Mais uma vez as agências de rating falharam redondamente, tanto no aspecto de honestidade política e económica como na solidez das economias e no desenvolvimento cultural e técnico das suas populações.
O país menos corrupto do Mundo, a Islândia, com os menores défices públicos e com um notável PIB per capita foi o primeiro país a falir totalmente. Os seus bancos ficaram com o dinheiro dos depositantes e uma parte importante da população perdeu as suas economias e muita gente perdeu um a dois salários que deveria ter recebido através dos bancos. Os muitos depositantes nessa “Dona Branca” que era a Islândia a pagar juros muito altos perderam todo o seu dinheiro. As empresas deixaram de ser pagas por muitos dos seus fornecimentos e só a pequenez do país com tantos habitantes como a Madeira permite estar a passar a crise mais mal que bem, mas os estrangeiros nunca mais verão os seus dinheiros e mais de metade dos seus bancos fechou para sempre.
Os políticos mais honestos do Mundo fizeram do seu país um verdadeiro fundo Madox.
A seguir à Islândia estava a Irlanda entre os países honestos com as finanças equilibradas e um baixo IRC de apenas 12,5% e um PIB per capita de quase o dobro do português com uma notável elite universitária e uma população bem preparada profissionalmente e bem paga. Qualquer salário de um trabalhador irlandês era bem superior ao dobro do praticado em Portugal, mesmo o triplo. Os seus políticos passavam por ser honestos, apesar de ter havido alguns problemas com um PM que recebia no seu gabinete uns pacotes cheios de notas. Mas, aparentemente foi um caso único e o homem saiu do poder.
A Irlanda faliu literalmente, apesar de tantas vantagens e de ser um país pequeno com apenas 4 milhões de habitantes, 100 km de autoestradas, nenhum TGV ou pontes descomunais e um Estado frugal que pagava pouco aos políticos e tinha mesmo saldos positivos nas contas públicas.
Eis que, com todas as qualidades que se exigiam de Portugal, a Irlanda entra numa dramática falência e tem de receber agora mais 100 mil milhões de euros para reduzir os 53,9 mil milhões de dívida soberana e capitalizar a banca em 31,6 mil milhões de euros no sentido de evitar que os depositantes fiquem sem o seu dinheiro e depositantes são todos os irlandeses adultos. Num prazo de dois anos a Irlanda necessita de 110 mil milhões de euros que vai pagar em vinte a vinte e cinco anos, pois a economia irlandesa não permite pagar em 10 anos.
A razão principal destas duas falências pode residir no facto de as pessoas honestas não serem capazes de se defenderem de falcatruas e julgarem todos honestos e, além disso, acreditaram excessivamente nas suas potencialidades.
A banca irlandesa começou por perder com os fundos americanos nos quais tinha colocado bastante dinheiro, mas o problema aí não era tão grave como isso. Os bancos irlandeses tinham promovido uma bolha de construção civil devido à imensa falta de casas que sofriam as famílias e a crise mundial associada à concorrência chinesa, romena, polaca e de outros países que lhe levou muitas fábricas provocou um aumento do desemprego e uma gigantesca onda de crédito malparado.
A Irlanda, ao contrário de Portugal, tinha proporcionado excelentes condições ao capital estrangeiro que iam desde um IRC muito baixo, ajudas substanciais e a língua inglesa que muita ajudava na informática.
Enfim, faliram totalmente dois países bem governados e com tudo o que é apontado como óptimo, tanto do ponto de vista de esquerda, salários relativamente bons, mas mais baixos que os da média europeia, como de direita, impostos baixos sobre os lucros, pessoal bem preparado, excelentes ajudas estatais e proximidade dos grandes mercados europeus, nomeadamente do Reino Unido, França, Bélgica, Holanda e Alemanha.
A Grécia faliu já por outras razões, apesar de ser uma economia que cresceu mais que a portuguesa nas últimas décadas e possui uma gigantesca indústria do turismo e boas condições como porta de passagem da Europa para o Oriente. Além disso, os gregos são proprietários da maior marinha mercante do mundo, se bem que os seus navios naveguem com as mais diversas bandeiras de conveniência. O ordenado mínimo na Grécia era e ainda deve ser o dobro do português.
Os gregos deixaram engordar o Estado sem uma política fiscal rigorosa, pois pouca gente pagava os impostos devidos e daí o crescimento desmesurado da sua dívida soberana, cujos juros atingiram valores insuportáveis para qualquer Estado, até ser ajudada por todos os países da zona euro, incluindo Portugal.
Tudo aquilo que Portugal deveria ter feito segundo os detractores de esquerda e direita não faltava nos três países falidos e, mesmo assim, faliram redondamente.
A falência da banca islandesa e irlandesa começa a produzir alguns efeitos de contágio em Portugal e Espanha. Já ouvi pessoas a dizerem que estão a levantar dinheiro dos bancos e guardá-lo em casa, pois temem que o pagamento de juros muito altos aos chamados “mercados ladrões” possa conduzir a um aumento exagerado das despesas públicas com suspensões de pagamentos de reformas, salários, fornecedores, etc. e a uma corrida à banca para a obtenção da pouca liquidez dos portugueses em moeda e isso conduziria a uma dupla falência, a do Estado e a da banca.
Se a banca está aparentemente saudável e lucrativa, pode passar para o oposto se pouco mais de 10% dos depositantes resolverem levantar o seu dinheiro.
A banca é diferente de qualquer empresa, pois tem o dinheiro dos portugueses, tanto o particular como o empresarial e do Estado, incluindo os montantes destinados às prestações sociais que somam 21% do PIB ou 35,7 mil milhões de euros, pelo que uma falência bancária arrasta toda a economia monetário para o colapso.
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