A ideia de uma guerra prefabricada pelos EUA na Síria é uma monstruosa mentira demonstrada pela sua cronologia. O aproveitamento posterior é outra coisa. Uma vez rebentado o conflito, a parte rebelde procura apoios externos como acontece em todos os conflitos armados.
A Síria viveu mais de meio século em ditadura dinástica sem conflitualidade interna. Viveu-se a paz dos cemitérios. Há muitas décadas atrás uma tentativa de levantamento de rancho numa academia militar levou ao assassinato de todos os cadetes por ordem do pai do atual presidente Bashar el-Assad e não houve contemplações para os filhos dos principais generais do regime que estudavam nessa academia militar. E não foram os EUA que deram ordens para matar os cadetes.
No do 4 de Fevereiro de 2011, os opositores à ditadura dinástica influenciados pelas revoltas nas Tunísia e no Egipto declararam um “dia de raiva” através das redes sociais que não produziu mais que umas pequenas demonstrações sem significado.
Contudo, a partir do início de Março as manifestações e revoltas começaram a multiplicar-se em vários locais da Síria e na cidade de Daraa no sul da Síria juntaram-se alguns 10 mil jovens a protestar contra o regime político, levando a polícia a disparar a matar.
No dia 22 de Abril de 2011 registou-se outro dia sangrento com diversas manifestações e a morte de 72 jovens oposicionistas que começaram a atirar pedras à polícia. Na cidade de Daraa o confronto já foi com o exército que entrou a matar com tanques e metralhadoras. É óbvio que os jovens protestantes sírios não estavam a ser telecomandados pelos computadores da NSA americana ou outra organização monstruosa e nem estava sob um determinado comando interno. Obedeciam ao instinto que todas, mas todas as massas populares, sentem contra as ditaduras, mesmo que durem 50 a 100 anos. A China, mais tarde ou mais cedo, vai conhecer uma revolta do tipo Praça Tien Amen alargada a todo o país e depois digam que é telecomandada pelos EUA. Pode ser daqui a um ano como daqui a 10 ou 20 anos, mas acontecerá se o regime não se democratizar pacificamente.
Em Maio surgem em Daraa e outras pequenas localidades sírias as primeiras armas invencíveis em mais de meio século de história militar. O combatente de sandálias armado com Kalashnikovs e RPG-7 obtidas em ousados assaltos a quartéis e esquadras de polícia e provenientes de um certo número de desertores sunitas do exército do regime. Desde que das massas saiam jovens civis e militares armados sumariamente, qualquer regime político tem os dias contados.
Perante a reação sangrenta da ditadura dinástica, a União Europeia apela à calma e à abertura do regime, decretando ao mesmo sanções no que respeita ao fornecimento de armas e munições.
A 19 de Agosto de 2011, as tropas sírias entram na cidade de Dschisr al-Schughur já em mãos rebeldes e travam violentos combates com perdas abundantes de ambos os lados. Poucos dias antes tinham começado a fugir da Síria milhares de pessoas, porque a revolta alastrava-se a quase todas as cidades e disparavam-se os primeiros tiros em Damasco.
Nesse dia, o presidente Obama pediu o fim dos massacres e a deposição do ditador dinástico enquanto o Conselho de Segurança da ONU se mostrava incapaz de tomar uma decisão.
Até Dezembro de 2011 continuaram os protestos e pequenos combates, tendo então a Liga Árabe pedido o fim dos combates e iniciado um processo de apoio militar aos rebeldes, cada vez mais armados com armas e munições ligeiras e já na posse de algumas zonas fronteiriças com a Turquia.
Os tanques e os aviões sírios não tinham conseguido derrotar os jovens de sandálias de plástico chinesas e cada vez mais liderados por oficiais desertores e estudantes universitários. Assad seria mais um ditador a experimentar que não se pode derrotar um jovem de 20 anos com sandália e uma Kalashnikov. Esse tipo de combatente derrotou os franceses na Argélia e os EUA no Vietname, no Cambodja, no Laos e antes já tinha derrotado os holandeses na Indonésia e pôs em cheque os portugueses no seu império colonial, derrotou a URSS no Afeganistão e está a derrotar os EUA e aliados no mesmo teatro de operações.
Os poderosos tanques israelitas já tinham sido derrotados pelos combatentes de Hezbolah no sul do Líbano. Isto nada tem a ver com objetivos ideológicos. Qualquer povo em revolta derrota o mais poderoso exército desde que este não o possa massacrar num gigantesco holocausto e aí é que entram em ação as influências de fora. O Mundo não quer assistir a holocaustos, salvo quando é apanhado desprevenido no interior africano como aconteceu no Burundi e na chamada região dos grandes lagos.
