É verdadeiramente inconcebível e de um egoísmo gritante que as Associações Patronais se oponham a um aumento substancial do ordenado mínimo de 385 Euros mensais quando é sabido que esse valor não é pago por quase nenhum empresa. O próprio Eurostat considera que o ordenado mínimo português é de 450 Euros porque quase todas as empresas acrescentam um modesto subsídio de refeição da ordem 65 Euros mensais, o que não chega a 3 Euros por dia de trabalho.
Já há tempos, a Universidade de Coimbra tinha feito um estudo e concluído que apenas 2% dos trabalhadores portugueses ganhavam efectivamente o ordenado mínimo. Hoje, sabe-se não devem chegar aos 0,5% os trabalhadores com um ordenado de 385 Euros menos os 11% da Segurança Social, o que dá 342,65 Euros ou 11,41 Euros por dia num mês de 30 dias. O ordenado mínimo está isento de IRS.
De resto, um empresário que queira empregar alguém a receber esses 342,65 Euros mensais não consegue qualquer trabalhador. Qualquer pessoa a limpar escadas, ajudar numa oficina clandestina de automóveis ou arrumar carros na rua ganha mais que isso. Até um pedinte faz mais.
Um exemplo: Um mecânico amigo que tem uma pequena oficina na Damaia de Cima arranjou um ajudante quer percebe pouco de mecânica e de bate-chapas, mas vai aprendendo. Mesmo assim, está a pagar-lhe 650 Euros mensais mais uma percentagem sobre trabalhos que faz sozinho e umas gorjetas que os clientes dão.
Quem for ao Mundo rural verifica que o maior problema da agricultura portuguesa é a falta de pessoal para trabalhar e nas colheitas e outros trabalhos agrícolas pagam-se 8 euros à hora e é já uma sorte arranjar quem queira fazer o trabalho. Portanto, em cinco dias úteis, o trabalhador faz o ordenado mínimo.
Dizer que o mercado não aguenta o ordenado mínimo, como disse na TV um dirigente patronal, é uma mentira colossal. Antes pelo contrário, o problema das empresas portuguesas é o baixo salário que não induziu a melhorias de qualidade de produtos, marketing, equipamentos fabris etc., não ordenados mínimos. Os baixos salários da indústria e comércio são de 450 Euros para cima até aos 600 ou 700 euros mensais.
Portugal enfrenta dois tipos de concorrência que batem as indústrias portuguesas. A dos países que pagam salários superiores, para os quais muitas empresas se deslocalizaram, e a dos países de mão-de-obra baratíssima, quase escravatura, associada a um câmbio extremamente baixo da moeda. A China, por exemplo, paga menos de 50 cêntimos à hora, o que significa que os seus termos de troca são altamente desfavoráveis, mas prefere isso a ter uma gigantesca população sem trabalho. O mesmo se passa com muitos ex-países comunistas como a Polónia, a Roménia, etc. que ao entrar na UE vão deixar de desvalorizar as suas moedas. Depois de décadas de governos comunistas, nada ficou de industrialmente válido nesses países, susceptível de ser exportado com êxito, pelo que sua única riqueza é a exploração do trabalho. Mas, como deixaram de poder desvalorizar as suas moedas, o custo do trabalho acabará por aumentar substancialmente.
Não há pois razão alguma para que o ordenado mínimo não suba dos actuais 385 Euros para 400 Euros já e em três anos chegue aos 500. A economia não sairá perturbada em nada e o governo passa por ser um benfeitor, enquanto o patronato vocifera contra o NADA.
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