Jornal Socialista, Democrático e Independente dirigido por Dieter Dellinger, Diogo Sotto Maior e outros colaboradores.

Domingo, 4 de Agosto de 2019
A Capital do Capitalismo

Ponte Macau-Hong Kong

 

De acordo com a teoria de Karl Marx o capitalismo tende a engolir as empresas e atividades das classes médias e a proletarizar quase toda a população mundial.

Mas, se procurarmos onde está a verdadeira capital do capitalismo mundial, podemos andar à procura no mapa sem encontrar porque não está bem marcada. Nova Iorque ainda tem importância nos negócios da bolsa, mas não é a capital do capitalismo e Londres, Paris, Berlim, Roma ou qualquer outra capital europeia são sombras do passado e cada vez mais cidades museus para passear, observar obras de arte e descansar em esplanadas nos dias solarengos.

A capital do capitalismo mundial está em formação muito adiantada e situa-se em torno da baía do Rio das Pérolas na China com 11 gigantescas cidades fundidas quase numa única que ultrapassou já os 70 milhões de habitantes e caminha para 100 milhões dentro de, talvez, uns 10 anos.

Aí está Hong Kong e Macau e entre uma e outra cidade foi construída a maior ponte do Mundo com 55 quilómetros de comprimento para durar apenas 120 anos, o que parece inacreditável, dado o seu custo enorme e envolvimento de materiais, mas, enfim, eles, os chineses, lá sabem.

Shenzen é a cidade mais importante em termos de modernidade com 13 milhões de habitantes e sede de gigantes do capitalismo com a empresa da internet Tencent, a Huawei, o gigante das baterias BYD e umas 10 mil startups, das quais muitas são já grandes empresas que ocupam edifícios inteiros. Os seus 22 mil táxis foram convertidos para viatura elétricas que não poluem nem fazem ruído.

A antiga Cantão é Guangzhou com 15 milhões de habitantes que fabrica cerca de metade dos frigoríficos e aparelhos de ar condicionados do Mundo mais uma numerosa gama de eletrodomésticos exportados para toda a parte.

Ali próximo, Dongguan com 8 milhões de habitantes fabrica quase um termo das calças jeans do Mundo e possui centenas de fábricas espalhadas pelo Bangla Desh, Índia, etc.

Hong Kong com 7 milhões de habitantes é o mais importante centro financeiro do Mundo. Os seus fundos como a Fosun e outros são proprietários de uma parte da economia portuguesa e de muitos outros países, incluindo os EUA e a Alemanha.

Macau é ainda uma cidade pequena, mas umas das mais ricas do Mundo. Os seus habitantes pagam um IRS máximo de 12% e o governo local tem distribuído ao fim do ano um bónus a cada um da ordem do valor de um ordenado médio. Mais de 80% das receitas públicas vêm dos muitos casinos lá instalados que fazem a fortuna da cidade dado que o jogo em casino é proibido na China Continental fora de Macau.

A área ocupada por esta gigantesca zona urbana é da ordem dos 50 mil km2, ou seja, um pouco mais de metade de Portugal, sendo da vontade do presidente Xi Jinping que fique como a sua grande obra para a posteridade.

Contudo, as contínuas manifestações gigantescas em Hong Kong onde a juventude não protesta apenas contra a extradição para as prisões chinesas dos opositores, entretanto suspensa, mas também por um reforço da democracia podem contaminar o resto da “Great Bay Area”, apesar do imenso controle a que está sujeita com milhões de câmaras vídeos que espreitam tudo o que se passa em cada esquina, apanhando com facilidade carteiristas ou pessoas procuradas.

Por enquanto, a juventude de fora de Hong Kong está mais preocupada com o ascensor social proporcionado pelas oportunidades dadas pela educação e pelas atividades informáticas, industriais automatizadas e comerciais. Mas, por quanto tempo?

A política interessa sempre a quase toda a gente e mais quando não é livre. Xi Jinping pode estar a criar um gigantesco foco de tensão numa área que acaba por não controlar.