A 4 de Fevereiro de 2012, o exército de Bashar el-Assad lança uma gigantesca ofensiva contra a cidade de Homs que estava quase toda na mão dos rebeldes. Os bombardeamentos aéreos causaram mais de 200 mortos e, como tal, mobilizaram milhares de novos combatentes para a causa rebelde. A função da aviação moderna é bombardear e colocar no terreno mais inimigos armados de sandálias, facas, granadas de mão e Kalshnikovs.
A 27 de Maio, as forças do ditador dinástico concretizam outro grande massacre, desta vez na cidade de Hula, utilizando tanques, artilharia pesada e aviação. Muita gente morre, mas o valente com as suas sandálias chinesas aguenta tudo, abriga-se, esgueira-se junto aos tanques para disparar nos respetivos visores. Nem a arma atómica consegue derrotar os jovens de sandálias.
A ONU calcula que terão morrido mais de 10 mil pessoas, mas os rebeldes podem ter atingido os 100 mil valentes que apanham alguns soldados depois de um massacre e os fuzilam de imediato.
A 23 de Junho, a Força Aérea abate um avião turco, o que vem legitimar o apoio em armas ligeiras por parte da Turquia aos rebeldes sírios. Apesar de que estes utilizam cada vez mais o fabuloso arsenal do regime que lhe vai caindo nas mãos aos poucos.
A 18 de Julho a ousadia dos rebeldes de sandálias ultrapassa todos os limites e conseguem atacar o ministério da Defesa e matar o ministro mais uma série de comandantes, sendo que o ministro é familiar do ditador. Já há muito que Assad enviara a esposa e filhos para o estrangeiro.
Desde uma data indefinida que grande parte da segunda maior cidade da Síria, Allepo, estava na mão dos rebeldes. No dia 30 de Julho, o exército do ditador inicia uma ofensiva contra a cidade, tratando-a como se fosse território inimigo a disparar contra todos os prédios, ruas e praças públicas. Perdem muitos tanques porque os rebeldes disparam do cimo dos telhados as suas velhas RPG-7 soviéticas contra a parte superior da torre que é também a zona mais frágil de um blindado de combate. A guarnição não consegue ver nada e é apanhada com garrafas incendiárias, granadas de RPG-7 e minas anti-tanque. A aviação tentar bombardear os rebeldes, mas ou mata civis ou mata as suas próprias forças, pois não há uma linha de separação entre os jovens de sandálias e os soldados que, amedrontados, não se atrevem a sair dos seus blindados de transporte de infantaria e quando saem são logo liquidados. As mulheres e crianças fogem da cidade, mas ficam os jovens heróis imbatíveis.
No estrangeiro, a oposição organiza-se, mas é no terreno que as coisas se decidem e Assad no início de 2013 fala ao país sem qualquer resultado. Nada faz parar aquelas mortíferas sandálias a calçarem valentes combatentes. Uns são Jihadistas, outros do recém formado Exército de Libertação da Síria e outros ainda são curdos à procura de uma pátria.
Em Janeiro de 2013, a NATO coloca na fronteira turca mísseis anti-aéreos e anti-mísseis Patriot que afastam os Migs 23, 25 e 29 e os LA sírios das zonas fronteiriças, permitindo o acesso de medicamentos, munições e mais sandálias para os rebeldes. Os refugiado atingem já quase meio milhão de pessoas.
Ao longo do inverno, apesar do frio, os rebeldes vão conquistando terreno e, principalmente, empurram as forças do regime para as suas bases aéreas principais. Quatro bases são conquistadas, principalmente localizadas perto das fronteira com a Turquia. Muitos pilotos vão desertando, incluindo coronéis que não querem ser acusados de crimes contra a Humanidade depois da derrota do regime dinástico.
Desesperado, em Junho, o ditador diz que as suas tropas encontraram nas imediações de Damasco um depósito de gás de guerra dos rebeldes. Obviamente que os eternos vencedores de sandálias não necessitam de gás ou aerossol mortífero nem possuem meios de transporte ou de preparação e lançamento de ataques. Basta-lhes as sandálias e as Kalashnikovs. Recordemos que no Afeganistão, as mesmas armas nos pés e mãos dos talibans estão a derrotar as poderosas forças americanas e de mais de uma dúzia de países.
