Jornal Socialista, Democrático e Independente dirigido por Dieter Dellinger, Diogo Sotto Maior e outros colaboradores.
Segunda-feira, 24 de Outubro de 2011
100 Anos de Taylorismo

 

Faz agora um século que o engenheiro americano Taylor publicou a sua obra sobre a organização “científica” do trabalho. “Científica” porque estudou o trabalho fabril em todos os seus aspetos com relevância para a divisão do trabalho parcelarmente organizado com o pessoal devidamente treinado e cronometrado para proporcionar o máximo rendimento. O taylorismo inspirou a produção em série nas fábricas que teve depois a designação de fordismo. Ambos os métodos são que um único e aplicam-se cada vez mais a todas as atividades humanas, não só nas fábricas como nos mais diversos serviços, sendo hoje já não a organização do trabalho numa empresa, mas a divisão do trabalho em unidades empresariais cada vez mais especializadas como os modernos “call centers” que respondem pela PT, EDP ou qualquer outra empresa, dando ao cliente a impressão que está a falar com a empresa, mas na verdade dialogo com um especialista num pequeno setor que pode ser faturação a empresas ou a particulares, etc.

 

O engraçado e curioso é a existência junto à Auto Europa de uma empresa com mais de 600 trabalhadores que se dedica simplesmente a desembrulhar ou desencaixotar as muitas peças que chegam à Auto Europa dos diversos fabricantes e levá-las a locais previamente determinados da linha de montagem. Essa empresa, para além de desencaixotar monta algumas partes das peças vindas em embalagens diferentes. Assim, os faróis vêm de um fabricante em caixas de cartão e esferovite, mas geralmente sem lâmpadas, já que estas são fabricadas por outras empresas. Aí, em Palmela, o pessoal dessa empresa, que tem entre outros nomes o de Logística, coloca a lâmpada na chamada ótica do farol. O mesmo acontece com milhares de outras peças que entram numa viatura e esta empresa ou outra encarrega-se junto dos fabricantes respetivos de embalar as peças e componentes saídas das linhas de fabrico.

 

O cúmulo do fordismo é colocar os clientes a montarem aquilo que compram e irem mesmo ao armazém da empresa buscar as caixas com os diversos componentes como sucede nas lojas da IKEA.

 

Enfim, deste a criação da organização profunda do trabalho, rejeito o termo científico, há um século, a indústria e os serviços progrediram de uma maneira fantástica até chegarem à pujança industrial dos nossos dias com o acréscimo do robotismo ao taylorismo e fordismo e, não contentes com isso, juntou-se ainda a deslocalização para os paraísos de mão-de-obra barata como a China, Cambodja, Bangla Desh, Paquistão, Índia, etc. e depois os lucros chorudos vão para outros paraísos, os fiscais. Muitas tarefas nas linhas de fabrico são feitas por robots. Por exemplo, um computador portátil ou um telemóvel é montado de uma forma completamente automática que recebe as diversas peças que entram em orifícios determinados para serem soldadas automaticamente às placas. A mão-de-obra ocupou-se em desembrulhar as peças e antes em fabricar a UCP – Unidade Central de Processamento – também automaticamente. Depois, os trabalhadores chineses realizam algum trabalho final e de verificação de qualidade através de testes específicos, sendo que alguns já feitos automaticamente.

 

Enfim, com isso o capitalismo conseguiu fornecer grande número de objetos a preços acessíveis, até porque toda a organização altamente parcelar e especializada e robotizada do trabalho pressupõe o fabrico em séries muito grandes. Mas o capitalismo nunca se contentou com os lucros obtidos e deslocalizou-se de país em país para realizar lucros cada vez mais elevados até ver esses lucros encadearem-se uns nos outros para formar longas cadeias em que o próprio capitalismo se enforca a si mesmo  numa crise que ninguém quer estudar..

 

O que é hoje insuportável para as direitas capitalistas é a existência de trabalho altamente profissionalizado e de formação muito cara como os magistrados, médicos, professores, gestores públicos, economistas, juristas, etc. A atual crise é na verdade a continuação da revolução taylorista e fordista ao chamado funcionalismo público, portanto, aos tais médicos, magistrados, etc. Há uma evidente desproporção em Portugal entre o custo de um/a operário/a de fábrica a 500 ou 600 euros mensais e uma tratamento cancerígeno ou uma operação a qualquer parte do corpo com um cirurgião, ajudante, anestesista e pessoal de enfermagem altamente especializado. Para um homem como o Dr. Macedo, um economista racional, gastar milhares de euros para salvar um trabalhador a 500 euros mensais é irracional. E não é só para um ministro português, mas também para uma Angela Merkel, um Berlusconi, etc.

