As religiões, e em particular a católica, têm quase sempre uma estrutura muito hierárquica e movimentam-se num mundo de pensamento totalitário; é aquilo que está escrito na bíblia ou no alcorão e mais nada; quem não acredita é pecador.
Contudo, os ensinamentos religiosos estão eivados de profundos absurdos como revelou recentemente o grande filósofo americano do pensamento cognitivo, Daniel C. Dennet, em "Breaking the Spell: Religion as Natural Phenomenon".
Aí Dennet exemplifica com o absurdo totalitário que é a ideia do pecado original e do facto de o filho do demiurgo morrer para nos salvar de um pecado cometido por um avoengo ao comer um fruto tão saboroso como inocente, a maçã.
Muitos clérigos mais evoluídos referem que a história contada no Livro tem um carácter simbólico; não será bem para levar à letra. Mas, então o filho do demiurgo morreu torturado na cruz por causa de um símbolo? Absurdo!
Outro dos absurdos católicos é, sem dúvida, o milagre.
O Dr. Navarro, radiologista da Opus Dei, terá sido curado de além tumba pelo Monsenhor Marquês Escrivã de Balaguer, fundador da dita Opus Dei. O cardeal português que se ocupa dos milagres pretende ter provado que a cura foi milagrosa, pois não haveria outro método.
Sucede que eu mesmo padecia de uma doença nas mãos, a chamada doença de Depuytrans, semelhante à descrita pelo Dr. Navarro que me afectou as mãos desde há mais de vinte anos atrás e que foi desaparecendo lentamente quase por completo, sem tratamento nem preocupação com a mesma. Na altura, os médicos diziam que podia ser operado, mas que na maior parte dos casos a intervenção redundava em incremento dos sintomas e da própria enfermidade.
Não rezei a ninguém e a natureza encarregou-se do tratamento. Também sofri de uma cegueira numa vista que se curou por si própria. O oftalmologista dizia que era impossível tratar o problema que estava muito em cima da fóvea, o centro vital da visão na mácula, a zona central da retina, mas o coágulo desapareceu sem qualquer encomenda a santo ou ao próprio demiurgo e voltei a ver com pequenas distorções.
A lógica filosófica é um todo. Se há premissas erradas, logo o silogismo não pode estar certo e este é o conceito de demiurgo, criador pensante que terá dado origem a um ser humano à sua imagem e semelhança. Não me tenho em tão alta estima para ser imagem do ser fundador do imenso Universo ou dos Universos, cuja natureza desconheço em absoluta como desconhece a ciência e a teologia. E se não sei como apareceu a matéria, também não sei que fenómeno poderia ter feito aparecer o demiurgo e como poderia ele ter existido desde sempre; antes mesmo do tempo.
Dizem os eclesiologistas ferrenhos da doutrina que os caminhos da fé não são os da ciência. Errado, erradíssimo. A mente funciona apenas pelo que sente e adquire como conhecimento. A fé é uma forma de conhecimento como qualquer outro baseado na aceitação de uma construção mental em que algo para existir tem de ter uma origem e esta só pode ter funcionado como uma mente humana, planeando e construindo ou criando. Aceitar isso como conhecimento é vulgar, mas tem o mesmo valor cognitivo que as histórias da pantera cor de rosa. Não há fé separada do conhecimento, a própria fé carece de um objecto, reforçado por rituais complexos para dar uma aparência de realidade.
O problema do ateísmo e das religiões não preocupou muito os seres pensantes europeus nas muitas décadas anteriores, em que os estados laicos não impunham a religião e os ateus coibiam-se de ferir os sentimentos religiosos dos devotos de qualquer confissão religiosa.
Mas eis que subitamente, o Mundo é abalado com o 11 de Setembro por um ataque perpetrado por fundamentalistas religiosos e a seguir sucedem-se matanças sem fim por escatimosos prosélitos de particularismos da fé. Refiro-me aos massacres perpetrados entre os xiitas e sunitas. E nos EUA, o país da ciência, fundamentalistas cristãos em torno de Bush e do Partido Republicano pretendem impor o criacionismo como verdade científica a ser ensinada nas escolas, por vezes, apenas acompanhada pelas teses anacrónicas do desígnio inteligente.
O próprio Ratzinger, Papa Bento, defende a tese da razão como base da fé, como se fosse razoável acreditar em milagres ou aceitar o pecado original, além dos crimes perpetrados pelo demiurgo descritos no livro sagrado como os que castigaram Job.
Bento combate o relativismo, como se não fosse tudo relativo. Toda a verdade é relativa porque só é verdade enquanto não aparecer outra tese mais elucidativa, a qual também não deixará de ser relativa. É evidente que para os totalitários, o relativismo nunca pode existir. Não podem aceitar uma verdade a prazo nem a relativa insignificância do saber de cada e de todos.
Por todas estas razões, no Mundo eclodiu o ateísmo militante no aspecto filosófico e intelectual em si mesmo. No combate aos totalitários e anti-relativistas ressurge o fenómeno da intelectualidade que parecia morto; ultrapassado pela máquina, ou seja, pelo computador. As ideias pareciam ter deixado de existir para renascerem subitamente concepções arcaicas e, no mínimo, medievais que levam diariamente pessoas a imolarem-se em actos de gigantesca criminalidade para irem para um paraíso com 300 virgens à sua disposição.
Os pensante põem as mãos na cabeça e perguntam aterrorizados, porque deixámos de pensar? Porque tivemos durante tanto tempo medo de pensar? E medo de escrever?
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