O porquê da notícia dada por Assado veio a revelar-se a 21 de Agosto quando foi lançado um ataque com aerossol sarin por cima da colina Kassai em vias de ser conquistada pelos homens das sandálias. O Exército dinástico completamente desmoralizado combate à civil nos seus tanques e blindados de infantaria para em caso de derrota se refugiarem o mais rapidamente possível sem serem abatidos. Milhares de civis e crianças morrem, enquanto o pessoal das sandálias vai resistindo porque a tática é dispersar-se rapidamente no terreno, abrigar-se e proteger as vias respiratórios com trapos embebidos em álcool ou simplesmente água. A roupa árabe é particularmente protetora, mesmo no calor.
Digam o que quiserem, o povo em armas vence sempre quando a comunidade internacional não permite um massacre químico ou nuclear ou quando os valentes combatentes em sandálias estão misturados no meio do próprio inimigo, o que dificulta o massacre seletivo.
As sandálias vencem sempre pela agilidade dos que as usam qualquer que seja a sua ideologia, mas o seu êxito é tanto mais garantido quando combatem poderes com prazo de validade acabado e depois erguem outros poderes também perenes como tudo na vida.
A crise atual do capitalismo enquadra-se perfeitamente na teoria marxista das crises que os economistas formatados com os manuais de macroeconomia americanos nem consideravam como merecedora da mais pequena atenção.
Para Karl Marx, a crise não é um simples desajustamento, nem o fruto de uma má intervenção reguladora do Estado, mas sim o reflexo das contradições principais do modo de produção capitalista, tidas por muita gente como ultrapassadas pela economia social de mercado.
Agora, com o desmantelamento do social no mercado capitalista há como que um regresso ao século XIX, à época liberal quando nasceu um estado social ténue apenas na Alemanha com um sistema de reformas proveitoso porque as pessoas morriam maioritariamente antes de auferirem qualquer pensão e quando isso não acontecia não era para muitos anos.
Marx deduziu da sua fórmula da taxa de lucro a famosa “Lei da Baixa Tendencial da Taxa de Lucro” na qual se observa que a dinâmica capitalista está ameaçada quando a rendibilidade do capital não é suficiente para levar os empresários a investir e, portanto, a produzir e criar empregos
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Para Marx a Taxa de lucro é Tx = mv (mais valia) a dividir pela soma de c (capital) + v (custo do trabalho), sendo, por sua vez, igual à taxa de mais valia a dividir pela composição orgânica do capital.
Esta fórmula simplificada pode dar uma ideia errada das ideias de Karl Marx baseadas na tese de que o trabalho humano é que proporciona a taxa de mais valia e inerentemente a taxa de lucro. Pode não ser verdade num único fabrico. Imaginemos uma fábrica de bolachas com uma máquina automática que as produz a partir dos ingredientes lá colocados com o auxílio de pessoal e equipamentos automatizados de abertura de sacos e transporte e depois com máquina de embalar, fechar e colocar em caixas de cartão. Sendo fixo o custo do capital, as máquinas, há muito pouco pessoal de onde extrair lucro. Mas, sucede que cada máquina e cada peça é produzida por trabalhadores altamente especializados e bem pagos, sendo as máquinas vendidas a preços muito elevados, pelo que a taxa de mais valia pode ser superior numa zona de altos salários e mais baixa numa de baixos salários se a concorrência for muita e a margem de lucro reduzida ou os baixos salários não forem de molde a proporcionarem a existência de um amplo mercado que permita rentabilizar o capital fixo (máquina) e o capital variável (custo do trabalho).
A fórmula resulta de dividir tudo pelo custo do trabalho, o elemento fundamental da nossa civilização que não sendo de escravatura a 100% como todas as civilizações anteriores pretende sê-lo até um pouco acima do limite de uma reprodução da força do trabalho menos custosa hoje devido à baixa natalidade e ao trabalho de dois cônjuges.
A ascensão de parte do proletariado à condição de pequenas classes médias não resultaram da generosidade dos detentores do capital, mas sim da libertação do proletariado relativamente às crenças religiosas com a diminuição da natalidade e com os dois cônjuges a trabalhar. Em termos sociológicos, dois explorados sem prole acabam por ter um nível de vida mais próximo das classes médias. Os capitalistas chegaram a acreditar que um certo poder de compra das massas populares resultava da sua generosidade salarial ou investimento em capital variável quando nunca foi de facto. Por isso, hoje o Estado, dominado por uma visão errada do capital, acha-se no direito de retirar aquilo que nunca deu nem redistribuiu verdadeiramente, dado que a sociedade capitalista tende para um pirâmide cada vez pontiaguda por via do cartelismo instalado no Mundo da Globalização e, em particular, da União Europeia.