Não devemos esquecer que o regime comunista começou em Cantão com grandes greves e aí iniciou-se a grande marcha do partido para o norte junto à fronteira da URSS de onde vinham armas e apoios diversos. Claro que a história não se repete, mas um país com três gigantescas zonas urbanas, a referida aqui mais Xangai e Beijing cada uma em vias de ter mais de 100 milhões de habitantes até às suas áreas mais periféricas pode tornar-se de todo incontrolável se o tipo de manifestações registadas em Hong Kong se contaminar para essas zonas.

Para além destas três imensas zonas urbanas abundam na China muitas cidade com milhões de habitantes e não sei se o cansaço de uma ditadura que pretende ser centenária não poderá fazer desmoronar o gigante com pés de barros em que o poder decisório está num presidente eleito sucessivamente e uma comissão politica de poucas dezenas de elementos frente a uma nação que pode atingir os mil e quinhentos milhões de habitantes.

Em 2003 foi prometida em ampla descentralização e regionalização que tarda a ser aplicada e que não resolveria muita coisa porque seria tudo dominado pelo mesmo partido e pela sua comissão central.

Não sei se a China é verdadeiramente o futuro e se fazemos mal em deixarmos vir dali uma parte importante do que consumimos, principalmente em termos de tecnologia informática e muita coisa mais.

 

 

 


tags:

publicado por DD às 17:45
link do post | comentar | favorito

Quinta-feira, 29 de Novembro de 2018
A Europa Concubina do Imperador Chinês

A visita do presidente da China Xi Jinping tem como objetivo integrar Portugal no imenso projeto chinês denominado “rota da seda” que abrange linhas de caminhos de ferro desde a China à Europa que já existem até a Alemanha e Antuérpia, prolongando-se em linhas nacionais até Madrid na bitola alargada europeia. Só que de Madrid a Lisboa seria necessário reconstruir a atual linha para a bitola europeia ou criar mesmo uma nova linha que permitisse a chegada de grandes composições ferroviárias de carga e, eventualmente, comboios muito rápidos de passageiros. A China parece estar disposta a ser concessionária da linha do Caia a Lisboa, fazendo as obras necessárias.

A China tem um plano estratégico mundial ao contrário da Europa, amarrada de pés e mãos à austeridade germânica que não permite uma verdadeira União Europeia e reduz qualquer país europeu à condição de simples gestor das suas dívidas sem possibilidades de fazer investimentos. A Europa da austeridade alemã traduz-se em limitar o mais possível a emissão de euros, valorizando desnecessariamente a moeda e bloqueando o progresso de um conjunto de países que ainda soma pouco mais de 500 milhões de habitantes e mais 25% do PIB mundial.

A Europa parou ao ser governada na prática por uma espécie de dona de casa sem formação jurídica, económica ou estratégica, a senhora Merkel, que quer ser substituída por outra dona de casa, a atual ministra da Defesa, que reduziu o poder militar alemão a zero, deixando as portas abertas da Europa a quem quiser entrar ou levando à fascização de muitos países devido ao descontentamento provocado pela austeridade sem fim. Merkel e a sua putativa sucessora mais não querem ser que “concubinas” do Imperador Chinês, o presidente vitalício Xi Jinping, filho do principal conselheiro económico de Deng Xiau Ping.

O plano chinês abrange uma rede euro-asiática de caminhos de ferro que se pode vir a estender ao continente africano e uma rede elétrica mundial controlada pela China, além de vias de navegação substitutas e para as Américas.

A fase mais adiantada é a dos caminhos de ferro designada de Nova Rota da Seda ou no acrónimo inglês BRI (Belt and Road Initiative) que abrange já 65 países com 62% da população mundial, 31% do PIB e 40% da superfície. Só falta Portugal para completar a ligação do Pacífico Norte ao Atlântico.

A China dita comunista dá uma absoluta garantia de perenidade ao capitalismo mundial, oferecendo um inesgotável proletariado, enquanto este não se revoltar e é isso que seduz uma Alemanha e Europa das direitas. Mas, até quando?

