Um simples procurador jurídico de Nova Iorque está empenhado em fazer com que na Colômbia a guerra de guerrilha volte a ser uma realidade, dando como findo o processo de Paz firmado 2016 que conduziu à entrega de 3 mil armas das guerrilhas da FARC que estavam em guerra contra o exército Colombiano desde 1960 e que tinham um antecedente bélico na guerra denominada “La Violência” que decorreu entre 1940 e 1950.
O procurador pede o envio de Jesus Santrich para os EUA, acusado de organizar o contrabando de 10 toneladas de droga para os EUA sem provas. Atrás do procurador estão certamente as organizações de sabotagem, espionagem e guerra suja dos EUA como são a CIA, a NSA e outras. Os procuradores colombianos, provavelmente bem pagos pelos amigos americanos, prenderam Santrich que está em greve da fome disposto a morrer a ser transferido ilegalmente para os EUA e aí condenado a uma prisão perpétua de curta duração porque será rapidamente liquidado.
Santrich é o atual líder intelectual das FARC que passaram a partido político com o nome de “Força Alternativa Revolucionária do Comum” e substitui o antigo comandante em chefe das FARC, Londono, que está gravemente doente na sequência de um ataque cardíaco. Jesus Santrich está cego e quer viver na capital para seguir um vasto conjunto de tratamentos no sentido de lhe darem alguma visão, pelo que seria a última pessoa a pensar em contrabando de droga. O governo do Presidente Santos está a dar-lhe um subsídio elevado e o tratamento é gratuito. As televisões pertencentes a capitalistas de direita fizeram montagens a falsificar encontros entre Santrich e pretensos contrabandistas de droga. Mas, Santos fala já em indícios porque em 2019 haverá eleições legislativas e ele quer que o candidato do seu partido ganhe.
A Paz deve-se muito aos esforços de um presidente de direita Juan Manoel dos Santos que foi galardoado com o Prémio Nobel da Paz, mas, curiosamente, não teve o apoio da direita nem da Igreja Católica, pelo que foi derrotado no referendo sobre o acordo de Paz. O povo terá votado pela guerra contra a Paz se bem por uma margem escassa, ou seja, uma maioria de 50,24% que não impediu que o presidente continuasse com o processo de Paz. A derrota da Paz foi devido à campanha levada a cabo pela Igreja Católica que não gostou de certas leis do presidente Santos a favor do aborto e de outras medidas progressistas, incluindo a eutanásia de nascituros com trissomias 18 e 21 graves e outras deformações congénitas fatais e frequentes na Colômbia.
O Papa Francisco nada fez para pressionar a sua Igreja a favor de Paz e depois visitou a Colômbio para prestar homenagem às vítimas da guerra de 57 anos sem fazer grande propaganda pela Paz. Parece que há um Papa Francisco para a Europa civilizada e outro para a América Latina.
Mais de 600 ex-guerrilheiros entraram na capital Bogotá e passaram a receber um subsídio de subsistência de 200 dólares mensais e foram reservados oito lugares parlamentares aos dirigentes do agora partido FARC. Os mais jovens frequentam escolas com bolsas de estudo adicionais. Outros ficaram desarmados em campos intermédios entre a floresta e altiplano andino. Provavelmente haverá armas escondidas nas florestas e muitos agricultores estão à espera de apoios para acabarem com o cultivo da coca, pelo que tudo pode recomeçar de novo, tanto mais que reina o caos na vizinha Venezuela de onde poderão vir mais armas.
Nas últimas eleições legislativas, a FARC teve um resultado baixíssimo da ordem dos 0,3% por se ter votado muito na cidade e não ter sido possível organizar nos meios rurais cadernos eleitorais e votações sérias. Mesmo assim, os homens e mulheres da guerrilha não querem ouvir falar em guerra. Os habitantes das cidades não simpatizam com as guerrilhas que sequestraram e mataram muitos citadinos. Apesar das suas razões, é melhor acabar com toda a guerra.
