CADERNOS DE E CONOMIA | SUMÁRIO
32 A globalização não promete
nada aos europeus
Dieter Dellinger
Donald Trump prometeu proteger a indústria e os trabalhadores americanos impondo elevados direitos aduaneiros aos produtos chineses e proibindo a emigração de mão-de-obra barata para os EUA.
A realidade mostrou que nada do que queria era viável. A Coreia do Norte, manipulada ou não pela China, começou a lançar com mais intensidade mísseis para o Pacífico e faz explodir num furo a grande profundidade uma bomba H extremamente poderosa. Os EUA passaram a necessitar da China para que as sanções à Coreia do Norte se tornem efetivas, dado que é do país vizinho a norte que Kim Jong-un recebe as mercadorias de que necessita, entre as quais até podem estar motores dos mísseis e material para o fabrico de armas nucleares. Nada se sabe ao certo, mas poucos acreditam que os chineses queiram ter na sua fronteira uma pequena nação completamente independente e poderosamente armada que já foi uma província sua e sem controlo chinês. Há mesmo um pipeline que da China atravessa o rio Yalu e fornece todo o pouco petróleo que os coreanos do Norte necessitam.
Ninguém acredita numa guerra, mas todos admitem que as bombas nucleares e respetivos mísseis de lançamento possam tornar-se um material globalizado graças às exportações da Coreia do Norte que, assim, podem rivalizar em termos financeiros com o material L&G ou os carros Kia e Hyunday, etc.
A globalização está em retrocesso e é cada vez mais limitada à liberdade de quase todo o Mundo exportar o que queira para os países da UE, exceto os automóveis e certos produtos agrícolas porque é do interesse dos alemães e franceses protegerem as suas principais atividades económicas. Há contingentes para os automóveis e certificações de segurança e emissões de C02 em que as viaturas oriundas de fora da Europa chumbam quase sistematicamente.
Claro que países como a China e Coreia do Sul, por exemplo, também exigem certificações e colocam certos bens em posições pautais para não serem importados. Aconteceu isso com os compassos alemães que de material de desenho passaram a ser considerado pela Alfândega Sul-Coreana como brinquedo e o material tem algum chumbo, pelo que não pode ser importado como se as crianças utilizassem compassos de desenho para chupar.
Mas, se aplicarmos a classificação ABC/XYZ da gestão empresarial à globalização e às nações, estando em A os bens ou serviços mais importantes, em B os intermédios e C os menos importantes e em X os de maior frequência, em Y os de frequência intermédia como seria algo de sazonal e em Z tudo que tem pouca saída em linguagem comercial, verificaríamos que o bem mais importante e globalizado e de algum modo menos conhecido em todos os seus pormenores é o capital financeiro que se esconde muito nos milhares de offshores espalhados pelo Mundo e terá sofrido igualmente uma queda. Só os bancos da União Europeu reduziram os seus ativos externos em quase 50% e o mesmo fizeram os chineses e americanos relativamente a investimentos financeiros nos países desenvolvidos e nos emergentes e pobres.
O investimento é cada vez mais feito por grandes empresas que possuem os seus bancos ou organizações financeiras para os concretizarem e fomentarem a compra dos seus produtos, incluindo os automóveis em leasing ou prestações. A queda pretendida do IRS pela direita permitirá a todos os que recebem ordenados de magistrados, por exemplo, comprarem um Mercedes a cerca de 450 a 550 euros mensais.
Assim, grande parte das exportações alemãs e dos países mais desenvolvidos como o Japão, a França, etc. são bens destinados às suas fábricas espalhadas pelo mundo. O exemplo da Autoeuropa testemunha isso porque cerca de 40% ou menos do T-Roc é feito em Palmela. Mas acontece quase o mesmo na Alemanha em que a indústria automóvel está ligada ao exterior em cerca de 80% do valor das viaturas, tanto na importação de componentes como na exportação dos mesmos e dos próprios automóveis. Saliente-se que a Alemanha domina 80% do mercado mundial de viaturas ditas “Premium” ou de gama alta, fabricando no exterior as viaturas médias e mais pequenas porque o seu custo de trabalho é demasiado elevado para carros baratos.
O capital colocou a mundialização na mão dos “Global Players”, não só no conhecido campo da informático que criou riquezas inimagináveis como no fabrico de automóveis e em quase todas as atividades, incluindo as bancária, e “Global Players” não serão apenas as multinacionais, mas também as empresas que em certas regiões começaram a internacionalizar-se e pretendem atingir uma posição quase dominante a nível regional ou mundial.