A Rússia Imperial Czarista também construiu uma fantástica linha de caminho de ferro, o Transiberiano e, mesmo assim, foi palco da maior revolução política do Século XX com a substituição total das suas anteriores elites.

O Esquema de linhas férreas do BRI abrange a linha norte que já funciona e leva automóveis Volvo até Antuérpia que os europeus compram a julgar que são suecos. Toda a fábrica Volvo foi vendida aos chineses e era o maior ativo industrial da Suécia.

A principal linha parte de Xangai e Beijing em direção à Mongólia e à Rússia onde entra por Irkutsk na Sibéria. Aí cruza-se com uma linha mais a norte que vai da Danong (a antiga cidade chinesa conquistada pelos russos denominada Porto Artur e perdida para os japoneses na guerra de 1904/5) para passar pela antiga capital da Manchúria, Harbin, e entrar na Rússia, e chegar ao Transiberiano para se encontrar com a linha de Xangai em Irkutsk. Depois segue pela Rússia para Novosibirsk, Ecatarienburg, Kazan, Moscovo e Minsk na Bielorrússia, Varsóvia, Berlim, Hamburgo, Antuérpia com uma ramificação para Paris e daí a Madrid e outra para Dunquerque e Londres.

A linha sul sai também de Xangai e outras cidades portuárias chinesas para atravessar o Tibete e entrar no Uzbequistão onde ramifica para norte a fim de contornar o Mar Cáspio pelo Norte com outra linha para baixo, passando a sul desse mar pelo Turquemenistão, Irão, Turquia, atravessando o Bósforo e entrando na Bulgária e Grécia até à Sérvia com entrada para sul da Alemanha em Nuremberga e chegada a Berlim.

Apesar da China não descurar as rotas marítimas e ter adquirido muitos portos, as linhas terrestres que repetem um pouco os antigos caminhos das caravanas da seda, o facto é que o transporte terrestre vai tirar aos EUA qualquer poder de bloqueio marítimo. O mundo passará a ser “chinês” pela via férrea que será acompanhada por gasodutos, oleodutos para o transportar de gás e petróleo russo, iraniano, arménio, etc. para a China e por um sistema de linhas transportadoras de eletricidade a grandes distâncias na base da tecnologia de ultra-alta tensão que os chineses dizem possuir e que implica numa linha de dois mil quilómetros perdas de apenas 7%, quando as atuais na Europa e EUA perdem isso em cada duzentos a trezentos quilómetros.

Já existe em Portugal da Associação dos Amigos da Nova Rota da Seda dirigida por Fernando Ilhéu como existem em todos os 65 países envolvidos.

 

 

 

 

 

 



publicado por DD às 21:58
link do post | comentar | favorito

Sexta-feira, 20 de Outubro de 2017
Dieter Dellinger escreve: A China no 19º Congresso do Partido em 2017

 

 

 

 

Os dono de quase tudo, incluindo o contador de eletricidade que tenho em casa e os cabos elétricos que provocaram por desleixo o incêndio de Pedrógão e outros, estão reunidos em Congresso em Beijing.

 

São 2.300 delegados "eleitos" pelos 90 milhões de militantes do Partido Comunista da China, os quais vão "eleger" um Comité Central de 205 membros, dos quais sai o centro do verdadeiro poder da China, o Buro Político constituído por 25 membros, entre os quais o Presidente Xi Jinping que é também secretário-geral do Partido e presidente da Comissão de Defesa.

 

A China atravessa o seu melhor período de sempre. Tem décadas de crescimento económico e é o maior exportador do Mundo e está em vias de ser a maior economia do Mundo, mesmo que per capita ainda esteja longe dos EUA e países da UE, mas são cerca de 1.400 milhões de cabeças.

 

O País está agora está virado para obras internas e a construir milhares de km de linhas de TGV, Barragens, cidades ultra modernas, mesmo no interior, hospitais, prisões novas para todos os discordantes, etc.

 

O Governa controla toda a Internet, pois todas as empresas relacionadas com as redes informáticas têm uma espécie de tutor ou censor na Administração que zela para que nada de desagradável ao poder seja dito.