Pela formulação de Marx mv, c e v dependem do tempo. Por isso, a fração que exprime a taxa de lucro é, portanto, constituída por um numerador que aumenta muito mais lentamente que o denominador, sendo no limite nula.
Marx viu que o aumento da composição orgânica do capital é acicatado pela concorrência e pela conquista dos mercados de massa, pelo que se vai acumulando sem cessar até pelo aparecimento de novos maquinismos e processos de trabalhar que torna irrelevante o capital variável ou custo do trabalho e, como tal, o crescimento da taxa de lucro.
Hoje, ter-se-ia que ver o custo produtividade do trabalho no fabrico dos equipamentos e o custo do trabalhador utilizador do mesmo. As equações de Marx seriam hoje séries desde o primeiro trabalho de extração do minério ou produção energética até qualquer produto de utilização final sem estar sujeito a qualquer utilização laboral.
Marx via mais limitação no custo do trabalho variável porque no seu tempo o colonialismo só existia para a extração de algumas matérias naturais e não se falava no colonialismo indireto que é a exploração do trabalho barato da China, Vietname, Índia, Bangla Desh, etc.. O custo Vv desses países nada tem a ver com o mesmo custo na Europa. Daí que o capital europeu prefira o desemprego em massa enquanto os dois custos não se aproximarem, pelo menos, no sul europeu. De resto, um trabalhador chinês de 20 anos que faz parte dos 350 milhões de chineses errantes pode ganhar já um a dois euros à hora a fabricar camisas, ou antes, a pregar botões. Este custo de capital variável já é redutor da taxa de mais valia e consequentemente da taxa de lucro relativamente a salários praticados há poucos anos atrás. Daí a deslocalização de muitas fábricas da China para o Bangla Desh em que a hora de trabalho é paga em cêntimos.
Nos países como Portugal que perderam os seus fabricantes, as elites só encontram uma saída na redução brutal do custo do trabalho que começou com políticas tendentes a uma redução futura do custo social do trabalho.
Só que aí vamos ao encontra de outra lei de Karl Marx que é a da Sobreacumulação, a estudar num próximo texto
Quando da queda do comunismo soviético e da transformação do comunismo chinês em capitalismo pensei que já não serviam os textos de Karl Marx e os apontamentos que tirei do Mestre Menchikov num simpósio-curso tirado no Instituto de Economia Mundial da Universidade Moscovo, ainda nos tempos de Brejnev. Afinal vejo que tanto as teorias de Marx como as dos ciclos económicos de Menchokov estão plenamente válidas e nem necessitam
Para Marx, a Sobreacumulação designa uma situação económica de valorização do capital em que a massa crescente de capitais já não encontra remuneração suficiente para continuar a acumulação por terem deixado de ser remunerados a uma taxa de lucro que assegure o ritmo de crescimento habitual ou anterior.
A Sobreacumulação é, pois, a manifestação da baixa tendencial da taxa de lucro já aqui descrita num dado momento. Os ganhos de produtividade, a intervenção do Estado, a subida de produtividade, etc. não permitem em período de Sobreacumulação que se manifeste oposição à baixa tendencial da taxa de lucro. A Sobreacumulação conduz à crise visto que resulta do principal estímulo do capitalismo, o lucro tende a esbater-se.
Geralmente, a Sobreacumulação desenvolve-se nos períodos de expansão, mas permanece escondida até ao aparecimento de sinais de crise manifestos. Acrescento que não devemos esquecer que a teoria das crises não se aplica hoje a um só país como Portugal, mas antes a um espaço cada vez mais globalizado a abranger quase todo o Mundo com aspetos geograficamente diversificados na aparência e no tempo. Nos tempos de Marx as principais nações europeias tinham as suas fronteiras e os seus impérios no ultramar ou na Europa mesmo, Impérios alemão, russo e austro-húngaro que não salvavam qualquer nação da crise, davam é um aspeto mais nítido numas regiões e menos noutras.
Assim, da Sobreacumulação surge a sobreprodução que é o sinal por excelência das crises modernas, amplificando o efeito das baixas taxas de lucro. As mercadorias que já não podem ser vendidas ou os salários demasiado baixos que não as permitem adquirir fazem eclodir a crise.
