Os grandes interesses financeiros, nomeadamente o Banco Espírito Santo e o grupo de Belmiro, averbaram hoje uma vitória relativa e ainda provisória com o aparente recuo do governo quanto à localização do novo aeroporto de Lisboa.
O ministro Mário Lino encomendou um estudo para a zona de Alcochete ao LNEC que deverá estar pronto daqui a seis meses e que atrasa, portanto, os concursos para fazer a OTA.
Salta à vista de toda a gente que o desejo de ver um aeroporto na margem sul do Tejo tem a ver com os portentosos interesses financeiros como os do BES que possui imensas herdades e projectos turísticos do tipo Portucale, do grupo Belmiro com a Tróia e da CUF na nova versão com interesses em Setúbal e arredores de Alcochete para quem um aeroporto em Alcochete iria beneficiá-los. Saliente-se que o ex-ministro Cartroga está ligado ao grupo CUF.
Na Ota não há grandes interesses financeiros, mas há o interesse dos pequenos e médios industriais instalados em todo o Norte de Lisboa até Caldas da Rainha, Leiria, etc. Indústrias de moldes, plásticos, equipamentos industriais, vidraria, cristais e produção hortofrutícolas, centrais eólicas, pescas, etc. Claro, no sul também há alguma coisa, mas no âmbito da Região de Lisboa e Vale do Tejo, a margem sul tem cerca de 950 mil habitantes e a margem norte mais de 2,5 milhões.
A escolha da Ota tem a ver com a geografia económica e humana de Portugal associada à possibilidade de haver ligações ferroviárias a Lisboa (Gare do Oriente) com comboios de dez em dez minutos.
Alcochete terá comboios de 45 em 45 minutos como revela o Estudo da Empresa dos Aeroportos de Paris feito há alguns anos atrás e susceptível de ser consultado na Net sob o termo Naer na página inicial do Sapo. Estudo feito antes de passar pela Ponte 25 de Abril comboios de Setúbal, Alentejo e Algarve.
O novo aeroporto tornou-se palco da típica luta de classes que sempre existiu em Portugal; a luta travada entre pequenas e médias burguesias ou classes médias e os grandes interesses capitalistas. Por isso, o Estudo favorável a Alcochete foi apresentado ao Governo pelo presidente da CIP à revelia das respectivas Associações Industriais e dos próprios directores da CIP que só amanhã vão ser informados, pois os grandes banqueiros não fazem parte da CIP, sendo que a maior parte dos industriais portugueses é de dimensões médias e pequenas e, como disse antes, estão localizados a Norte do Tejo.
O engenheiro Van Zeller, presidente da CIP, é militante do PSD e está mais comprometido com os grandes interesses financeiros que com os interesses dos industriais. De resto, ele até nunca foi industrial. Teve um cargo importante numa empresa metalúrgica filial do grupo norte-americano Ferro, mas não consta que tenha sido sócio de alguma fábrica.
O PSD no Governo tinha escolhido a Ota e pediu e obteve apoios financeiros de Bruxelas para implementar o ante-projecto, nomeadamente os estudos para o mesmo. O governo Sócrates ao estudar tudo o que foi feito, concordou com a decisão do governo de Durão Barroso e continuou o trabalho.
Sucede que Marques Mendes, como provou nas suas intromissões nos assuntos da CML, tem interesses financeiros muito particulares e está sempre com certas pessoas e contra outras, ou seja, deve estar a favor daqueles que lhe pagam e se o BES depositou um milhão de euros na conta do CDS quanto não terá depositado na conta do PSD, um partido muito mais importante.
A solução Alcochete é aquilo que o engenheiro Van Zeller disse há pouco na televisão; algo com boas acessibilidades de táxi ou autocarros e não para os comboios.
Pessoalmente não tenho preferências pela localização desde que o acesso por via férrea seja possível com a rapidez e frequência que conheço de todos os aeroportos europeus, desde Madrid a Berlim, passando por Londres, Paris, Frankfurt, etc.
Mas, ao falar de via férrea não me estou a referir ao TGV. Basta um comboio à velocidade normal pois em 50 quilómetros de percurso não é possível acelerar a 300 km/h e não é preciso. A 120 ou 150 km/h o comboio estará na Gare do Oriente, vindo da Ota, em 20 minutos.
De Alcochete, a frequência será no mínimo de 45 minutos porque a composição ferroviária terá de passar pela Ponte 25 deAbril e meter-se nas linhas circulares de Lisboa que passam por Entrecampos, Roma e Oriente. Fará com isso mais de 100 km de percurso em linhas atravancadas com os comboios do sul do Tejo, Algarve, Sintra, Azambuja, etc. E a construção de uma nova ponte sobre o Tejo tornará o aeroporto de Alcochete imensamente caro.
Um aeroporto para táxis? Não, obrigado. O táxi ficava mais caro que a viagem de avião e embrenhava-se nos engarrafamentos lisboetas.
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