Na Igreja Católica não se chega a Santo sem mais nem menos. Há que passar por alguns postos secundários, tais como: Servidor de Deus, Venerável, Beato e, por fim, Santo.
Vem isto a propósito de o Papa Bento XVI ter resolvido iniciar o processo de santificação de Julius Nyererer, elevando-o à categoria de "Servidor de Deus".
O homem foi o ditador da Tanzânia de 1962 a 1985 e líder do partido único Chamma cha Mapinduzi, Claro, entenda-se "Servidor" do Deus Católico, pois Nyerer foi sempre católico e fez muito para expandir a fé católica no seu país, a Tanzânia, ex-Tanganica, que faz fronteira com o Norte de Moçambique. A notícia foi dada pela Rádio France Inter reproduzida pela Rádio Europa.
Em 1964, Nyerer conseguiu absorver a Ilha de Zanzibar, um sultanato islâmico, à força e com grande crueldade, ajudado pelos seus milicianos que invadiram a ilha.
O Papa Bento ofende gravemente as pessoas da minha geração. É que nós, quando jovens avidamente interessados no Mundo que nos rodeava, não deixámos de ver os célebres filmes-documentários italianos “O Mundo Cão” – Il Mondo Canni I e II.
E lembro bem do primeiro deles. Os operadores de câmara voaram por cima de Zanzibar de helicóptero e filmaram em pormenor um dos grandes massacres da história africana, o dos muçulmanos de Zanzibar perpetrado pelas milícias fomentadas pelo ditador Julius Nyerer e comandadas pelo cálebre assassino John Okello.
Os muçulmanos homens vestiam djellabas brancas muito visíveis de cima enquanto que as mulheres trajam roupa semelhante mas negra e azul. De cima viam-se os milhares de corpos brancos deitados no chão e as imensas valas comuns cobertas pelo branco das djellabas e outras que aparentavam serem buracos negros, mas eram os corpos de mulheres e crianças. Também se viam os atiradores a disparar e os corpos de branco a tombarem. Muito próximo viam-se as djellabas tingidas de vermelho do sangue dos crentes dos seguidores do Profeto, que Alá os tenha consigo.
Apurou-se depois que foram assassinados naquilo que Okello e Nyerer chamaram mesmo de “Cruzada Cristã” 13.635 muçulmanos de ambos os sexos e foram detidos 21.462 outros que foram trabalhar como escravos na Tanzânia às ordens do ditador, tendo muitos deles sido mortos depois. O ditador instaurou na República do Zanzibar unida à Tanzânia uma espécie de tribunal de inquisição que perseguiu durante décadas as populações muçulmanas.
Ao desembarcar em Zanzibar no dia 11 de Janeiro de 1964, o “general” Okello ordenou ao Sultão muçulmano da ilha, Abdulalah bin Haroub, para matar as mulheres e crianças e suicidar-se, coisa que o homem não fez, tendo conseguido escapar-se para a Somália.
Devemos chamar a atenção dos responsáveis da Igreja Católica em Portugal que esta actuação do Papa pode causar graves prejuízos ao catolicismo europeu e africano.
Na Itália, muita gente está a enviar ao Papa cópias do célebre filme para avivar a memória do homem que parece querer ser uma reincarnação do Papa Pio V que organizou a Liga Santa contra os muçulmanos turcos. Nessa época, a da batalha de Lepanto, os turcos eram um perigo para a Europa pois tinham conquistado Chipre aos venezianos e preparavam-se para invadir com uma grande armada o Sul da Europa enquanto mais a norte, tentavam sitiar Viena de Áustria. Mas, hoje, não há uma potência muçulmana capaz de pôr em perigo a Europa e o Papa com as suas provocações está a criar situações de conflito absolutamente desnecessárias, tanto mais que o Mundo Muçulmano está cada vez mais dividido e os mais enfurecidos fundamentalistas são uma minoria que combate quase todos os poderes instalados nas mais diversas nações islâmicas.
Foto de cima: Rua de Zanzibar. Já ninguém veste uma djellaba. Vestimenta proibida pelo ditador Nyerer.
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