O excelente cantor e compositor José Mário Branco deu uma pequena entrevista na televisão a propósito de um espectáculo que vai dar e falou na “porcaria de sociedade em que vivemos com cada vez mais diferenças sociais, etc.” Por fim citou uma empregada da Faculdade de Letras que lhe disse, salvo erro, “isto já não vai com cantigas, é preciso destruir para depois construir de novo”.
É evidente que não está tudo bem em Portugal. Temos de estar descontentes, pois o diploma do engenheiro Sócrates pode ser ou não ser de licenciado ou só de bacharel e ele pode ter andado a enganar-nos com o título de engenheiro e outras coisas mais importantes como o Aeroporto da Ota que não contenta toda a gente, etc.
Sucede que os portugueses, nos quais me incluo, naturalmente por nascimento, não podemos ocupar uns míseros 92 mil km2 e sermos apenas dez milhões e não colhermos os ensinamentos e a experiência dos quase sete mil milhões de irmãos nossos que co-habitam connosco este pequeno Planeta e, principalmente, não ligarmos a esse imenso laboratório de ciências sociológicas, políticas e económicas que foi o Século XX e a própria actualidade do momento.
De descontentamentos assim, resumidos em “porcarias de sociedades”, resultaram centenas de milhões de cadáveres por via de ditaduras fascistas, comunistas e outras que quiseram partir tudo e reconstruir tudo de novo. Partir, partiram tudo, mas construir não; acabaram todas em fazer mais do mesmo.
Curiosamente, o maior país comunista da Terra que é hoje o maior país capitalista sem deixar de ser comunista, vá a gente perceber isso, partiu tudo duas vezes para, afinal, acabar num capitalismo selvagem e bárbaro com mais milionários e oligarcas que o resto do Mundo juntos.
A primeira Revolução Chinesa começou com a longa marcha nos anos trinta, culminando na tomada do poder em 1948 por Mao Ze-dung com a destruição do capitalismo e matança de milhões de pequenos Chang Kai-cheks como dizia Mao, seguindo-se depois nos anos sessenta a Revolução Cultural sob o célebre lema “Destruam primeiro, e a reconstrução far-se-á por si mesmo” e outros como “Reformar o Pensamento através do Trabalho” que até lembra o “Arbeit macht Frei” (O Trabalho liberta) que os nazis punham à porta dos campos da morte. Enfim, tantas mortes, tanta destruição, para acabar tudo num capitalismo bem mais voraz e selvagem que o anterior.
E o que sucedeu com a Revolução Bolchevique e subsequente guerra civil com mais de dois milhões de mortos e a família imperial da velha Rússia fuzilada de uma só vez? Depois da destruição e da falhada construção de uma nova sociedade e de um homem novo, mais solidário e menos explorador, a Revolução acabou numa inexplicável e inimaginável oligarquia capitalista.
O Vietname segue o mesmo caminho e Cuba entregou os seus hotéis a grandes empresas capitalistas que exploram largamente o turismo daquela ilha tropical quase paradisíaca.
De todas as destruições seguidas de construções de novas sociedades, a do Cambodja foi a mais terrível com a matança de quase metade da população. E mais uma vez para acabar no capitalismo duro e selvagem.
Afinal, pergunta o cidadão inocente, quem foram e quem são os revolucionários. Que revoluções foram essas que acabaram em tantos Abramovitch? E será que em Portugal devemos matar uma única pessoa por causa desta “porcaria de sociedade” que, na verdade, é bem melhor que tudo o que tivemos no passado, apesar do diploma de Sócrates.
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