 

Por isso, o presidente e os políticos regionais falam pouco, já que não há noticiários do contra.

 

A China não está envolvida em qualquer conflito interno ou externo como acontece com os EUA e a própria União Europeia em vias de desagregação. A diplomacia chinesa não se imiscui nos outros países e apresenta-se ao Terceiro Mundo como o melhor modelo de governo. Liberdade empresarial controlada, liberdade de circulação, emigração em quantidade para haver chineses a zelarem pelas exportações do País em todo o Mundo, incluindo na loja chinesa da praceta em que habito.

 

O tesouro chinês ultrapassa os 2.500 milhões de dólares que permite aos bancos que são todos do Estado emprestarem a muito amigos do partido para se tornarem milionários ou empresários de empresas exportadoras e donos de armazéns e lojas de importação em todo o Mundo.

 

A compra de ativos por toda a parte faz parte da política chinesa como também a modernização das suas gigantescas forças armadas que depois de sofrerem uma redução de quase um milhão de homens ainda estão nos 1,7 milhões com míssies bombas nucleares, aviões modernos, porta-aviões, etc.

 

A China é paciente e não se apressa a integrar a ilha Taiwan no seu território, enquanto se intitular República da China. Os empresários capitalistas da ilha têm tido as portas abertas para investir na China e, como tal, pode dizer-se que Taiwan está integrado no aspeto económico e comercial.

 

O presidente Xi Jinping vai ser eleito para um segundo mandato de 5 anos que será oficialmente o último, já que a Constituição só quer presidentes pelo máximo de 10 anos, o que acontece igualmente para o cargo máximo no partido.

 

Contudo, Xi Jinping vai apresentar uma moção controversa que será votada a 100% para que o cargo de líder máximo do partido não esteja limitado pelo tempo e seja "eterno" até á morte do chefe. Como é o partido que nomeia toda a gente, incluindo o presidente, Xi Jinping terá o poder para sempre naquilo que muitos ocidentais chamam "A FIRMA" por causa dos imensos interesses económicos que a família de Xi tem na China e espalhados no Mundo.

 

O fundo Fosun é em grande parte da mulher de Xi, a general cantora Peng Liyuan, cujos CDs são vendidos aos milhões por toda a China e tocados em todas as rádios e oferecidos como prenda de casamento aos nubentes pelas Conservatórias de Registo Civil.

 

Tudo está perfeitamente organizado na China. Os membros do partido que criticaram o poder estão presos. A miss Canadá de origem chinesa não foi autorizada a entrar na China para participar no concurso de miss Mundo porque pronunciou em público algumas críticas ao modelo de partido único chinês e contra a prisão de um célebre artista plástico. A rapariga alia a beleza a uma elevada cultura e defesa intransigente das democracias.

 

Para que tudo esteja ainda mais perfeito, as siderurgias e outras fábricas poluentes que estão perto de Beijing fecharam, pelo que os habitantes podem contemplar o raro céu azul da China que está quase sempre enegrecido pelos fumos das fábricas que fabricam quase metade dos bens de consumo não alimentares do Mundo.



publicado por DD às 14:24
link do post | comentar | favorito

Segunda-feira, 28 de Novembro de 2011
A China é o maior fabricante de camiões do Mundo

 

