Jornal Socialista, Democrático e Independente dirigido por Dieter Dellinger, Diogo Sotto Maior e outros colaboradores.
Quinta-feira, 21 de Janeiro de 2010
Denegrir o Progresso do Ensino em Portugal
Para denegrir o imenso progresso escolar realizado nos país de todos os portugueses em um pouco mais de 30 anos, alguns pseudo-intelectuais vieram dizer que no ensino: “Portugal está no mesmo ponto de partida de há 50 anos”.
A frequência completa do ensino secundário passou de 1,3% há meio século para mais de 60% hoje e o mesmo aconteceu com o primário, nomeadamente o segundo ciclo em que a subida ainda é maior pois mais de 99% dos jovens completam o nono ano da escolaridade.
Para quem andou no liceu Camões há mais de 50 anos, recorda que então só havia dois outros liceus de estado para rapazes a norte do Saldanha, o liceu de Santarém e o de Leiria. Eu lembro-me de ter colegas que se levantavam às 5.30 da madrugada para estarem às 8.15 no liceu pois vinham de Torres Vedras e outras localidades ainda mais distantes nos tempos em que as estradas eram miseráveis.
Quando fiz o exame da quarta classe na escola primária de São Sebastião da Pedreira só fui encontrar no liceu dois colegas do conjunto de turmas que tinham feito aquele exame ao mesmo tempo que eu.
Enfim, há 50 anos não havia propriamente ensino para os portugueses em geral, apenas algumas escolas e liceus para uma percentagem ridícula da ordem de 1,3% do número de jovens em idade escolar.
Ninguém pode dizer que Portugal está muito atrasado no ensino só porque alguns, muito poucos países, têm percentagens superiores e o país caminha para a generalização do ensino secundário (12º ano) daqui a dois ou três anos. Claro, com o ensino profissional que muita falta faz e que pode permitir a um aluno não muito interessado em seguir uma carreira académica aprender a ser um bom cozinheiro, um bom pedreiro, mecânico, administrativo, informático, treinador de futebol, etc., etc.
O que se pode dizer é que o nível de conhecimentos dos alunos com o nono ano da escolaridade é hoje inferior aos que então tinham completado o chamado quinto ano dos liceus e que não chegavam a 1,5% da população jovem.
O ensino fascista era selectivo; chumbava-se na quarta classe, no segundo ano dos liceus, no quinto e no sétimo para não falar noutros anos. Daí que se tivesse havido então um estudo PISA sobre o nível dos alunos com o nono ano, esse revelaria valores muito superiores aos actuais como acontece com os países mais atrasados no ensino generalizado, nomeadamente Brasil, México, Peru, Mali, etc. que estão à frente da Alemanha, Luxemburgo, França, EUA, etc. Nos países em que o ensino é para todos e não para 1,5% dos jovens, é natural que o nível de conhecimento obtidos em nove anos seja mais baixo. Mas, o importante não é ter uma elite de 1 a 2% e o resto analfabeto ou apenas com a quarta classe. É sempre possível haver uma selecção natural dos melhores a partir da totalidade de uma população do que a partir de uma percentagem diminuta de filhos das classes médias e altas. De resto, Portugal está muito bem no ensino universitário em termos de percentagens de jovens a frequentar e aí temos cursos bons e menos bons e alunos que completam e outros que desistem. O país não necessita de ter 100% de licenciados, a não ser que as licenciaturas de Bolonha sejam também de profissões mais simples, as quais tendem a complicar-se e a exigir mais saber quanto melhor se queira ser nessas profissões.
O professor Santana Castilho diz, estupidamente, que a qualidade não acompanhou a massificação como se fosse possível vestir as populações do Mundo com seda natural, algodão puro e lã natural. Não fossem as fibras sintéticas e as pessoas pobres andavam descalças e rotas como recordo bem de há 50 anos atrás. E se há algodão em certa quantidade é porque 40% dos pesticidas fabricados no Mundo são consumidos na protecção dos respectivos cultivos, ou julgam os ecologistas que as suas camisas caem do céu. Isto para mostrar qualquer massificação do fornecimento de serviços ou produtos implica uma profunda alteração na forma como são servidos a toda a população. O ideal socialista é o da oportunidade para todos, escola para todos e não se é suficientemente estúpido que a escola tenha de fabricar 100% de génios.
O ensino pré-escolar para todos será um importante passo em frente para a melhoria da qualidade do ensino, pois oiço muitos professores queixarem-se que as criancinhas chegam à escola sem nada saberem. Na verdade, entram analfabetas no primeiro ano da escolaridade e, coitadas, saem das barricas maternas sem saber falar. Foi um professora universitária, Fátima qualquer coisa, que se queixou na televisão que os alunos chegam às escolas e universidades sem saberem o suficiente, como se a escola e os professores servissem para outra coisa que não ensinar aquilo que os alunos obviamente não sabem. Se soubessem não necessitávamos de professores.
Também foi preciso denegrir o facto de Portugal ter 1 professor para menos de 10 alunos. Claro, há professores a exercer outras tarefas como o Nogueira que não dá aulas há vinte anos e continua a ganhar o salário pagos pelos contribuintes., mas representam um pequena percentagem dos 140 mil professores, pelo que os que dão aulas e os conselhos directivos tinham a obrigação de distribuir melhor o seu trabalho e obter melhores resultados.
De Rui Carlos Sá a 9 de Março de 2010 às 06:50
Ninguém de boa fé pode afirmar que o ensino em Portugal está onde estava à 50 anos. Mas também não há razão para o enaltecer da maneira irracional e exuberante como este post faz.
Os seus números no que toca à educação em Portugal estão errados. E já agora 'frequência' de um nível de ensino é uma coisa, conclusão é outra. E outra coisa ainda são os conhecimentos adquiridos.
Sugiro que passe algum tempo neste site:
http ://www.pordata.pt
Não encontrará números pré-cozinhados, mas com algum trabalho, pode calcular algo que aproxime a realidade, e não reflicta só o seu Portugal cor de rosa.
O número de alunos que conclui o secundário está abaixo dos 45% - 43% em 2003, dados OCDE, se bem me lembro. Os 99% para o 9o ano também são uma fantasia que nunca li em lado nenhum a não ser no seu blog, nem sequer em números do governo.
E o que me diz da falta de qualidade? Portugal investe muito no ensino, tem poucos alunos por professor, e isso devia reflectir-se em bons resultados em comparações internacionais. E não é o caso, bem pelo contrário. Os resultados dos alunos portugueses nos testes PISA (os únicos que o ministério da educação autoriza hoje em dia, tal é o medo de ser apontado como medíocre) são uma vergonha. Matemática, ciência, leitura. A quantidade de analfabetos funcionais é assustadora, sobretudo à luz de todo o dinheiro que é gasto no sistema de ensino.
Melhor do que há 50 anos. Seguramente.
Cor de rosa ? Longe de lá!
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