 

Os chineses maoístas tinham resolvido o problema com os chamados “médicos de pé descalço” que praticavam uma medicina chinesa própria para o proletariado a 50 cêntimos à hora. Para eles, o “material humano” nada vale e daí termos visto num vídeo uma menina de poucos anos atropelada numa rua sem que 18 chineses que passaram por ela dedicasse a mínima atenção. A China Capitalista-Comunista, revolucionou o Mundo moderno ao conseguir fazer retroceder as sociedades humanas ao Mundo do Século XIX em que o capital humano pouco ou nenhum valor tinha. Este capitalismo é a causa do que designo por “Falência da Modernidade” e que carece de um estudo filosófico e de economia política mais aprofundado, baseado nas modernas filosofias do desconstrutivismo.



publicado por DD às 23:24
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Sábado, 22 de Outubro de 2011
A Solução para a Crise Financeira que a Alemanha não quer

 

 

 

 

A União Europeia está hoje numa estranha dependência de um só país, ou antes, de uma senhora que não deseja outra solução que não seja transformar os países europeus em crise numa espécie de pequenas Chinas com custos sociais e salariais irrisórios.

Contudo, a solução que está na mesa é única com duas modalidades estratégicas.

 

A única é o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), o qual pode assumir duas estratégias de ação:

1) Licenciar-se como um banco com 440 mil milhões de euros de capital e nessa qualidade comprar títulos ou bilhetes de tesouro a juros muito baixos aos estados dos países em dificuldade e vendê-los ao Banco Central Europeu que fará a aquisição com dinheiro fresco (emissão de moeda), conseguindo assim respeitar o Artº 123 do Tratado de Lisboa que proíbe ao BCE a compra direta aos estados de dívida pública e o Artº 125 que não autoriza os avais do BCE aos títulos de dívida pública. A verba de 440 mil milhões representam 4,6% do Pib da Zona Euro que é de 9,4 biliões (milhões de milhões) de euros. Os alemães querem que seja uma agência e utilize para o efeito apenas os 440 mil milhões de euros, o que é uma quantia insuficiente para salvar países como a Espanha e a Itália que estão em dificuldades. Mesmo só para a Grécia, Portugal e Irlanda esse capital não daria para resolver o problema. O BCE pode e deve emitir o dinheiro suficiente para permitir aos países europeus crescerem, pois a própria Alemanha deixou de crescer e o índice de encomendas à sua indústria revela uma quebra profunda a anunciar uma recessão em 2012. O partido da senhora Merkel parece estar de saída; as próximas legislativas alemãs devem mudar o panorama político.

Esse é o modo como funcionam muitos bancos centrais, nomeadamente o Fed americano e os bancos centrais do Japão e da Grã-Bretanha.

A emissão de moeda a partir do nada proporciona importantes lucros ao BCE, mas estes são distribuídos pelos países membros ao fim de cada ano. De algum modo, os vendedores de títulos ao FEEF nestas condições recebem uma parte ou todo o dinheiro que ficaram a dever e assim, o novo dinheiro em circulação fica na prática isento de juros. Atualmente, muito do dinheiro que temos nas contas bancárias e carteiras paga juros.

 

2) A segundo solução destinada a satisfazer a obsessão alemã seria o FEEF incentivar os bancos e os mercados em geral a voltarem a adquirir dívida pública, dando uma garantia de 20% em caso incumprimento por parte do país vendedor. Deste modo, o capital de 440 mil milhões poderia transformar-se numa garantia para 2 biliões de euros,  tida como suficiente para resolver os problemas europeus. Saliente-se aqui que a dívida pública de toda a Zona Euro é praticamente igual a 100% da soma dos Pibs dos 17 países membros. Mas, neste segundo caso, os juros seriam muito mais elevados, pois o risco de perder 80% do investimento em títulos públicos não é suficiente para levar os mercados a aceitarem juros e seguros baixos e os juros altos impedem o crescimento e não permitem resolver o problema financeiro de qualquer país.

 

A primeira das soluções seria mais adequada, tanto mais que a crise financeira que abrange quase todos os países europeus à exceção de três ou quatro é o resultado de uma força invisível e insuscetível de ser devidamente calculada que foi a não emissão de moeda por parte do BCE durante 9 anos, ou a insuficiente emissão, pois nas estatísticas do BCE não se vislumbra bem qual o montante das emissões, já que nos agregados monetários M3 com e sem M1 e M2 não há uma separação entre emissão e a natural multiplicação bancária de moeda resultante da utilização de pagamentos e depósitos por Netbanco, cartões de crédito, etc. O BCE falhou como banco emissor dos 330 milhões de habitantes da Zona Euro e não acompanhou uma inflação média de 2,5 a 3% ao longo dos 9 anos de vida do euro que terá produzido uma inflação global superior a 30% sem compensação em termos de aumentos de impostos e nem redução das despesas sociais dos estados. Para a Alemanha, que exporta quase 70% do seu Pib em grande parte para a União Europeia, o problema da moeda não se coloca porque ficou com o dinheiro dos outros países e ao comprar/emprestar a outros países teve importantes lucros.