·         A China espera fabricar este ano quase um milhão de grandes camiões com 37% da produção mundial em seis fábricas todas estatais ou quase com algumas parcerias tecnológicas estrangeiras.
A Europa fabrica 332.000 camiões com 15% da produção mundial em duas fábricas, a Daimler Trucks (Mercedes) e a Man-Scania (germano-sueca). Os outros fabricantes europeus são quase residuais, não devendo chegar às 5...0 mil unidades.
A China está a tornar-se também numa potência de grande capitalismo estatal com siderurgias, fábricas de automóveis, gigantescos estaleiros navais, minas, refinarias, indústrias químicas, minas, etc. do Estado. Em resumo, o capitalismo ocidental enriqueceu o Estado Comunista chinês que detém a grande indústria do país e está a comprar empresas industriais em todo o Mundo como foi com a Roover-Leyland, a Volvo e agora prepara-se para entrar em empresas estratégicas portuguesas. A banca e as seguradoras são todas estatais na China e se quisessem compravam os bancos portugueses num ápice. Portugal da direita pode tornar-se parcialmente comunista através dos capitais do Estado Chinês e já estão cá milhares de chineses com as suas lojas e as crianças a estudarem nas escolas portuguesas e chinesas que já se instalaram em Portugal.
As direitas europeias, incluindo a portuguesa, estão a abrir as portas ao comunismo chinês desde que venha com o dinheiro que, por embirração e estupidez, a Alemanha da Direita não quer deixar o BCE emitir, ou seja, não quis, porque agora o BCE está a comprar dívida espanhola e italiana com moeda fresca e muito antes de impor quaisquer condições de austeridade. O governo português não está a reagir, nem contra a invasão e estatização da economia chinesa, nem contra o facto de Portugal ser metido num colete de forças de austeridade quando a Itália e a Espanha gozam de prerrogativas especiais. Já tinha acontecido isso há mais de um mês e voltou a acontecer na semana passada. É certo que as emissões do BCE na semana passada foram de uns 8,7 mil milhões de euros, o que não é muito, mas se tiver continuidade nas próximas 56 semanas resolverá o problema italiano e espanhol, deixando Portugal e a Grécia a chuparem no dedo e confrontados com uma austeridade canibalesca.
No fundo, não estou propriamente contra o enriquecimento chinês nem contra o regime da República Popular da China; o que vejo é uma contradição entre a Europa da Direita que quer tudo privado e uma gigantesca potência em vias de chegar aos 1,4 mil milhões de habitantes com dinheiro para se apoderarem sem conquista de quase toda a Europa. Hoje, basta-lhes ir aos mercados bolsistas e comprarem o que quiserem a preços que nem chegam a ser de saldo.

 


tags:

publicado por DD às 23:15
link do post | comentar | favorito

Terça-feira, 8 de Junho de 2010
Dieter Dellinger - A Bolha Chinesa pode Rebentar

A China Comunista-Capitalista encontra-se actualmente a viver um perigoso „boom“. No primeiro trimestre a economia cresceu 11,9%, enquanto os preços do imobiliário subiram mais de 12% no mesmo período, estimulados por um autêntico “tsunami” de crédito barato. Já em 2009, o crédito bancário ultrapassou os 1,1 biliões de euros a uma taxa de juro extremamente baixa.

 

Para enfrentar uma quebra nas exportações, as autoridades chinesas fomentaram o crédito barato e indirectamente a consequente subida de preços, tanto das casas como dos activos financeiros e saliente-se aqui que é difícil na China ao investidor privado comprar acções de empresas cotadas. Estas estão todas na mão dos mais diversos fundos bancários e são esses que o chinês ou estrangeiro compra sem grande transparência porque não sabe ao certo o que consta do activo desses fundos que cresceram desmesuradamente. O Banco da China tem procurado obrigar os bancos a manter reservas mais elevadas relativamente aos créditos concedidos, mas, mesmo assim, muitos analistas acreditam que não é possível manter o crescimento numa base tão capitalista sem um aumento substancial dos salários da esmagadora maioria dos trabalhadores.

 

Os grandes fundos ocidentais como o “Fidelity Trust”, o “Allianz”, “Invesco”, etc. estão a sair do mercado chinês, ainda rentável. Mas por quanto tempo ainda?

 

A recente quebra do Euro em 15% veio agravar a situação, pois o mercado da zona euro é extremamente importante para os chineses, nomeadamente para os muitos homens de negócios, quadros e grandes empresários que investem nos fundos bancários e adquirem casas graças aos imensos lucros que a exportação de produtos feitos com mão de obra baratíssima lhes proporciono.