Para Karl Marx, a sobreprodução exprime o resultado de duas características contraditórias do sistema capitalista:
1. O caráter social da produção
Analisado por Marx e Engels, o caráter social da produção é o fruto de uma tendência inerente ao capitalismo: a procura do lucro por cada empresário incita a melhorar as técnicas e a lutar pela conquista dos mercados. A tendência da produção é caminhar para o gigantismo, a oferta é impulsionada para a frente como fazem os grandes construtores de automóveis que os fabricam aos moldes de caixas de construção ou legos. As mesmas peças fazem carros grandes para os ricos, médios para as classes médias e pequenos para os pobres ou classes médias baixas. A empresa que não fabricar em vários países do Mundo uns 5 milhões de viaturas diversas está condenada ao fracasso ou a ser absorvida por um império do setor como a VW que adquiriu a Porsche, a Lamborgini, a Audi, a Skoda, a Seat, a Scania Vabis, a Man e mais não sei quantas fábricas de peças, incluindo uma de salsichas para fornecer a todas as cantinas das suas fábricas em caixas etiquetadas com a frase “peça original VW”.
2. O caráter privado dos meios de produção
Para maximizar o lucro, é necessário que cada grupo capitalista aumente a sua taxa de mais-valia. Procura, por isso, minimizar os seus custos salariais para vencer a concorrência, o que determina a limitação da procura solvável. O curioso é que o grande capitalismo monopolista mundial encontrou em políticos chineses de inspiração marxista e maoista a maneira de concretizar este desiderato para destruir a pequena e média indústria europeia, incluindo aqui com uma violência brutal a portuguesa.
A combinação contraditória destas duas características provoca tendencialmente uma situação em que os trabalhadores não podem comprar os bens oferecidos em quantidade crescente por falta de rendimentos suficientes. Sucede isto em Portugal e na China os trabalhadores apenas podem adquirir cerca de 15% daquilo que produzem e que são os bens de pior qualidade.
A crise gera falências e desemprego, mas também a desvalorização do capital. Veja-se como as ações do BCP-Millenium caíram de mais de 5 euros para 1 cêntimo hoje. Apenas alguns monopólios continuam a valer, principalmente se estiverem concentrados em bens imprescindíveis como água, gás, eletricidade, etc.. O capital rendível sai vitorioso e permite novos meios de acumulação capitalista como é o caso do capital estatal chinês que adquiriu a produção e distribuição de eletricidade em Portugal.
Marx previu o futuro e escreveu que “a explicação geral de todas as crises não são idênticas”. Por isso é necessário estudar cada situação concreta e aí os elementos concretos que atuam nas crises. Não são iguais as crises de 1929, 1974 e 2008 …… Cada crise tem os seus ritmos, as suas amplitudes, os seus desencandeamentos, o seu processo e as suas formas de solução.
Seja como for, a crise é um elemento essencial ao capitalismo que vai buscar à desvalorização do capital as condições para uma acumulação alargada e entenda-se aqui tanto o capital fixo como o variável (custo do trabalho) para cujo embaratecimento, a crise social de empobrecimento é essencial. Veja-se o caso português com salários a 310 euros. Curiosamente, a crise social surge da crise económica e não da crise política. Em Maio de 1968, os tumultos políticos não geraram uma crise económica e nem sequer uma verdadeira crise social, dai que tenha tudo regressado ao ponto de partido mais reforma menos reforma. A Europa então estava protegida por pautas aduaneiras e contingentações, pelo que os sindicatos conseguiram aumentos salariais que promoveram o crescimento económico. Na crise atual não vemos alterações políticas, mas antes uma verdadeira crise social que tende a bloquear as sociedades através da paralisia de quem tem o dever de pensar. Os intelectuais despareceram, ficaram apenas os políticos de meia tigela, incapazes de enfrentarem os monopólios, sejam eles de que origem forem e estatais ou privados.
O ataque com gás Sarin do dia 21 d Agosto passado contra os rebeldes que ocupam o grande bairro sunita da periferia de Damasco, Mardsh al-Sultan, salvou o regime do ditador dinástico Bassar al-Hassad. Os rebeldes estavam a subir ao monte Cassius defendido pela poderosa 4ª Divisão Blindada, comandada pelo irmão do ditador, a recuar. Só o gás evitou a tomado do monte que domina os bairros principais da cidade desde Bab Turma a Mezze. A divisão já tinha perdido 7 tanques e estava em vias de perder mais porque os rebeldes avançavam com armas anti-tanque.