Para Portugal como para outros países pequenos da Europa como a Dinamarca, Holanda, etc. é fundamental que as suas empresas se expandam para fora e nesse aspeto Portugal perdeu tudo nos últimos anos para citar apenas a CIMPOR, a PT, a EDP, CTT e outras que se tornaram em subsidiárias de outros “Global Players”, passando a fazer parte dos A de interesses de fora. É impressionante para cada português saber que o contador de eletricidade e o do gás das suas casas pertencem a um grupo constituído pela empresa estatal chinesa “Three Gorges” e pelo gigante americano “Blackrock”. Até a estrada da morte EN 236-1 está concessionada a interesses franceses que descuraram a obediência à lei que obriga a manter bermas de 10 metros de largura livres de matéria vegetal suscetível de arder.
Uma parte importante do porto de Lisboa pertence a interesses turcos e o porto de Sines é controlado por Singapura. E não foram apenas monopólios naturais, mas também a banca deixou de ser nacional com exceção do que ainda é do Estado como a CGD e pouco mais. A tróica tornou Portugal numa espécie de colónia de todos e se não fosse o turismo, o país estaria perdido. Curiosamente há quem esteja contra o alojamento local que permite um turismo mais acessível porque graças aos voos “low cost”.
O turismo abarca todas as classes sociais e permite receber milhões de visitantes e, como é sabido, só há verdadeira atividade económica quando a clientela é aos milhões. Trabalhar para 0,01 a 0,1% dos mais ricos não é rentável, a frequência é muito baixa, mesmo que o produto a nível de preço esteja classificado como A, mas o que interessa é a multiplicação do A pelo X, Z ou Y e o resultado é que define verdadeiramente o valor económico de qualquer atividade.
A CIMPOR estava a tornar-se numa verdadeira multinacional com fábricas em Espanha, Brasil, Egito e noutros países que compensavam a queda do mercado nacional de cimento. Foi vendida por um preço irrisório a Pátria perdeu um dos seus grandes ativos. A PT perdeu aquilo que seria a sua expansão para o Brasil e a EDP é capaz de perder os parques eólicos que possui nos EUA. A Galp que já não é inteiramente nacional, ainda tem alguns acionistas de relevo portugueses, pelo que mantem algumas participações e em explorações no exterior.
Enfim, para onde caminha Portugal?
Para já, encontra-se num plano de extrema secundarização por faltas diversas, incluindo capitais, mas nada nos diz que seja uma situação permanente. As nações costumam saber levantar-se de situações catastróficas e Portugal dá alguns sinais e tem neste momento uma saudável governação financeira. A situação não é muito prometedora, mas está longe de ser crítica.
A Alemanha de Schaeuble deixou um pequeno interregno com Draghi a comprar dívida externa de vários países e coloca-la nos bancos centrais dos emitentes. Não sabemos o que vai acontecer no futuro. Draghi prometeu continuar o seu “alívio quantitativo” até ao fim do ano e em menor escala, mas pretende manter a taxa diretora de 0% até 2020, mas só na próxima reunião é que serão decididos os modos como o AQ continuará e o que pode suceder a partir do início de 2018. De qualquer modo, mesmo que Portugal não saia muito beneficiado, a realidade é continuará a haver uma descompressão financeira.
Draghi conseguiu alguma coisa porque Schaeuble deixou de influenciar diretamente o presidente do BCE e no conselho de governadores dos bancos centrais, a Alemanha não lidera uma maioria e não consegue impor as ideias de Schaeuble que estão a atravessar uma grave crise.
A União Europeia está suspensa numa paralisação total por causa das eleições alemãs. O governo alemão é incapaz de encontrar uma saída para o problema humano que criou e não tem algum projeto. Está em curso um verdadeiro levantamento popular em Berlim contra o exagerado liberalismo alemão que permitiu a entrada de mais de um milhão de pessoas oriundas dos mais diversos países e o fluxo continua sem parar. Por sua vez, os países do Sul pedem uma proteção aduaneira para reduzirem a sua taxa de desemprego e contrariar a valorização excessiva do Euro que torna as exportações europeias para o exterior demasiado caras. Por outro lado, a austeridade imposta pela Alemanha não favorece os mercados de uma União Europeia ainda com cerca de 500 milhões de habitantes e um Pib médio bastante razoável, pelo que é um mercado interno semelhante ao americano e muito superior ao da China e, talvez, a quase todo o resto do Mundo.
Por isso, a União Europeia tem de mudar e adaptar-se a um Mundo novo que globalmente permite ser um pouco mais justo, mas a nível dos países europeus pode assistir-se a um colapso das economias nacionais.
Todos os analistas apontam para um crescimento económico da Europa e do Mundo em 2018, mas será percentualmente minúsculo e não deverá alterar uma situação que, no fundo, é de crise relativa, significando que não haverá ainda o regresso aos máximos de antes da crise, mas tudo estará um pouco melhor, menos a invasão da Europa por populações carenciadas que de tudo necessitam e nada encontram nos seus países. Começou a globalização humana que acompanha também a globalização cultural e do próprio pensamento moderno, cada vez mais relativista e menos crente com exceção de algumas populações muçulmanas que estão a pagar um preço demasiado alto pela tentativa de um regresso político à Idade Média ou um pouco mais avançada.
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