 

O Euro mais barato relativamente ao dólar torna as exportações chinesas mais caras, pois o Yuan é cotado em paridade com o dólar. Os chineses perdem competitividade no mercado europeu e não podem alargar o seu mercado interna pela via salarial para não perderem ainda mais competitividade e acrescente-se que as medidas restritivas da Alemanha e de quase todos os países da zona euro mais outros que não pertencem como a Hungria, Islândia, Eslováquia, Roménia, Bulgária, etc. dificultam ainda mais as exportações chinesas.

 

Apesar da grandeza da China, o seu verdadeiro mercado interno é reduzido, sendo um pouco superior ao da Alemanha, dado que o povo vive na miséria, pelo que tudo indica que vai haver um rebentamento da bolha de crescimento da China com o afundamento bolsista dos seus derivados, fundos de aplicações e outros produtos financeiros associado ao fim da bolha especulativa do imobiliário e a uma maior quebra nas exportações.

Os chineses possuem importantes reservas monetárias aplicadas nos EUA. Servirão para alguma coisa? Apenas para importar produtos alimentares e outros se uma parte dos trabalhadores fosse desviada para importantes obras públicas, o que limitaria o desemprego, mas não resolvia o problema da competitividade externa da sua economia. Em qualquer economia é difícil mudar de paradigma ou modelo. Apenas os japoneses o fizeram limitadamente, passando de uma economia de baixos salários para uma de alto custo de mão de obra associada a grandes investimentos no estrangeiro. Criaram a maior dívida externa do Mundo, mas detida pelos seus nacionais, quer em títulos, quer nos tais investimentos em fábricas, hotéis, etc. que proporcionam rendimentos, mas não tantos como os esperados devido à crise global.

 

A China parece não ter saída e vai entrar em crise nos próximos meses porque ninguém vê que uma intervenção estatal possa mudar seja o que for.

 


tags:

publicado por DD às 10:21
link do post | comentar | favorito

Domingo, 27 de Novembro de 2005
As Duas Faces da China
Geely3.jpg

O "luxuoso" Geely a preço de mini-carro?

As duas faces da China estão hoje presentes nos noticiários internacionais.

Na Feira Internacional do Automóvel em Frankfurt apareceram pela primeira vez três fabricantes chineses de automóveis com uma vasta gama de modelos que cobre quase todos os sectores do mercado.

 

O parceiro técnico da BMW, a empresa Brilliance, mostrou uma notável limusine, a Zhongua, em tudo semelhante aos BMW da série 300, menos no preço naturalmente. Qual a ideia da BMW? Vender aos chineses a corda em que será enforcada, como diria Lenine?

A maior fábrica chinesa, a Geely, apresentou toda uma série de viaturas desde o mais económico que pode ser vendido na maior parte dos países europeus e menos de quatro mil euros até ao Chinese Dragon um carro desportivo semelhante ao Mitsubishi Eclipse e ao Hyundai Coupé, mas por menos de metade do preço com mais de 100 cavalos de potência. E o novo gigante do automóvel chinês, a Jiangling, mostrou toda a sua palete desde o mini-carro ao portentoso todo-o-terreno.

 

Enfim, a China está pronta para encostar coreanos e japoneses à parede e conquistar os mercados europeus e norte-americano, além de outros. Os carros são bem desenhados pelos designers italianos e a engenharia das plataformas bem como os jogs de fabrico e montagem vêm dos melhores endereços europeus. E são empresas como a Porsche, Ferrari, BMW e outras que vendem a melhor tecnologia a quem queira pagar e depois com salários de 50 cêntimos do dólar à hora, sem férias nem 13º ou 14º meses, o milagre surge. Enfim, a China com salários quase 60 vezes inferiores aos alemães e 15 vezes menos que os portugueses vai, sem dúvida, conquistar os mercados do Mundo e levar a Europa do Futuro a atingir os 50 milhões de desempregados.

 

Os chineses pretendem fabricar 7 milhões de automóveis dentro de dois anos. As exportações estão a ser dificultadas por falta de capacidade de carga em navios transportadores de carros que estão todos tomados pelos fabricantes coreanos e japoneses. A Honda que fabrica na China, afretou 100 viagens da China para a Europa para transportar os seus carros feitos na China que o consumidor compra como sendo nipónico.