As tropas que defendem a cidade estão desmoralizadas e as suas famílias estão a fugir para o Líbano. Os rebeldes filmaram a destruição de um tanque que quando começou a arder saltaram para fora dois membros da guarnição vestidos à civil com jeans e sem capacete de aço, microfones ou armas ligeiras. Parece que o exército de Hassad combate à civil para os seus soldados refugiarem-se em qualquer local no caso de derrota ou então seriam milicianos shabilas que apoiam o ditador, mas não se sabe se muitos desses combatentes sabem manobrar tanques e, nestas situações, os que sabem estão mobilizados na tropa normal. Também podem ser iranianos ou membros do Hezbolah, admitindo-se neste caso que seriam iranianos porque o Hezbolah não tem tido tanques. Enfim, os correspondentes da BBC dizem que reina na cidade um espírito de fim de ciclo, o governo armazenou grande quantidade de munições no Museu Nacional depois de retirar as peças em exposição para abrigos especiais ou para as caves do Banco Central da Síria. O aeroporto internacional de Damasco está rodeado de dezenas de tanques para, obviamente, proteger a fuga do presidente e dos seus ministros e comandantes.
Na globalidade, dizem a BBC e a Rádio Deutschlandfunk, o regime só controla mesmo cerca de 5 a 10% do território, tendo as principais bases aéreas cercadas e, bem assim, as tropas que ainda combatem em parte da segunda cidade do país, Allepo. Os rebeldes administram uns 20% do território e cerca de 2% estão sob domínio curdo. Os restantes 70% são o deserto central e as montanhas a leste sem domínio militar e atravessado por forças de um ou outro lado. Os rebeldes não chegaram a Damasco vindos do Norte, mas já estavam na cidade e as suas forças são constituídas por desertores e jovens sunitas armados com armas retiradas de depósitos militares. Por isso não possuem máscaras antigás, nem cremes de proteção ou medicamentos que destroem no sangue as moléculas do sarin, mas dizem as rádios que estão a chegar ao norte da Síria ocupada pelos rebeldes grande quantidade desse equipamento fornecido por nações desconhecidas vindos em aviões sem bandeira ou numeração. Não será muito fácil fazer chegar rapidamente o material a Damasco, mas não é impossível por haver caminho livre, levará é algum tempo porque os rebeldes não possuem aviação.
Neste momento, das 19 bases aéreas da Força Aérea Síria, 4 foram tomadas pelos rebeldes, 7 estão cercadas sob fogo rebelde e 8 estão nas mãos do regime. Há ainda 6 aeroportos civis, estando 3 em zona rebelde e outros 3 em áreas do regime. Os rebeldes estão equipados com grande quantidade de pequenos mísseis antiaéreos que podem abater helicópteros de combate e até os Mig-29 junto às suas bases.
A guerra trava-se todos os dias de aldeia em aldeia. O exército do ditador está bem equipado de armas e munições, mas não tem comida. O país é mito árido e as populações maioritariamente sunitas esconderam os víveres. Há poucos dias, o Exército Sírio de Libertação cercou uma companhia do regime e encontrou 73 sobreviventes sem força para estarem de pé ou falarem. Combatiam há duas semanas quase sem alimentação; estiveram horas a comer e dormiram mais de 24 horas até poderem falar com os seus captores.
Contudo, o regime possui a importante base militar de Saikal em pleno deserto e inacessível aos rebeldes que possuem poucas viaturas e nenhum tanque. Nessa base estão os Mig-29 e um grande número de mísseis terra-terra Scud e, segundo um coronel desertor da Força Aérea, estão aí grandes depósitos de gás sarin e pessoal habilitado a fazer a mistura e encher as ogivas antes do lançamento. Dessa base partem aviões de transporte e helicópteros para abastecer as unidades militares cercadas pelos rebeldes. No caso de Damasco cair, Hassad pode refugiar-se nessa base e daí partir para as montanhas a leste e continuar a combater com o apoio logístico do Irão.
O regime não possui uma boa defesa antiaérea como pretende ter porque perdeu várias bases e basta a destruição da base de Saikal para derrotar completamente as forças do ditador dinástico. Os americano estão interessados em armar o mais possível o Exército Sírio de Libertação comandado por ex-generais de Hassad para evitar a tomado do poder pelos combatentes jihadistas islâmicos.
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