papel do mundo, um na Altri (ex-Celbi) na Figueira da Foz e outra na Soporcel/Portucel na península de Mitrena. Naturalmente com um empréstimo de mais de 4 mil milhões de euros da CGD.

 

O PIB potencial português é muito superior ao atual porque muitas fábricas estão a trabalhar a meio gás, pelo que podem aumentar as respectivas produções sem qualquer investimento.

 

Nota: Estou a ouvir o velho Mira Amaral e outro economista também velho na SIC Notícias a dizer rigorosamente aquilo que já ouvi mais de mil vezes. Sempre com a ideia que o Estado pode e deve fazer tudo e é tudo culpa do governo, não existindo o resto do Mundo e nem sequer qualquer crise. Estão a veicular a MENTIRA que Portugal é o terceiro país a ter dívida soberana, quando o seu analfabetismo económico e ignorância não permite saber que a dívida soberana portuguesa não deve chegar a 0,2% do total das dívidas soberanas dos 27 países da Europa.

 

Mesmo com saldo positivo soberano, a China tem hoje 20% de desempregados, ditos disponíveis, ou seja, mais de 150 milhões de pessoas.

 

 



publicado por DD às 15:43
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Sábado, 20 de Novembro de 2010
Todas as Previsões sobre a Islândia, Irlanda e Grécia Falharam

 

            Mais uma vez as agências de rating falharam redondamente, tanto no aspecto de honestidade política e económica como na solidez das economias e no desenvolvimento cultural e técnico das suas populações.

            O país menos corrupto do Mundo, a Islândia, com os menores défices públicos e com um notável PIB per capita foi o primeiro país a falir totalmente. Os seus bancos ficaram com o dinheiro dos depositantes e uma parte importante da população perdeu as suas economias e muita gente perdeu um a dois salários que deveria ter recebido através dos bancos. Os muitos depositantes nessa “Dona Branca” que era a Islândia a pagar juros muito altos perderam todo o seu dinheiro. As empresas deixaram de ser pagas por muitos dos seus fornecimentos e só a pequenez do país com tantos habitantes como a Madeira permite estar a passar a crise mais mal que bem, mas os estrangeiros nunca mais verão os seus dinheiros e mais de metade dos seus bancos fechou para sempre.

            Os políticos mais honestos do Mundo fizeram do seu país um verdadeiro fundo Madox.

            A seguir à Islândia estava a Irlanda entre os países honestos com as finanças equilibradas e um baixo IRC de apenas 12,5% e um PIB per capita de quase o dobro do português com uma notável elite universitária e uma população bem preparada profissionalmente e bem paga. Qualquer salário de um trabalhador irlandês era bem superior ao dobro do praticado em Portugal, mesmo o triplo. Os seus políticos passavam por ser honestos, apesar de ter havido alguns problemas com um PM que recebia no seu gabinete uns pacotes cheios de notas. Mas, aparentemente foi um caso único e o homem saiu do poder.

            A Irlanda faliu literalmente, apesar de tantas vantagens e de ser um país pequeno com apenas 4 milhões de habitantes, 100 km de autoestradas, nenhum TGV ou pontes descomunais e um Estado frugal que pagava pouco aos políticos e tinha mesmo saldos positivos nas contas públicas.

            Eis que, com todas as qualidades que se exigiam de Portugal, a Irlanda entra numa dramática falência e tem de receber agora mais 100 mil milhões de euros para reduzir os 53,9 mil milhões de dívida soberana e capitalizar a banca em 31,6 mil milhões de euros no sentido de evitar que os depositantes fiquem sem o seu dinheiro e depositantes são todos os irlandeses adultos. Num prazo de dois anos a Irlanda necessita de 110 mil milhões de euros que vai pagar em vinte a vinte e cinco anos, pois a economia irlandesa não permite pagar em 10 anos.

            A razão principal destas duas falências pode residir no facto de as pessoas honestas não serem capazes de se defenderem de falcatruas e julgarem todos honestos e, além disso, acreditaram excessivamente nas suas potencialidades.

            A banca irlandesa começou por perder com os fundos americanos nos quais tinha colocado bastante dinheiro, mas o problema aí não era tão grave como isso. Os bancos irlandeses tinham promovido uma bolha de construção civil devido à imensa falta de casas que sofriam as famílias e a crise mundial associada à concorrência chinesa, romena, polaca e de outros países que lhe levou muitas fábricas provocou um aumento do desemprego e uma gigantesca onda de crédito malparado.

            A Irlanda, ao contrário de Portugal, tinha proporcionado excelentes condições ao capital estrangeiro que iam desde um IRC muito baixo, ajudas substanciais e a língua inglesa que muita ajudava na informática.

            Enfim, faliram totalmente dois países bem governados e com tudo o que é apontado como óptimo, tanto do ponto de vista de esquerda, salários relativamente bons, mas mais baixos que os da média europeia, como de direita, impostos baixos sobre os lucros, pessoal bem preparado, excelentes ajudas estatais e proximidade dos grandes mercados europeus, nomeadamente do Reino Unido, França, Bélgica, Holanda e Alemanha.

            A Grécia faliu já por outras razões, apesar de ser uma economia que cresceu mais que a portuguesa nas últimas décadas e possui uma gigantesca indústria do turismo e boas condições como porta de passagem da Europa para o Oriente. Além disso, os gregos são proprietários da maior marinha mercante do mundo, se bem que os seus navios naveguem com as mais diversas bandeiras de conveniência. O ordenado mínimo na Grécia era e ainda deve ser o dobro do português.

            Os gregos deixaram engordar o Estado sem uma política fiscal rigorosa, pois pouca gente pagava os impostos devidos e daí o crescimento desmesurado da sua dívida soberana, cujos juros atingiram valores insuportáveis para qualquer Estado, até ser ajudada por todos os países da zona euro, incluindo Portugal.

            Tudo aquilo que Portugal deveria ter feito segundo os detractores de esquerda e direita não faltava nos três países falidos e, mesmo assim, faliram redondamente.

            A falência da banca islandesa e irlandesa começa a produzir alguns efeitos de contágio em Portugal e Espanha. Já ouvi pessoas a dizerem que estão a levantar dinheiro dos bancos e guardá-lo em casa, pois temem que o pagamento de juros muito altos aos chamados “mercados ladrões” possa conduzir a um aumento exagerado das despesas públicas com suspensões de pagamentos de reformas, salários, fornecedores, etc. e a uma corrida à banca para a obtenção da pouca liquidez dos portugueses em moeda e isso conduziria a uma dupla falência, a do Estado e a da banca.

            Se a banca está aparentemente saudável e lucrativa, pode passar para o oposto se pouco mais de 10% dos depositantes resolverem levantar o seu dinheiro.

            A banca é diferente de qualquer empresa, pois tem o dinheiro dos portugueses, tanto o particular como o empresarial e do Estado, incluindo os montantes destinados às prestações sociais que somam 21% do PIB ou 35,7 mil milhões de euros, pelo que uma falência bancária arrasta toda a economia monetário para o colapso.



publicado por DD às 16:21
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