O Califado em Ação - Massacre de Iraquianos
Pode-se regressar ao passado? Poderia a fragata portuguesa Vasco da Gama repetir as façanhas da nau “Flor de La Mar” com que Afonso Albuquerque conquistou Ormuz e Malaca?
Para qualquer europeu, a história é a sociologia do passado mais os eventos relacionados pelo que não há regressos ao passado. Contudo, os muçulmanos sunitas da Organização Estado Islâmico da Síria e Iraque com acrónimo inglês ISIS proclamaram a fundação dum Califado da Síria e Iraque. O nome provém dos primórdios do islamismo, ou seja, “Khalifat rasul Allah (Sucessor do mensageiro de Deus). O líder jihadista do ISIS, Abu Bakr al-Baghdadi, declarou-se sucessor de Maomé e o quinto Califa do Islão com o nome de Ibrahim.
O Califado foi sempre uma monarquia absolutista em que o Califa detinha tanto o poder religioso como o temporal com base em tribos tão fiéis como guerreiras. O Califado de Damasco ou dos Omíadas existiu entre os anos 661 e 750, estendendo-se desde o Cáucaso a quase toda a Península Ibérica ao qual se seguiu o Califado de Bagdad ou dos Abássidas que durou até 1299, seguindo-se o Califado do Cairo ou dos Fatímidas e depois o Império Otomano sob a soberania do Califa de Istanbul a partir da queda do Império Cristão Ortodoxo de Constantinopla, conquistado definitivamente em 1453.
Mas, ao contrário dos antigos Califados, o atual é bem diferente devido ao seu extremismo e fúria assassina. Os Califas antigos conquistavam e detinham o poder, mas não liquidaram as muitas comunidades cristãs e judias e de outras religiões que encontraram nos territórios conquistados. Devido à falta de instrução das tribos árabes e até do seu número relativo, cristãos e judeus ocupavam posições de destaque nas administrações dos antigos Califas. Os homens do novo “mensageiro de Allah” são de uma intolerância invulgar, mesmo em relação à história do passado, dado que, sendo sunitas, não admitem os muçulmanos xiitas como gente digna de algo menos do que as balas das suas Kalashnikovs. O território que agora dominam estende-se por mais de 600 km desde a cidade síria de Aleppo à fronteira com o Curdistão iraquiano. Ainda tentaram entrar na região curda mas foram repelidos e sabem que estão ali homens bem treinados e armados.
Olhando para o Mapa e conhecendo as posições dos vizinhos do novo Califado não se prevê grande futuro, apesar de as forças de Ibrahim terem capturado grande quantidade de armamento em Mossul, cidade síria com 1,8 milhões de habitantes, e dominar áreas petrolíferas. Mas, não tem saída para o mar e se quiser ter terá de se bater ferozmente com as forças do presidente Assad, desguarnecendo a retaguarda iraquiana. Aí tem os curdos e os iraquianos xiitas dispostos a reconquistarem territórios perdidos. A Turquia fechou a fronteira com o território do Califado, não deixando que jovens vindos com passaporte de turista do mundo islâmica e até da Europa atravessem a fronteira para se juntarem ao exército dos mudos, como denominou um jornalista da rádio Deutschlandfunk. Mudos para não revelarem que quase não falam a língua árabe e quando falam não têm o sotaque do norte iraquiano. São em mais de 90% estrangeiros, se bem que seja possível que o Califa possa mobilizar muita gente nas regiões ocupadas. Sim, os árabes podem travar guerras porque as famílias têm muitos filhos ao contrário de americanos e europeus.
O grande inimigo do Califa Ibrahim é, sem dúvida, o Irão xiita e as milícias xiitas de Bagdad reforçadas com pessoal dos Guardas de Revolução Iraniana. Já chegaram alguns velhos aviões russos Su-25, obviamente com pessoal de manutenção e pilotagem iraniano ou russo. São aviões de ataque ao solo muito eficazes por terem uma certa blindagem de proteção e poderem lançar roquetes, bombas até 500 kg e mísseis diversos. Aviões lentos e subsónicos como convém ao ataque ao solo, podendo com a sua velocidade de 950 km/h ou um pouco menos fazer um primeiro ataque para abrir o caminho aos helicópteros de combate mais vulneráveis, mas muito mais certeiros. Enquanto o pessoal se abriga contra as armas dos Shukoi-25 aparecem logo de seguida os hélios a provocarem mais estragos.
Por outro lado. O Califado é algo completamente fora de tempo, pelo que as classes médias e mais evoluídas das regiões ocupadas vão perder qualquer entusiamos pelo modelo político se é que chegaram a ter algum, principalmente com a aplicação fanática das lei corânicas.
Cercados, sem abastecimentos e indústrias militares, desprovidos de aviação e, talvez, sem mísseis antiaéreos ou com muito poucos, é provável que o Califa Ibrahim venha a ser pendurado numa corda como aconteceu a muitos dos seus antecessores nas três grandes guerras civis muçulmanas da História. Ele bem pede que venham engenheiros, militares e pessoal administrativo árabe sunita auxiliar, mas não há via para chegarem. Está rodeado de países e governos inimigos.
Obama não se quer meter no assunto. Nunca esteve de acordo com a invasão do Iraque e nem apoio aéreo pretende dar ou até fornecer aviões, apesar do gigantesco porta-aviões “George H. W. Bush” estar no golfo pérsico com 90 aviões diversos, incluindo drones sem piloto. Sem intervir, os americanos podem fornecer muita informação obtida por satélite e por aviões que sobrevoem a região, incluindo os referidos drones. Até porque o Iraque é muito desértico e nenhuma força armada pode se deslocar sem ser vista, mesmo à noite.
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