O interesse dos EUA na guerra deve residir na recente descoberta de muito petróleo na Bolívia e, como tal, querem ter um motivo para se apoderarem da nova riqueza, tal como fizeram em 1902 quando arranjaram uma guerra civil para conseguir a independência da província colombiana do Panamá e apoderarem-se do canal em construção.
Enquanto os militantes do partido da extrema direita italiana Lego festejavam o acordo de governo firmado com o Movimento 5 Estrelas (M5S), uns operários subiam a umas escadas e começavam a pintar de branco as enormes letras negras das palavras “Basta Euro” na fachada da sede na Via Bellerio em Milão. Antes mesmo dos entusiastas esvaziarem todas as garrafas de Proseco, já as duas palavras tinham desaparecido como se nunca tivessem existido. Daí que a bolsa de Milão tenha subido e ninguém se afligiu com uma agora improvável saída da Itália do Euro.
O professor de economia de 81 anos Paolo Savona, indigitado para Ministro das Finanças e da saída do Euro, foi recusado pelo presidente Matarela e passou para ministro das Relações com a União Europeia. Para o seu lugar vai Giovani Tria, o homem que não diz que a Itália quer abandonar o Euro, mas que a Alemanha é que deve sair como se algum país pudesse expulsar outro da zona Euro ou da União.
Na União Europeia, a realidade é que se fazem campanhas eleitorais e elaboram-se programas e antes mesmo de se formar um novo governo, já está Bruxelas influenciada por Berlim a pôr e dispor.
Vivemos o início de uma época muito especial em que até professores políticos querem iniciar uma nova carreira aos 81 anos como faz Paolo Savona que subiu no populismo com frases certas sim, mas …., como esta: “O Euro é um colete de forças de fabrico alemão, Desde o fim do nazismo que Berlim não alterou a sua visão da Europa. A pertença à Zona Euro contém em si um fascismo sem ditadura e, em termos económicos, é um nazismo sem militarismo”.
Os dois líderes partidários que mandam na Itália, Matteo Salvini do Lega (ex-Lega Norte) e Di Maio do Movimento 5 Estrelas não se entenderam quanto a quem deveria ser primeiro ministro, pelo que foi indigitado o ex-juiz e professor de Direito Privado (Família) sem qualquer experiência política ou administrativa, Guiseppe Conte. No fundo, o governo estará nas mãos de um triunvirato. Será o 67. Governo Constitucional italiano nos últimos 70 anos, o que não impediu que o país seja a 3ª Economia da Europa e um potentado industrial, se bem que em crise como está toda a gente no Mundo com mais ou menos disfarces.
O maior problema italiano é o da sua dívida pública de 2.386.000 de milhões de euros (132% do Pib), ou seja, em valor mais de 10 vezes a dívida portuguesa apesar de só ter 6 vezes a população lusa, 60 milhões de residentes mais uns crescentes “clandestinis” que chegam quase todos os dias ao sul da Itália e muitos até trazidos pelo patrulha português “Viana do Castelo” que anda por lá a pescar centenas ou milhares de emigrantes africanos em vias de se afogarem quando os botes de borracha sobrecarregados de gente estão a rebentar.
Cerca de 48% da dívida italiana está na posse de italianos, sejam bancos, seguradoras, instituições de solidariedade, fundos de reserva para pensões ou aforradores individuais, pelo que um corte brutal teria graves consequências internas. Ninguém gosta de perder o seu dinheiro ou as reformas, apoios sociais, indemnizações de seguros, etc. Outros 20% não contam porque estão no Banco de Itália para onde foram no âmbito do Programa de Alívio Financeiro inventado por Draghi e Constâncio. Em Portugal este segundo nome é sempre esquecido quando na qualidade vice-presidente do BCE participa em toda a sua atividade numa perfeita sintonia com o presidente Draghi. Nunca o BCE foi dirigido por duas personalidades tão amigas e com a mesma vontade de resolver o problema do endividamento dos países do Euro e já tanto fizeram. Em termos de solidariedade nunca o BCE tinha feito algo.