 

A economia chinesa cresce actualmente a 7% ao ano e já esteve a 10%. Em toda a China surge uma nova classe de empresários e quadros do business que enche os arranha-céus das grandes cidades chinesas e que formam já um mercado para o automóvel de quase 100 milhões de consumidores, menos de 10% da população de 1.3 mil milhões de almas.

Para além desta nova classe, há dois ou três proletariados miseráveis; os que recebem ordenados de 30 a 40 cêntimos do euro, os que recebem 15 a 20 cêntimos no campo e nas cidades e ainda os que milhões que nem recebem salário porque as autoridades não lhe deram o houkou, a licença de residência na área em que trabalham, poupando ao Estado despesas médicas, pensões de reforma, etc. E não podem ter filhos porque sem houkou urbano têm de mandar o filho ou filha para a aldeia a fim de frequentar uma escola rural e má qualidade.

 

HARBIN

 

Para além da exploração dos seus trabalhadores, as autoridades comunistas chinesas não se preocupam muito com o meio ambiente e, menos ainda, com a qualidade da água dita potável das populações com o saneamento básico. Daí o enorme desastre ecológico resultante da explosão numa fábrica petroquímica na área industrial da cidade de Harbin que provocou o derramamento de milhares de toneladas de benzeno que envenenaram as água do rio Shongua de onde são captadas as águas que alimentam a cidade de quase quatro milhões de habitantes da cidade mais uns cinco milhões dos arrabaldes industriais.

 

Harbin é uma grande cidade industrial da Manchúria no Norte da República Popular da China. É uma cidade fria e soturna com excepção da city cheia de grandes edifícios. A indústria é imensa aí, abrangendo siderurgias, fábricas químicas, uma grande fábrica de aviões e uma de mísseis e de muitos outros produtos. O longo Inverno com temperaturas abaixo de zero fez a tradição centenária de Harbin com os palácios e monumentos de gelo, cuja construção entretém jovens chineses de todas as idades até à chegada do curto verão.

 

Harbin é, sem dúvida, a cidade da roupa almofadada com penas de aves. Antes das novas construções, nos tempos maoistas, era cidade proibida a estrangeiros, se bem que muito do antigo é tipicamente russo, já que na cidade se verificou uma presença russa muito intensa no fim do Século XIX e início do XX.

 

O desastre de Harbin foi escondido das populações e o corte do abastecimento de água começou por ser justificado com obras de reparações no sistema. Só quando o elemento tóxico já se aproximava do Rio Amur que separa a China da Federação Russa é que foi anunciado ao público. A população de 9 milhões de habitantes começou por continuar a ingerir água tóxica, não sendo do conhecimento geral o número de mortos. Apenas foi dito que a explosão na fábrica petroquímica causou quatro mortos e sabe-se que dez mil habitantes da zona contígua foram evacuados. Por outro lado, é já sabido que muitas pessoas de idade muito avançada faleceram por falta de água para beber. Ninguém lhes levou a água que tem estado a ser distribuída nas ruas. As escolas fecharam e as pessoas com posses têm estado a sair da cidade.

 

As autoridades comunistas têm estado a desviar as atenções da população com a notícia de um tremor de terra que teria causado o desastre na fábrica e com a previsão de outro tremor de terra que deveria ter acontecido no passado dia 22 de Novembro, mas a terra não tremeu na hora prevista entre as 20 e as 22 horas, nem em qualquer outro dia ou hora posterior. Registou-se um abalo de terra na China, mas a alguns milhares de quilómetros de distância. Os tremores sentidos por muita gente resultaram de ataques colectivos de tosse devido aos químicos que empestaram a atmosfera também. O objectivo das autoridades era levar muita gente a sair da cidade, já que não possuem a capacidade para controlar e abastecer populações de milhões de pessoas e Harbin não passa de uma cidade de província.

De resto, a muitos correspondentes estrangeiros de meios de comunicação internacional não foi autorizada a ida a Harbin; os hotéis tinham ordens para dizer que não havia quartos vagos e o reforço militar e policial nas ruas não levou que alguém tivesse a coragem de receber em sua casa algum jornalista estrangeiro.