 

A posição alemã, nomeadamente do ministro das Finanças Schäuble, é que os investidores privados (bancos, seguradoras, fundos, etc.) devem pagar uma parte importante das dívidas gregas, ou seja, trocar dívidas a altos juros por títulos cortados a 50% com juros mais baixos. Schäuble diz com alguma razão que os privados não podem encaixar os lucros que têm tido com juros astronómicos e serem depois compensados com dinheiro dos contribuintes. Por isso, os alemães defendem uma espécie de falência grega ou de outros países que leve o BCE ou o já formado FEEF a intervir numa divisão equitativa com os mercados privados de preferência a 50% para cada lado.

 

Claro, numa situação como a descrita em 1, o BCE pode intervir com o FEEF e Fundo Monetário na liquidação aos privados de parte da dívida pública grega, considerando que juros acima dos 4% são especulativos e representam um roubo, não devendo ser liquidados.

 

De qualquer modo, as falsas soluções em curso não conduzem a nada pois são um obstáculo ao crescimento. Portugal e a Grécia, tal como a Espanha e a Itália, não podem crescer se estiverem amordaçados a juros extremamente elevados. Portugal pode congelar salários e pensões de tal modo que chegue a um défice de 0% em 2014, mas isso não permitirá o crescimento económico e o regresso ao défice será uma certeza porque vivemos numa situação de alguma inflação e o longo congelamento de rendimentos de uma parte da população tornar-se-á intolerável. A dada altura, os

trabalhadores e pensionistas terão de ser compensados com alguns aumentos e os impostos não podem crescer eternamente.

 

Todas estas situações tendem a provocar a desvalorização do euro, o que tem acontecido de uma forma invisível porque o dólar se desvalorizou ainda mais e os americanos não se preocupam com o valor da sua moeda porque assim defendem as suas depauperadas indústrias devido à concorrência chinesa. No caso do euro, por exemplo, já foi trocado por cinco reais brasileiros e agora apenas por dois e qualquer coisa. Por isso, os emigrantes brasileiros andam furiosos a escreverem comentários anti-portugueses na Net. Quanto mais desvalorizado estiver o euro, mais baratos ficam os Mercedes e os Airbus e melhor podem os europeus vender as suas mercadorias. A Alemanha terá tudo a ganhar como um dos primeiros exportadores mundiais sem ser já uma nação de ponta nas descobertas científicas e na evolução tecnológica. Isso ainda vem em grande parte dos EUA e outros países.

 

 

Dívida Pública Portuguesa estava assim distribuída a 31.12.2010:

 

            Banco nacionais: 17 mil milhões de euros,

            Bancos alemães: 6 mil milhões

            Bancos franceses: 6 mil milhões

            Bancos espanhóis: 6 mil milhões

            Outros bancos europeus; 5 mil milhões,

            FMI/EU: 21 mil milhões

            Fundos de pensões e outros fundos ou aplicações, seguradoras, etc. 77 mil milhões..

 

 

 

 

 

2010

 

2010

País

População

Dívida Pública

% PIB

Per Capita

 

Milhões

Milhões Eu

 

Euros

 

 

 

 

 

Eurozona

330,00

7.937.206,90

85,1

24.052,14

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bélgica

10,92

341.019,00

96,8

31.228,85

Alemanha

82,00

2.079.628,60

83,2

25.361,32

Estónia

1,34

951,00

6,6

709,60

Irlanda

4,48

148.074,20

96,2

33.052,28

Grécia

11,31

328.588,00

142,8

29.065,72

Espanha

46,15

638.767,00

60,1

13.840,21

França

65,07

1.591.169,00

81,7

24.453,19

Itália

60,07

1.843.015,00

119

30.681,12

Chipre

0,81

10.618,70

60,8

13.109,51

Luxemb.

0,51

7.660,90

18,4

14.962,70

Malta

0,42

4.248,30

68,0

10.115,00

Holanda

16,65

371.028,00

62,7

22.283,96

Áustria

8,40

205.211,60

72,3

24.429,95

Portugal

10,64

160.470,00

93,0

15.081,77

Finlândia

5,37

87.216,00

48,4

16.241,34

Suécia

9,42

146.405,00

39,8

15.541,93

Eslováquia

5,40

26.998,40

41,0

4.999,70

 

 

 

 

 

 


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