Na Europa ninguém se preocupa com esses emigrantes e já não os refugiados sírios, tendo a Itália que suportar o encargo aos mesmo tempo que começa a ser castigada por não ser mais eficiente na austeridade orçamental, apesar do seu défice ser de apenas 2,3%.
Segundo as promessas dos populistas, as despesas estatais devem aumentar em vários setores, tendo Bruxelas calculado que isso faria subir o défice italiano para 7%.
O que levou os italianos a votarem nos partidos populistas foi em grande parte a promessa de levarem os “clandestinis” para as costas africanas, Tunísia e Líbia, pois o país tem uma taxa global de desemprego de 11%, mas há duas Itálias, o Sul e o Mezzogiorno com 19% de desemprego e um Pib per capita de 18.600 Euros e o Norte com cerca de 9% de desemprego e um Pib de 34.000 Euros.
Os jornais italianos e europeus fazem muita troça do governo populista com o partido mais votado, o M5S, fundado por um palhaço que concorreu pela primeira vez a eleições a título de palhaço com o lema “pior que eles não posso ser”.
O “Il Manifesto” chama à Itália “Populandia”, enquanto o “Il Foglio” escreve “assim nasceu a terceira República sob os risos de todo o Mundo” e o “Financial Times” diz: “Roma abre as portas aos bárbaros modernos”. O “Der Spiegel” intitula o seu artigo sobre a Itália “um fósforo a arder” e no número seguinte coloca na capa “Ciao amore!” – A Itália destrói-se a si mesma – e arrasta a Europa consigo”.
O jornal „Negócios“ da Cofina resolveu oferecer um exemplar gratuito quando comemorou há dias o seu 15º aniversário. Aquilo vinha com as biografias dos principais magnatas da nossa praça e em todas podíamos ver que são herdeiros de país ou avôs que fizeram fortuna. Até o homem da Simoldes que diz que começou de baixo, trabalhou no campo e depois numa serralharia, era na verdade neto de um ex-sócio minoritário de uma fabriqueta de moldes que foi corrido quando a empresa começou a dar lucro e depois com o filho e o neto instalaram uma oficina de moldes que foi progredindo até tornar-se no gigante que é hoje.
Digo isto para explicar que, salvo raras exceções, não se fazem fortunas inimagináveis de um dia para o outro. No mundo capitalista, as fortunas crescem ao longo de mais de uma geração, apesar de termos os casos singulares de Bill Gates, Zuckerberg e do tipo do Amazon por terem aparecido com ideias mais ou menos novas nos novos suportes informáticos de há pouco mais de vinte anos.
Na China não tem sido assim. Há fortunas incalculáveis feitas em poucos anos sem que se saiba como foram feitas. Fundamentalmente o grande segredo está na mão-de-obra a preço de escravatura e quando o Partido Comunista da China acredita e apoia um empresário todas as portas estão abertas, incluindo fantásticos créditos bancários.
Vem isto a propósito do eng. Li Shufu que adquiriu há dias 103.619.340 ações da Daimler Benz AG, a fábrica dos célebres Mercedes, por mais de 7,4 mil milhões de euros, já depois de ter adquirido a Volvo sueca e as fábricas Proton da Malásia e dos London Táxi.
O homem não herdou nada e vem de uma sociedade em que ninguém possuía algum bem de produção, mas em 1982 quando se formou em engenharia (dizem) adquiriu uma máquina fotográfica para tirar fotografias a turistas e a quem quisesse ter uma foto sua, já que as máquinas não abundavam e eram fabricadas na China. Para um conhecedor da China, Li Shufu conseguiu a máquina por estar ligado como informador aos serviços secretos do PCC e terá convencido os chefes que podia fazer um bom “trabalho” a tirar fotografias.
