A edição online da revista alemã “Der Spiegel” faz uma descrição devastadora da economia portuguesa, comparando-a à Grécia e revela que estes dois países já terão feito cair o Euro para 1,40 dólares.
Só que a situação alemã está longe de ser melhor que a portuguesa com uma queda brutal de 5,3% do PIB em 2009 em resultado de decréscimos nas exportações da ordem dos 30% no sectores mais importantes como o das máquinas-ferramentos e equipamentos industriais. O défice das contas públicas alemãs atingiu o valor recorde de 77,2 mil milhões de euros e está prevista que o mesmo seja de 86 mil milhões em 2010, o que é quase dez vezes o défice português. Por isso, a influência negativa do défice alemão no valor do Euro é muito superior à que resulta do défice português.
Não foi pois, por causa dos défices português e grego que o Euro desceu para 1.40 dólares: foi sim o défice alemão a juntar aos gigantescos défices da França, Itália, Espanha, Irlanda, etc.
No último dia do ano passado, a Alemanha apresentava oficialmente 3,3 milhões de desempregados em resultado de um aumento de 7,8% relativamente ao ano anterior. Mas, trata-se aqui de um número aldrabado, pois quase todas as indústrias adoptaram o modelo de horário reduzido em que o trabalhador trabalha metade do seu horário normal, recebe 40% do fundo de desemprego e perde 10%. O número de trabalhadores nestas circunstâncias não pára de crescer e deverá estar em vias de corresponder quase ao número de desempregados a “tempo inteiro”, apesar de não terem sido dadas a conhecer estatísticas muito fiáveis. Em Setembro de 2009, já trabalhavam em horário reduzido cerca de 1,1 milhões de trabalhadores, isto de acordo com estatísticas oficiais publicadas pelo “Der Spiegel”.is.
Mas, as principais indústrias estão com os seus trabalhadores em horário reduzido. O presidente da VW, Martin Winterkorn, já declarou que a situação é dramática e que neste ano o número de trabalhadores com horário reduzido deverá subir para o dobro na sua empresa. O próprio director da Agência Federal para o Emprego, Frank-Jürgen Weise, já previu uma a destruição radical de milhões de postos de trabalho e a passagem ao horário reduzido de quase todos os trabalhadores alemães, acrescentando que isso se deve à enorme dependência alemã das exportações e que estas estão a entrar em colapso total de dia para dia. Há indústrias que registaram quedas de 70% no registo de encomendas. Até a Airbus de Hamburgo está a começar a colocar os operários e engenheiros em horário reduzido, pois não os pode despedir dado serem especialistas que não existem no mercado.
Acrescente-se aqui que alguns técnicos da Airbus recentemente despedidos têm ido para a Embraer no Brasil, o terceiro maior construtor de aviões do Mundo e que paga salários inferiores a 10% do que paga a Airbus e a Boeing, excepto a alguns especialistas imprescindíveis, e parece ter conseguido acabar com o boicote a que estava sujeita pelos três fabricantes de motores de avião do Mundo que não forneciam motores a partir de uma certa potência por imposição da Airbus e da Boeing que querem para si o mercado mundial dos aviões com mais de 100 lugares.
Para evitar um aumento do défice das contas públicas, o governo alemão de direita está a aumentar as contribuições para a segurança social dos trabalhadores, os quais já só se podem reformar os 67 anos de idade e vai aumentar o IVA, devendo a Sra. Merkel ceder ao seu parceiro liberal uma descida das taxas mais elevadas dos impostos de rendimento pessoal dos mais ricos, caso contrário, será pouco provável que a actual coligação consiga completar o ano de 2010.
A Alemanha foi em 2008 o maior exportador mundial, mas 70% das suas exportações foram para a União Europeia e todo o continente asiático com China, Índia, Indonésia, etc. importou da Alemanha apenas 9% e continuam os alemães a apostar no mercado chinês que não lhes compra mais de 4,5% das suas exportações.
Muitos dos problemas dos países do sul da Europa com o Euro devem-se à embirração alemã em manter as fronteiras abertas aos mercados dos países esclavagistas como a China e a Índia que pagam salários da ordem dos 50 cêntimos horários. Saliente-se aqui que o actual nível de salários à hora desceu na Alemanha, segundo o “Der Spiegel”, para 3,25 Euros, ou seja, metade daquilo que se paga em Portugal. Isto pelo facto de os polacos virem trabalhar na Alemanha por qualquer preço.
Enfim, o peso da crise alemã é tremendo e não augura nada de bom para o conjunto dos países do Euro, pois os outros podem desvalorizar as suas moedas e continuarem a exportar qualquer coisa e protegerem-se internamente da concorrência estrangeira, mas, claro, só até a um certo ponto, porque a energia torna-se demasiado cara e, bem assim, os produtos importados de que carecem para as suas próprias indústrias.
Saliente-se aqui que os Mercedes da classe C vão passar a ser fabricados na China ou já o são, tendo daí resultado o despedimento de alguns milhares de trabalhadores alemães especializados e até agora estes carros não estão mais baratos.
Estamos a atravessar uma época de desglobalização da produção. Esta vai para os países de mão-de-obra paga a preço de escravatura a troco de desemprego em massa para castigar os trabalhadores europeus que querem mais salários.
Na Alemanha, primeiro fecharam as fábricas de brinquedos, depois as confecções, o calçado, a cutelaria, as ferramentas simples, as máquinas fotográficas, os rádios, os televisores, os electrodomésticos, os fogões, os esquentadores, a indústria química pesada, as minas de carvão, as máquinas fotográficas, os automóveis pequenos e chegou agora a vez dos Mercedes C e já se fabricam BMWs na África do Sul, na China e na Rússia, VWs nos mais diversos países, etc. e ninguém protestou. Tal como naquela peça de Brecht acerca das pessoas levadas para prisões, agora é a das que vão para o desemprego sem que haja sindicatos ou governos que os protejam. Por último chegará a vez dos funcionários públicos para reduzir as despesas do Estado com o desemprego.
Para quando direitos aduaneiros de 150% na União Europeia para financiar o desemprego?
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