Winston Churchill escreveu um dia: success is the ability to go from failure to failure without loosing your enthusiasm.
Isto é, sem dúvida, uma frase que se aplica a Portugal que possui uma das mais elevadas dinâmicas de empreendedorismo e a mais alta taxa de empresários na população activa. A taxa anual de renovação empresarial está este ano a ultrapassar os 1,8% do número total de empresas quando, por exemplo, nos EUA e Espanha é de 1,6%, no Reino Unido 1,4%, na Alemanha 1,1%, na França 1,0% e na Holanda 0,8%. Em nenhum país da OCDE se verifica uma taxa igual à portuguesa.
É certo que se trata da criação de empresas, principalmente pequenas, mais por necessidade que por oportunidade, mas a possibilidade de falhar não esmorece o entusiasmo dos empreendedores e, entre 1995 e 2000, duplicou em Portugal o número de empresas com actividades de investigação e desenvolvimento (I&D) porque foi também o grande período do aparecimento das incubadoras de ideias e desenvolvimento tecnológico, dos interfaces associativos entre universidades e empresas para o desenvolvimento e o SIFIDE (Sistema de Incentivos Fiscais à I&D nas Empresas), introduzido em 1997 (com Guterres), aperfeiçoado em 2001 e lamentavelmente cancelado em 2003 pelo governo PSD/CDS.
O SIFIDE apoiou actividades de I&D em mais de duas mil empresas, salientando-se tanto os fabricos tradicionais como a subida de nível tecnológico de empresas que passaram para o sector têxtil técnico, nomeadamente o fabrico do material dos coletes anti-balas pela TMG. Graças ao SIFIDE, entre 1998 e 2000 aumentou nas empresas em 17% o emprego de licenciados e em 57% o de mestres e doutorados.
O novo sistema que volta a introduzir o essencial do SIFIDE foi aprovado pela AR em Maio deste anos e já foi apreciado na especialidade, faltando a votação final, pois esperava a aprovação do OE para integrar as verbas necessárias. Este novo sistema estimula principalmente o emprego científico no sector privado, em empresas inovadoras, assegurando condições de apoio excepcionais à contratação de recursos humanos qualificados e à mobilidade do sector público para o privado e é particularmente estimulante a nível internacional para potenciar o investimento estrangeiro em Portugal com actividades de desenvolvimento tecnológico no sector privado.
Mas, a política de desenvolvimento tecnológico do Governo Sócrates, não se limita aos incentivos fiscais, mas também ao desenvolvimento dos interfaces, incubadoras estatais de ideias em parceria com privados, salientando aqui o interface JUNITEC, Júnior Empresas, do Instituto Superior Técnico (IST) destinado ao lançamento de grupos de empresas com base tecnológica por parte de jovens engenheiros saídos do Técnico e com a colaboração de estudantes da mesma escola.
De entre as muitas instituições de interface que fazem a ligação entre investigadores universitários criados sob os auspícios do actual ministro Mariano Gago nos tempos de Guterres, devo salientar como um dos mais bem sucedidos e a funcionar em pleno hoje, o Instituto Pedro Nunes Associação para a Inovação e Desenvolvimento em Ciência e Tecnologia, IPN, criada pela dupla iniciativa da Universidade de Coimbra e Estado Central. O objectivo do IPN é criar redes de parceria entre a UC e as empresas para estimular a transferência de conhecimentos, encontrar soluções técnicas e científicas para certos problemas e desenvolver novos produtos. O IPN dispõe de um conjunto de laboratórios próprios em áreas diversificadas e faz a ligação a todos os investigadores universitários.
Refiro aqui alguns casos concretos que permitiram a certas empresas melhorar a qualidade dos seus produtos e conquistar novos mercados.