Já com o apoio da polícia secreta, Li consegue em 1985 ficar de uma maneira pouco clara com uma pequena fábrica que fazia peças para frigoríficos e pouco tempo depois começa mesmo a fabricar o eletrodoméstico completo, provavelmente com pessoal muito barato e especializado que “alguém” lhe enviava. A China tinha conhecido a Revolução Cultural que levou ao fecho de numerosas fábricas, pelo que havia muitos operários dispostos a trabalhar por um pouco de arroz.
Uns anos depois, em 1994, iniciou o fabrico de uma cópia de uma scooter japonesa e queria mesmo fabricar carros, mas os seus mentores acharam que estava a querer dar passos demasiado grandes. Aquilo vendeu-se muito bem e até se exportou pois as mais-valias produzidas pelos trabalhadores ultrapassavam os 95%, ou seja, ganhavam 5% do valor do seu trabalho.
Dado esse êxito, novamente “alguém” arranja-lhe uma prisão abandonada que serviu durante o maoismo para fabricar camiões pequenos e aí, em 1997, Li Shufu resolveu iniciar o fabrico de cópias aparentemente fiéis dos Mercedes da Classe E, pelos quais tinha uma paixão enorme. Claro, não tinha dinheiro para comprar as prensas de mil e duas mil toneladas utilizadas na indústria automóvel para moldar as chapas, pelo que começou a fabricar carroçarias em plástico reforçado com fibra de vidro como se fazem os barcos e adquiriu componentes como motores, transmissões, etc. à FAW (Primeira Fábrica de Automóveis da China), algo só possível com muita influência de cima.
Muitos dos antigos prisioneiros da fábrica voltaram à fábrica que já não era prisão para ganharem apenas o suficiente para comerem e receberem uns fatos de macaco. Não tinham para onde ir. Nos tempos do Mao, a fábrica “contratava” pessoal, prendendo ao calhas os especialistas que precisavam, mas a situação acabou mal porque alguns técnicos eram membros do partido e aquilo causou muito barulho interno até fechar e terá mesmo sido dada a Li Shufu.
As cópias dos Mercedes não deram resultado. O mercado percebeu que aquilo era de plástico e até entortava com o sol e os motores eram de fabrico chinês. Só o aspeto é que dava a impressão de ser verdadeiro.
Li Shufu passou a fazer cópias de carros mais modestos e lentamente arranjou dinheiro de “alguém” para comprar prensas modernas para chapa, mandar produzir chapa zincada e adquirir o sistema elétrico Bosch e outras coisas, incluindo motores Renault.
Não dizem, mas parece que Li Shufu foi o comprador da Roover que desmontou no Reino Unido e instalou na sua fábrica para fazer as mais diversas cópias e fabricar os Mercedes C sob licença com o apoio da Mercedes que até lhe forneceu prensas e componentes mecânicos.
Em 2005, a empresa de Li, a Geely, foi à bolsa de Hong Kong para angariar o capital necessário à aquisição das máquinas na Alemanha.
Em 2010, Li adquire a Volvo, começando a fabricar os Volvos de luxo na China, mantendo o fabrico dos mais pequenos na Suécia. Na China só se vendia o luxo, pois, como ainda é hoje, ou se é milionário ou quase miserável. Só agora é que começa a aparecer lentamente uma classe média mais ampla que vai ser a demolidora da ditadura comunista chinesa.
Enfim, de oferta em oferta Li Shufu chega a uma fortuna impensável, calculando-se de cada euro da sua fortuna 90 a 95 cêntimos resultaram do trabalho não pago aos seus trabalhadores ou mais valia no sentido marxista do termo.
Li é o exemplo de como as teses de Karl Marx dão um resultado fenomenal em termos de exploração do trabalho e formação de fortunas incalculáveis e está longe de ser o único na China.
Foto: A prisão fábrica onde Li iniciou a produção de automóveis com os antigos escravos que trabalhava a troco de um pouco de arroz e fatos macacos, dormindo em esteiras como nos tempos em que a justiça Chinesa mandava qualquer um para a prisão.
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