 

O governo central da China enviou grande quantidade de camiões militares com depósitos de água potável e muita tropa, incluindo tanques, pois a população tem estado muito agitada ao saber que a mancha tóxica abrange uma distância de 80 km no rio Songhua. O benzeno e o nitrobenzeno derramados são químicos transparentes e, como tal, a sua presença no rio não é visível. Mas são muito voláteis pelo que a sua inalação provoca perturbações metabólicas de carácter mortal. Com o frio que reina na zona, a volatilidade dos dois produtos químicos é menor e, como tal, tanto maior a sua toxicidade. A cidade fronteiriça russa de Chabarowski está a preparar-se para suspender o fornecimento de água à rede geral para consumo e o abastecimento dos seus 650 mil habitantes começa a ser problemático. Os russos criticam o facto de não terem sido informados do derrame que se verificou no dia 13 de Novembro.

O acidente de Harbin que confirma o velho provérbio chinês que diz: “quem se coloca contra a água e contra a vida.

 

O enorme crescimento industrial da China tem sido concretizado à custa da exploração das massas proletárias de origem rural e á custa do ambiente. Em mais de um terço da China, as chuvas são ácidas e o consumo de adubos químicos e pesticidas é quase três vezes superior ao que se verifica na Europa, o que, segundo a OCDE, terá consequências fatais no futuro, principalmente no abastecimento de água aos seus 1,3 mil milhões de habitantes. Mais de 70% dos rios chineses estão irremediavelmente poluídos, incluindo os grandes rios como o Yang Tse, o Haia e o Amarelo. Dos 27 grandes lagos da China, 25 estão perdidos como água para rega ou abastecimento devido à poluição e entre as dez cidades com o ar mais poluído do Mundo, sete estão na China. Mais de 500 cidades chinesas não possuem saneamento básico e metade da água fornecida às habitações não é tratada, tal como quase metade do lixo não é retirado nem tratado. Em 3,6 milhões de quilómetros quadrados do espaço rural, a erosão está a destruir a rentabilidade agrícola futura.

 

A China recebe milhares de toneladas de lixo americano e europeu, nomeadamente computadores deitados fora e muita outra aparelhagem doméstica e industrial, cuja desmontagem provoca também uma grave poluição do meio ambiente.

A China tem gigantescas minas de carvão que ardem há anos por já não haver meios para apagar esses fogos. Segundo a OCDE, o dióxido de carbono lançado para a atmosfera por esses fogos é tanto como o de todos os automóveis na Europa.

Enfim, a China é um perigoso caldeirão que rebentará um dia, pelo que os gananciosos empresários das centenas de milhares de deslocalizações arriscam-se a perder os seus investimentos na China. De resto, não colocam lá robots nem quaisquer máquinas automáticas, é tudo feito com muita mão-de-obra, inclusive os trabalhos com os produtos mais tóxicos.

 


tags:

publicado por DD às 00:16
link do post | comentar | favorito

mais sobre mim
pesquisar
 
Fevereiro 2023
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4

5
6
7
8
9
10
11

12
13
14
15
16
17
18

19
20
21
22
23
24
25

26
27
28


posts recentes

A Capital do Capitalismo

A Europa Concubina do Imp...

Dieter Dellinger escreve:...

A China é o maior fabrica...

Dieter Dellinger - A Bolh...

As Duas Faces da China

arquivos

Fevereiro 2023

Janeiro 2023

Agosto 2022

Julho 2022

Julho 2021

Maio 2021

Setembro 2020

Fevereiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Junho 2018

Maio 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Junho 2016

Maio 2016

Março 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

Janeiro 2007

Dezembro 2006

Novembro 2006

Outubro 2006

Setembro 2006

Março 2006

Fevereiro 2006

Dezembro 2005

Novembro 2005

Outubro 2005

Setembro 2005

Julho 2005

Junho 2004

Maio 2004

tags

todas as tags

links
subscrever feeds