Projecto PARIS que envolveu o Laboratório de Ensaios, Desgaste e Materiais do IPN e a empresa PROCERAM no desenvolvimento de equipamentos para a análise de defeitos de pisos cerâmicos. Para o efeito foi criada uma aparelhagem nova com sensores e electrónica desenvolvida pelos referidos laboratórios que permitiu automatizar a análise de peças defeituosas de piso cerâmico nas respectivas linhas de fabrico, algo que não existia em parte alguma do mundo. O método de análise é de ultrasons e está a ser patenteado a nível mundial.
O IPN participou no programa europeu CRAFT para incorporar tecnologias inovadoras no sector dos moldes. No seu subprograma AL-MOULD foram desenvolvidas soluções de revestimento por recurso à técnica de pulverização catódica (PVD) para protecção superficial dos moldes de injecção de polímeros em materiais alternativos como alumínio e compósitos de matriz polimérica. O projecto envolveu duas novas empresas portuguesas, a DTECH e TEandM, perspectivando-se com este projecto a aquisição de grande número de moldes por parte da Airbus, da empresa inglesa Teer Coatings e da alemã Durit Hartmetall.
No âmbito dos novos projectos de competências regionais, saliente-se o projecto IPORCENTRO (Programa Regional de Acções Inovadoras, PRAI Centro) para o desenvolvimento de tecnologias de injecção de pós cerâmicos e metálicos nas suas diferentes vertentes, desde a preparação das matérias-primas até aos métodos de extracção dos ligantes e sinterização das pelas, passando pela concepção e protecção dos moldes de injecção. Trata-se aqui de fazer evoluir a indústria cerâmica para um patamar muito superior de tecnologia em que se possam fabricar novos materiais metalo-cerâmicos e materiais especiais para a microfabricação de peças e ir até ao fabrico de materiais supercondutores a temperaturas "levadas" como forma de conseguir motores eléctricos a funcionar sem consumo de energia.
Através da sua Incubadora de Empresas, actualmente em fase de grande expansão, o IPN estimula o empreendedorismo e promove a criação de empresas spin-off através do apoio a ideias inovadoras vindas dos seus próprios laboratórios, de instituições de ensino superior, predominantemente a Universidade de Coimbra, do sector privado e de projectos de I&DT em consórcio com o sector privado.
O IPN trabalhou com 60 empresas e está actualmente em fase de incubação técnica e financeira com 18 empresas, cujo volume de negócios ultrapassa já os cinco milhões de euros. Saliente-se que o IPN proporciona contactos privilegiados com entidades financiadoras, até porque confere aos projectos em curso a indispensável idoneidade. Também trabalha em matérias como a gestão, o marketing, planos de negócios, etc.
Informação dada pela professora doutora Teresa Mendes, presidente do IPN.
Enfim, há muitos mais projectos em curso, tanto desta incubadora como das muitas outros que estão a funcionar mais agora.
Este é verdadeiramente o caminho para Portugal sair da crise. Os empresários por si próprio não têm meios para a I&DT, pelo que tem de ser o Estado a apoiá-los e a ter os seus investigadores e refira-se que nada disto é possível com universidades privadas, sejam católicas ou laicas, pois são organismos destinados unicamente a sacar dinheiro aos alunos.
Mas, Portugal tem bons investigadores, bons engenheiros e, ao contrário do que se afirma, é MENTIRA que estejam todos a FUGIR para o Estrangeiro.
Os poucos que o fazem estão igualmente no bom caminho, pois qualquer país necessita de vasos comunicantes entre o que se faz fora e dentro. Recordemos que a bomba atómica chinesa foi feita por físicos chineses que trabalharam nos EUA, o que não é um bom exemplo, mas foi assim.
Agora vem a notícia na France Inter que a Airbus vai instalar uma linha de montagens de aviões A 218, 219 e 220 na China para montar e construir em parte 2.700 aparelhos, parte dos quais será exportado.
Enfim, mais uma prova de que o capital europeu está disposto a prescindir dos trabalhadores europeus e a fornecer à maior nação do Mundo, a mais avançada tecnologia.
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