Um dos fenómenos económicos mais curiosos da economia atual é o excesso de liquidez financeira associado à austeridade e causador da deflação ou desinflação e que está a provocar uma queda generalizada dos juros de dívida pública e uma maior procura da mesma. As empresas não vendem e, como tal, não precisam de créditos, pelo que os mercados financeiros procuram desesperadamente alguns juros qualquer que seja o risco de aplicação. A falta de moeda resultante da não emissão por parte do BCE está a provocar liquidez via austeridade. A pouca moeda disponível não é gasta nem investida, a sua velocidade de circulação diminuiu e, como tal, permanece mais tempo nos bancos.
Em Portugal, os preços descem porque as pessoas viram os seus rendimentos sofrerem quebras e esperam que isso aconteça ainda mais, pelo que compram menos. Só aumentam os impostos e os preços dos monopólios como a eletricidade, gás e água e, mesmo assim, a tendência é para poupar. Segundo o Expresso Economia de hoje, um vasto conjunto de bens transacionáveis sofreram uma quebra acentuada, verificando-se a maior queda de preços nas viagens de avião. Outros bens indispensáveis mas ligados a impostos e taxas aumentam de preço, mesmo com a procura baixar.
Os transportes públicos podem ter metade dos passageiros, mas o preço sobe na mesma.
Estamos pois a caminho de uma economia “low cost” generalizada e “high cost” de luxo para um setor ínfimo da população. No fundo corresponde à “lei da redução tendencial das margens de lucro” enunciado por Karl Marx na sua famosa obra “O Capital”. Como há quase 150 anos atrás, hoje também a pobreza não é mercado. A zona euro continua a ser dirigida pela Alemanha que não permite uma solução para o endividamento que não seja o chicote fiscal e a inerente austeridade, negando que se caminhe para uma deflação duradoura. Os economistas alemães e bens que outros não percebem que os mercados europeus estão relativamente saturados não só de bens pouco necessários como material fotográfico, informático, eletrodomésticos, mobiliário, etc., como também de infraestruturas e só esta realidade é desinflacionária ou até deflacionário. Se juntarmos a queda de rendimentos é o desastre. Dois terços da zona euro sustentam com os juros altos os chamados mercados financeiros que depois não vão ter quem queira os seus stocks de moeda.
O Expresso diz que o BCE não vai tomar medidas agora, só lá mais para o verão quando tiver mais dados. Em deflação também cai a receita do Estado e o valor real da dívida aumenta. A troica sai contente, mesmo com um endividamento em mais 33% do que há três anos e sem crescimento económico. Portugal com os referidos dois terços da zona euro está num poço sem fundo e qualquer dia terão de aplicar o Artigo 144 do Tratado de Lisboa que permite tomar medidas excecionais para proteger a economia de países em dificuldades como uma taxa sobre todos os pagamentos ao exterior, por exemplo. A melhor forma de punir o capitalismo é não comprar, principalmente não se deixar levar pela publicidade e os bens que mais permitem a "vingança" são os automóveis, motos, telemóveis, computadores, material fotográfico, aparelhagem doméstica importada, bens alimentares, roupas e calçado vindos de fora e os produtos nacionais devem ser adquiridos na medida em que sejam estritamente necessários, tal como os combustíveis. Poupar a sua viatura é importante para castigar a Galp e outras gasolineiras, além de aumentar a sua duração. Reduzindo as compras, tonamos tudo mais barato e o grande capital com os seus governos na Europa acabarão por perceber que também a austeridade também lhes vai aos bolsos.
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