É próprio de todas as bolhas rebentarem e não vejo que não suceda o mesmo com a actual bolha petrolífera e que os preços venham a descer acentuadamente. A dificuldade está em prever o quando, mas, de qualquer maneira, o fim da actual alta exagerada de preços tem a ver com as alternativas que têm de ser encontradas de uma maneira definitiva no âmbito dos esquemas já descritos neste blog e outros.
Segundo a revista norte-americana “Time”, o Mister Rainwater que nada tem a ver com a água da chuva e que tem sido o maior especulador nos futuros em petróleo e gás e nas acções das grandes petrolíferas retirou-se do mercado com os seus dois biliões de dólares que ganhou desde 1998 quando o “crude” estava a uns 10 dólares. Rainwater aproveitou para as suas contas bancárias a subida de 1.350% do preço do barril em onze anos e diz que está, eventualmente, disponível para voltar a entrar no mercado quando os preços descerem acentuadamente. Para ele, foi convincente uma sondagem feita nos EUA em que 77% dos americanos disseram que estavam a tomar medidas muito sérias para reduzir as suas despesas em combustíveis, utilizando menos as suas viaturas, deslocando-se mais em transportes colectivos, bicicletas ou scooters e mudando para carros mais pequenos e económicos, etc. Uma percentagem tão grande de americanos a gastarem menos 10 a 20% de combustível representa muito, tanto mais que, por todo o Mundo, os cidadãos não podem deixar de fazer o mesmo.
Dos dois grandes países que subsidiavam os seus combustíveis, a Índia e a China, o primeiro está a sair desse esquema, passando apenas a apoiar o querosene barato que é utilizado pelos agricultores pobres na confecção das suas refeições. O estado indiano estava já a gastar mais de 10 mil milhões de dólares em subsídios e as três petrolíferas estatais registam prejuízos superiores a essa verba. Isto num país que possui um parque automóvel inferior a um décimo do português. Por cada indiano com automóvel, há dez portugueses com carro. As gasolinas e o gasóleo na Índia aumentaram já em 11% e continuam a subir com protestos de vastos sectores da população, apesar de a tracção animal ainda ser largamente utilizada.
A China enfrenta problemas semelhantes, também com subsídios da ordem dos 10 mil milhões de dólares e com empresas petrolíferas estatais a assumirem uma parte importante do défice petrolífero junto dos consumidores. Depois dos jogos olímpicos, os chineses vão, naturalmente, rever os seus preços, tal como começa a suceder noutros países asiáticos que procuraram poupar os seus consumidores como a Indonésia que tem muito petróleo seu, mas insuficiente para os seus gastos, as Filipinas, a Tailândia, Singapura, Taiwan, Hong Kong e Coreia do Sul.
Muitos destes países não possuem uma rede eléctrica nacional que cubra as suas aldeias cada vez mais populosas. A China gasta imenso combustível na distribuição de carvão e outros combustíveis por quase um milhão de aldeias, cidades e partes das mesmas. Recorde-se que o louco plano de Mao para a instalação de pequenas siderurgias nas aldeias falhou por causa da impossível logística da distribuição de carvão e minério de ferro.
O eventual aumento drástico dos combustíveis pode provocar grandes convulsões na China que podem ir até à queda do regime pois as ditaduras, tal como as bolhas, também rebentam. A economia tem funcionado à custa de combustíveis artificialmente baratos e salários baixíssimos. Se um dos factores aumenta, o segundo não pode ficar na mesma ou sofrer reduções para compensar a alta dos custos industriais.
O preço alto da energia fóssil está a impulsionar uma nova revolução industrial que acabará numa Humanidade menos dependente do petróleo e, por ventura, com muito menos emissões de CO2. Os países têm a possibilidade de resolverem o problema da dependência dos hidrocarbonetos e estão a fazê-lo a nível da produção da energia eléctrica e a partir daí a passarem para as viaturas híbridas ou eléctricas. Mas, antes de se chegar a uma solução satisfatória há que trabalhar muito e não pode a Humanidade pensar que se houver uma quebra muito acentuado no preço do petróleo que está tudo resolvido e regressa-se aos carros grandes consumidores, aos muitos e quase desnecessários sistemas de ar condicionado e aos aquecimentos eléctricos sem o devido isolamento das casas.
Texto de Dieter Dellinger.
Acréscimo de 7 de Agosto de 2008.
Texto escrito e publicado a 18 de Junho de 2008, portanto, antes do 11 de Julho, data em que o barril do "crude" ultrapassou os 145 Dólares.
Hoje, está a 119. Em duas semanas desceu mais de 26 dólares, o que pode significar que a "bolha petrolífera" está a rebentar.
Mister Rainwater é, sem dúvida, um homem inteligente. Retirou-se a tempo com os biliões que ganhou, vendeu as acções das principais petrolíferas quando estavam no auge.
O presidente Hogo Chávez da Venezuela já disse que o petróleo seria capaz de estabilizar por volta dos 100 dólares. Esperemos pelo fim dos Jogos Olimpícos para ver que a China vai fazer, pois está a tornar-se no primeiro consumidor mundial e o governo não quer muitas complicações até ao fim da festa, pelo que os aumentos de preços dos combustíveis foram ligeiros.
Contudo, a China está a ser prejudicada pelo aumento das "bancas", combustíveis para navios, que têm tornado o transporte das mercadorias chinesas mais caro, principalmente na longa distância para os mercados europeus e americano de produtos relativamente baratos. A proximidade dos mercados começa já a favorecer alguns sectores industriais portugueses.
Acréscimo a 20 de Novembro de 2008
Com o "crude" na casa dos 40 dólares, o meu vaticínio cumpriu-se totalmente.
Desde Junho deste ano que muitos "doutos economistas e jornalistas" previam o barril de petróleo a 200 dólares pelo fim do ano. Cá estamo, próximos de Dezembro, com o petróleo a 40 e tal dólares.
Não foi difícil fazer a previsão. É que nada sobe sempre e nada desce sempre. Há sempre um ponto de inflexão e o do petróleo começou quando um tal mister Rainwater resolveu abandonar a especulação no petróleo e nas acções das empresas petrolíferas. Só os parvos é que continuaram a apostar no crescimento dos preços.
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